Capítulo 2 Castelo de horrores

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Enquanto isso, não muito longe do reformatório, Lauren se aproximava de sua praticamente sentença de morte. Ela sabia que cedo ou tarde os pais cumpririam as promessas de interna-la em um canto qualquer se ela não parasse de dar problemas. Acontece que ser problemática era inerente a Lauren, ela não conseguia evitar. O pai, Michael Jauregui, era governador do estado de Minas Gerais, e a mãe, Clara Morgado Jauregui, era a esposa e primeira dama perfeita. Seus irmãos, Taylor e Chris, eram também filhos perfeitos. Já Lauren... bem, ela detestava essa coisa toda. Conseguira ficar longe das mídias adotando apenas o sobrenome da mãe, e odiava ser associada a politicagem do pai. Odiava também ter sido obrigada a se mudar de volta para Minas Gerais, depois de passar toda a sua adolescência na casa dos avós maternos no Rio.

Mas ela sabia que não estava em posição de discutir. Ela tinha sido pega transando com a secretária do pai, numa sala de reuniões da Câmara de Deputados do Rio de Janeiro. Com sorte, foi pega por um aliado do seu pai que se contentou a contar para ele, em vez de espalhar a notícia na mídia. A secretária tinha sido demitida, mas não tinha nada que Lauren pudesse fazer a respeito. Ela já tinha se safado de ter sido fotografada extremamente bêbada na saída de uma balada lgbtqiapn+, não se safaria dessa. Os pais de Lauren não eram homofóbicos, muito pelo contrário, seu pai inclusive tivera experiências bem interessantes quando era um jovem adulto cheio de hormônios desbravando a faculdade de Ciências Políticas, mas acontece é que no Brasil isso não caía muito bem para a imagem e reputação de um deputado e governador.

Lauren estava farta de toda aquela farsa e não suportava a hipocrisia com que era obrigada a lidar. Mas o pai era irredutível: "Você vai acabar me fazendo perder apoio popular, Lauren, e você sabe que não posso correr esse risco. Esse internato não é tão ruim quanto parece, o crápula do Alejandro se assegurou disso, e, por pior que ele seja, não toleraria ser diretor de um colégio cheio de delinquentes. Você vai pra lá e não tem discussão. Dê graças a Deus por eu não estar te trancando em um convento, você sabe que eu tenho poder o suficiente pra isso." Só lembrar daquelas palavras já fazia sentir um calafrio, ela não duvidava do amor do pai por ela, mas duvidava menos do amor do pai pelo poder, dinheiro e prestígio que sua carreira o proporcionava.

- Ei, velhote, falta muito? Eu não aguento mais olhar pra essa paisagem entediante de montanhas e vacas. Além do mais, tô ficando com fome.

- Falta pouco, filha, estamos quase chegando. – a voz da mãe se quebrara no final da frase, ela já tinha chorado 57 vezes desde que tinham saído de casa. – E não fala assim com seu pai, eu sei que você não está feliz com isso, eu tampouco estou, mas vai ser por pouco tempo, prometo. É só até os aliados do seu pai se acalmarem e pararem de dizer que ele tem que domar a fera que chama de filha.

Ela sabia que nada daquilo tinha sido ideia da mãe, mas não se comovia com suas lágrimas porque achava que ela devia protege-la e impedir o pai de cometer essas atrocidades. Antes que Lauren pudesse formular uma resposta, viu surgir logo a frente a silhueta do Colégio, o que faz com que seu coração aperte.

O Colégio Interno Aurora é uma imponente estrutura de cinco ou seis andares, Lauren não conseguia dizer com precisão por causa da irregularidade nas fileiras de janelas, com uma arquitetura gótica que exalava uma atmosfera de opressão e mistério. As paredes externas eram feitas de pedras cinza escura, desgastadas pelo tempo, mas ainda robustas, dando ao edifício a aparência de uma fortaleza impenetrável. As gárgulas, esculpidas em pedra com expressões grotescas, estavam espalhadas por todos os portões de ferro forjado e pelos muros altos que cercavam o reformatório, observando de cima com seus olhos vazios. As gárgulas pareciam estar em movimento, como se estivessem prestes a descer e tomar vida a qualquer momento, reforçando o caráter sombrio e ameaçador do lugar. Parecia até que elas seguiam o movimento de quem quer que tentasse entrar ou sair dos grandes portões que separava o reformatório do mundo exterior.

Under  My Skin (Sob a minha pele) #camrenOnde histórias criam vida. Descubra agora