Cap. 4 - O Monastério

6 1 0
                                    

Era impossível descrever com exatidão a beleza daquele lugar e também dava para compreender a paixão que Décio tinha por seu Monastério. Uma áurea dourada cobria toda a extensão do prado até onde dava para ver. Uma arquitetura gigantesca jazia ao lado de uma vila, não dava para definir de verdade seu tamanho de onde estávamos, mas com certeza, seria a maior construção que já entrei. 

– É real? – perguntei, maravilhada.

Décio riu, segurando minha cintura ao seu lado. Quando chegamos em Yeelen Forow já passava da hora do almoço, o sol quase alcançando o horizonte, permitindo que a luz deixasse o lugar ainda mais mágico. Ele me conduziu pela estrada de pedras geométricas, mas que estavam colocadas aleatoriamente, eu acho. Cercas com lamparinas seguiam todo o caminho até os portões da cidade, resguardando para que sempre houvesse luz.

Uma agitação tomou meu coração. O que aconteceria comigo? Porque eu tinha vindo para cá para ser estudada, para tirarem a magia, mas agora que ela era parte da minha essência, o que seria? 

Diminui os passos, temerosa de continuar e acabar encontrando um poço da qual não pudesse mais voltar.

– Você está bem? – Décio percebeu minha hesitação de continuar andando.

– Não sei – suspirei, a sinceridade estampada na minha voz – não acho que eles vão aceitar facilmente que não vou entregar a magia.

– Não vou deixar nada acontecer com você – um riso sem graça acabou escapando, me fazendo olhar para ele confusa – acredito que nem você vá deixar mas, aqui não é assim, são pessoas boas, apesar de às vezes serem muito determinadas a encontrar respostas.

Senti a magia correndo por debaixo da pele, me causando um arrepio. Não era como antes, que corrompia meus pensamentos, trazendo a parte ruim. Mas era poderoso, muito poderoso e pertencia a mim.

– Tem razão, vamos.

Tomei a iniciativa na caminhada e em pouco tempo chegamos nos portões da vila. Dois pilares seguravam uma estrutura de madeira desenhada grosseiramente com padrões de coração, espada e flores. Logo de início, fomos recebidos com uma enxurrada de gatos, brancos, pretos, gordos e miúdos, de todas as raças e tamanhos. 

Não dava para andar sem tropeçar num desses bichinhos, arrancando risos e alguns grunhidos de Décio. Os aldeões usavam túnicas parecidas com as dele, porém com a qualidade bem inferior. Algumas mulheres cobriam toda a cabeça, deixando só os olhos enigmáticos à mostra. Os comerciantes espantaram os gatos com gritos e tapas no ar, fazendo os bichanos correrem para outras direções.

As casas da vila eram diferentes das outras cidades que passamos. Enquanto as outras esbanjavam luxo ou resistência, essa exibia praticidade e muita cor, construídas sobre plataformas altas de madeira maciça que Décio explicou serem para evitar que a água do Rio Sanu causasse destruições das moradias nos períodos de chuva. Os gatos ganhavam casas embaixo da plataforma e as pessoas ficavam a salvo.

Cruzamos a vila sem problemas nem intervenções, até os portões do Monastério, que ficava um pouco após à vila, margeado de plantações de pêssegos. Décio soltou minha mão e ficou em frente à grande porta de ferro. Proferiu palavras colocando uma chave do tamanho da sua mão, girando-a magicamente. Engrenagem reclamaram do esforço de abrir caminho, com cliques altos de encaixe e, um tempo considerável depois, uma brecha deixou visível o pátio do Monastério.

Curiosa, tentei espreitar o máximo que pude antes de ver realmente como era. Enormes pilares de mármore branco e tijolos jaziam por todo o lugar, três torres tão altas que alcançariam as nuvens facilmente. Alguns monges passavam por nós, cabeça baixa e colares nas mãos, recitando um cântico que parecia meio mórbido. 

Mares ProfundosOnde histórias criam vida. Descubra agora