Apartamento 643

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Assim que saí do táxi, percebi que estava em outro mundo.

O prédio à minha frente é diferente de qualquer outro que eu já tivesse visto. As paredes se estendiam como muralhas, a iluminação vindo de dentro transformava tudo mais sofisticado e elegante.

As plantas ao redor da fonte são variadas, e as que eu consegui identificar foram orquídeas e amarílis brancas. Uma sensação de leveza toma conta do meu corpo, o aroma de carvalho e grama molhada é contagiante no ar.

Quero morar no lado de fora do hotel, será que é possível eu ficar encantada com esse lugar se ainda nem entrei?

A fonte tem uma estátua de uma mulher sentada seminua com um olhar distante, parece pensativa, enquanto a água espirrando ao seu redor torna sua presença majestosa.

O chão é de ladrilho brilhante e consigo ver que há mais do jardim aos fundos onde as flores e árvores se estendem.

Assim que entro no Lobby fiquei imprecionada com mais beleza. O piso azulado que quando pisamos parece que vai se partir como gelo. Embora seja forte o suficiente para suportar um imenso tanque de carpas.

Vou até o balcão onde a moça muito bem vestida com um terno azul escuro me entrega as chaves. Um homem de cartola tenta me ajudar com as minhas malas, mas recuso educadamente.

Tenho vontade de passar as mãos pelas minhas roupas para ver se estão abarrotadas, se meu cabelo está desgrenhado ou se meus dentes estão brancos o suficiente. É realmente nítido que não pertenço a esse lugar.

Entrei no elevador ainda admirada com o prédio. Mal posso esperar para ver o apartamento e sinto que tenho um pouquinho de esperança, só um pouquinho, de que tudo vai dar certo mesmo.

"Segura para mim por favor" Escutei vindo de longe, as portas já estavam fechando mas consegui segurar à tempo.

- Obrigado - Um jovem, acredito que com uns 22 ou 23 anos entrou. Com uma jaqueta jeans clara, cabelo castanho escuro bem cortado não o deixava parecer desleixado, mas sim muito fofo.

Posso afirmar que ele é um dos homens mais lindos que já vi na vida. Se tivesse que adivinhar qual seria sua profissão, provavelmente diria modelo. É como se alguém tivesse que pagar para ele ser tão bonito.

Devolvi o sorriso amistoso enquanto o elevador subia.

- Quinto andar também? - Sua voz masculina transmitia ternura conforme as palavras saím.

- Sim - Segurei a mala e a mochila entre os pés - De que apartamento você é?

- Bom, o corredor é isolado, para dar mais espaço para a janela, acho que quando projetaram aquele espaço disseram "Cara vamos ocupar o máximo possivel para não ter mais espaço para colocar mais nada por aqui" - Ele sorri timidamente o que me fez sorrir junto - Desculpe fujo do assunto as vezes, só tem quatro apartamentos próximos nesse andar. O de Arthur, James, meu e o seu acredito.

Ele fala muito, não achei ruim, é muito difícil de encontrar pessoas que se abrem de verdade hoje em dia. E ele fala bastante, me faz lembrar um pouco da minha tia Isabell, apesar de ser um pecado compará-la com ele.

- Foi mal, meu nome é Paco Andráde do 643 - Ele estende uma mão e aperto rapidamente.

- Emma Bromley do 642 muito prazer.

- O prazer é meu. Cara, os rapazes não vão acreditar quando souberem que o 642 não está vazio. A gente jura que ouviu algo rosnar lá dentro - Ele ri e o elevador abre.

- Rosnar? - Pergunto preocupada.

Percebendo imadiatamente o erro que cometeu, ele muda sua cara para "Eu não devia ter dito isso" e levantou as mãos constrangido.

- Nada demais, quer dizer se tivesse alguma coisa lá dentro já estaria morto certo? - Suas sobrancelhas sobem e descem, entregando sua confusão - Não que você vá encontrar um cadáver nem nada disso mas...

- Tudo bem Paco - Estendo a mão fazendo ele parar de falar porque se continuar ele vai ter um troço.

- As vezes eu falo besteira, para me redimir carrego suas malas.

- Cavalheirismo, obrigado - Saio do caminho para que ele possa pegar as malas que apesar de não estarem tão pessadas pude notar as mãos de Paco, grandes e cheias de veias. Adorava ver isso nos garotos da faculdade. E olha só, gosto disso hoje em dia também.

Saímos do elevador e me perdi na beleza através da janela do hall. Piso creme, paredes num tom vermelho e branco imitando o coro dos sofás. A vista de fora deve ser incrível também.

- Faz compensar a falta de mais apartamentos não é mesmo?

- Espetácular!

Continuamos entrando no único corredor onde quatro portas se estendiam na mesma distancia.

Rosa. Minha porta é rosa.

- Irônico eu diria, universo sexista - Paco ri.

Você já conheceu uma pessoa que faz piadas sem graça e você revira os olhos quando a mesma ri da própria piada? Poisé, não tenho vontade de fazer isso com ele.

Ele é tão gentil e engraçadinho que te faz ter vontade de colocar em um pote, ou em um quarto nas duas opções ele acaba perdendo o fôlego. Ops, pensamentos intrusivos.

- Pode deixar aqui mesmo, obrigado Paco.

- Imagina. - Ele sorri e seus olhos quase se fecham ao fazê-lo. Dava para tirar uma foto. Porque eu quero tirar uma foto?

- Bom..eu vou - Apontei para a porta.

- É eu também - Ele se vira - Prazer te conhecer Emma.

Quando ele entra em seu apartamento percebi que estava prendendo a respiração.

Faz tempo que eu não paquero. Isso ainda é chamado de paquera, certo?

No ensino médio não precisava me preocupar com essas coisas porque eu só tinha olhos para o Will, e quando ele se interessou por mim, foi mágico.

Não posso ficar me remoendo agora. Tenho que pelo menos entrar no apartamento primeiro.

Abri aporta rosa bregamente enfeitada com detalhes dourados.

O interior é surpreendente de tão grande. Há uma ampla sala de estar com um espaçoso sofá redondo, a televisão parece tela de cinema, ao lado uma lareira moderna que liga com um controle remoto.

Mais á frente a varanda tem vista direta para o jardim que tinha notado na entrada. Uma cadeira de balanço e mesa de chá são convidativos para tardes de leituras ao sol ou tomar um delicioso café da manhã.

A cozinha era embutida com a pia o fogão e a bancada e um balcão no centro. Me imaginei fazendo jantares para Janine e Laila e biscoitos para Ethan.

Quando abri a geladeira estava lotada de mantimentos e congelados. Tia Isabell pediu que uma menina viesse aqui toda semana para limpar e reabastecer a geladeira e os armários.

Não posso me acostumar a morar aqui. Nada disso é meu, mas ainda sim, é tão impressionante ter tudo isso à minha disposição, e tudo que meu cérebro consegue pensar é:

Isso tudo é meu! Isso tudo é para mim!

E chegando no quarto é ainda mais difícil tentar convencer as vozes na minha cabeça a parar.

É como se a cama redonda com lençóis azuis macios estivesse me chamando e não pude resistir, me joguei de costas agitando os braços como "anjinho na neve"

Com certeza, isso tudo é meu!

Apartamento 642 - Recomeços Moram Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora