Capítulo 8

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⠀⠀Louis nunca foi uma pessoa particularmente religiosa. Mas ele pensou que, se Deus existisse, a chuva pararia pela manhã e ele conseguiria escapar do abrigo.

⠀⠀Se Deus existisse, claramente não dava a mínima para ele.

⠀⠀Louis acordou na manhã seguinte com o som monótono da chuva.

⠀⠀Suspirou e olhou para o cara espalhado sobre o seu peito. As frestas no abrigo deixavam entrar luz suficiente para enxergar.

⠀⠀Ele encarou o rosto enganosamente doce de Harry, os lábios entreabertos que roçavam contra seu peito a cada respiração, os longos cílios e aquela pele lisa e pálida.

⠀⠀Louis desviou o olhar e empurrou o cara para longe.

⠀⠀Os xingamentos confusos teriam sido engraçados se Louis não estivesse de tão mau humor.

⠀⠀Essa tinha sido uma péssima ideia. O que ele estava pensando?

⠀⠀"Idiota", resmungou Harry com sono.

⠀⠀Louis se levantou e saiu nu para fora. Ele urinou, escovou os dentes e depois se lavou na chuva morna, olhando para o céu cinzento.

⠀⠀Ele se sentiu tentado a ficar do lado de fora, dane-se a chuva, mas, por mais quente que estivesse, ficar molhado o dia todo era uma má ideia. Eles não podiam se dar ao luxo de ficar doentes. Não tinham nenhum remédio. Também estavam ficando sem pasta de dente e sal, e seus cobertores estavam se tornando insalubres, mesmo sem estarem cobertos de porra.

⠀⠀Louis passou a mão no rosto, com os ombros caídos.

⠀⠀Tudo bem. O que estava feito estava feito. Não adiantava chorar pelo leite derramado. A noite passada tinha sido um erro, mas ele não o repetiria. Ele só estava frustrado. No limite. Desde que mantivesse seu pau fora daquele merdinha reprimido, tudo ficaria bem. Um quase-sexo imprudente não precisava mudar nada.

⠀⠀Sentindo-se um pouco melhor, Louis voltou ao abrigo.

⠀⠀Harry estava deitado de barriga para baixo, dormindo tranquilamente na cama de Louis. Ele ainda estava nu.

⠀⠀A mandíbula de Louis se cerrou, sua calma recém-descoberta evaporando em um instante. Ele desviou os olhos daquele bumbum empinado e deu um chute na canela de Harry. "Saia da minha cama."

⠀⠀Harry apenas murmurou algo sonolento e o ignorou.

⠀⠀Os olhos de Louis voltaram para aquela bunda macia e rechonchuda. Ele era apenas um homem.

⠀⠀Desviando o olhar novamente, Louis se inclinou e rosnou no ouvido de Harry: "Saia. Da minha. Cama. Ou vou encarar isso como um convite para comer você."

⠀⠀Harry se enrijeceu antes de se sentar tão rápido que suas cabeças quase se chocaram.

⠀⠀Ele olhou para Louis com cara de sono, passando a mão pelo cabelo. "Vá se foder", disse ele, com as bochechas rosadas. "Já é ruim o suficiente você ter me molestado ontem à noite. Se você acha que eu vou deixar você fazer isso..." Seu rubor se intensificou e ele fez uma careta, incapaz de encontrar os olhos de Louis.

⠀⠀Bufando, Louis se esticou na cama. Ele observou, com os olhos semicerrados, Harry sentado ali, parecendo envergonhado e perdido. Louis quase sentiu pena dele – o cara estava claramente enlouquecendo com o que havia acontecido na noite passada –, mas não gostava de Harry o suficiente para sentir verdadeira empatia por ele. Na maioria das vezes, Harry apenas o irritava e o excitava, o que só o irritava ainda mais. Mas, caramba, ele era adorável. Seu cabelo tinha crescido do corte curto e agora era uma bagunça de cachos castanhos claros, e seus lábios carnudos estavam praticamente pedindo para serem beijados ou ter um pau duro os esticando. E aqueles cílios ridículos–

between hatred and desire - l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora