Capítulo 2

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⠀⠀Louis gemeu, erguendo-se. Sua visão se desvanecia, seu corpo doía por todos os lados. Ele se forçou a se concentrar.

⠀⠀A primeira coisa que viu foi o corpo de Tom.

⠀⠀Louis não precisou verificar o pulso para saber que ele estava morto. Havia um ferimento aberto na cabeça dele. Os olhos azuis de Tom estavam sem vida, ainda arregalados de medo.

⠀⠀A bile subiu em sua garganta. Ele conhecia Tom há apenas alguns dias, mas ainda era incrivelmente perturbador ver o cara que ele estava beijando há algumas horas morto. Cristo, ele não tinha nem vinte e cinco anos ainda.

⠀⠀Afastando o olhar, Louis olhou ao redor. Eles não estavam perdendo altitude; isso era óbvio. Então, haviam pousado. Ou caído. Havia luz suficiente para enxergar, o que significava que ainda era dia, onde quer que tivessem aterrissado. Ele tentou calcular onde eles haviam caído, com base no tempo de voo, mas não conseguiu. Tudo bem, não era importante.

⠀⠀Seu olhar finalmente recaiu sobre o cara do outro lado do corredor. O cara – Harry, se Louis se lembrava corretamente – estava chorando, sacudindo a esposa e implorando para que ela acordasse.

⠀⠀Louis olhou para ele, vagamente surpreso com a transformação. O homem altivo e perfeito que o encarava com desprezo já não existia mais. Esse cara mal se parecia com ele, seu cabelo castanho encaracolado era a única coisa que tinham em comum.

⠀⠀Tentando sair de seus pensamentos atordoados – será que havia batido a cabeça? –, Louis se forçou a se mexer. Soltou o cinto de segurança e se levantou, ignorando a dor aguda nas costelas.

⠀⠀O avião estava silencioso. Silencioso demais. Ele esperava que houvesse pânico e gritos de pessoas, mas não havia nada. Quando Louis abriu a divisória que separava a cabine da primeira classe da classe econômica, descobriu o motivo: parte do avião havia desaparecido.

⠀⠀Louis olhou para o céu nublado e depois para a praia próxima. Parecia que o avião, o que havia sobrado dele, havia caído nas águas rasas de alguma ilha, longe o suficiente da tempestade em que o avião havia sido pego. Ou talvez tenha se passado horas. Há quanto tempo ele estava inconsciente?

⠀⠀Não havia moradores locais. Não se viam casas em lugar algum. Nenhum sinal de que havia alguém além deles na ilha. Provavelmente desabitada, então. Onde quer que a outra metade do avião estivesse, ele não conseguia vê-la. Era possível que ela já tivesse sido engolida pelo oceano. Por falar em oceano, parecia que a maré estaria subindo em breve.

⠀⠀Ele voltou para dentro e foi para a cabine do piloto. Ele não tinha muita esperança de que alguém dentro dela estivesse vivo, e suas expectativas se mostraram corretas quando ele encontrou os corpos do piloto e do copiloto.

⠀⠀Suspirando, Louis os carregou para fora do avião, um a um, e depois levou o corpo de Tom. Por fim, só restava o fanático. Ele e sua esposa morta.

⠀⠀"Vamos, carregue-a para fora", disse Louis com rispidez. "Não podemos deixar os corpos aqui. O avião vai inundar quando a maré subir."

⠀⠀O homem levantou a cabeça e piscou para ele atordoado. Seus olhos arregalados eram muito verdes. Estranho. Louis achava que eles eram azuis.

⠀⠀Ele franziu a testa e acenou com a mão na frente do rosto do rapaz. "Você bateu a cabeça? Está entendendo o que estou dizendo? Vamos lá, a maré está começando a subir. Não há tempo a perder. Leve o corpo para fora."

⠀⠀"O corpo", repetiu o homem, parecendo perdido. "Ela não está morta. Só está inconsciente."

⠀⠀Louis desviou o olhar, com a mandíbula cerrada. Ele não queria sentir pena daquele idiota intolerante, mas era impossível não sentir. "Ela está morta", disse ele, um pouco mais suave, olhando para o ângulo não natural do pescoço dela. Ele pressionou os dedos na garganta dela, só para ter certeza, e não ficou surpreso por não encontrar o pulso. "Sinto muito por sua perda, mas temos que ir. Você não pode ficar aqui. Leve-a para fora."

between hatred and desire - l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora