Solidão e Problemas

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Outubro de 2017

Arthur ainda estava de castigo e só conseguia ver seus amigos uma vez por mês.  Sua mãe, Matilde, permanecia inflexível quanto às visitas mensais ao interior, permitindo que ele visse os amigos apenas uma vez por mês. Essa era uma concessão mínima, possível apenas por insistência de seu pai, Anthony. Matilde, por sua vez, gostaria que ele nunca mais voltasse para lá.

Arthur refletia sobre tudo isso no silêncio de seu quarto. Era difícil para ele, pois, ao contrário de Laura, que fazia amigos facilmente no condomínio onde moravam, ele sempre foi tímido. Quando criança, ele não tinha muitos amigos além dos que fez no interior. Vinícius era uma exceção, um amigo que fez ainda na infância e que, mesmo após conhecer Alana, Lara e Bruno, continuou sendo muito próximo.

Laura, sua irmã de 7 anos, também foi afetada por essa nova regra, já que estava acostumada a ir para a casa da avó quase todo fim de semana. Ela sentia falta das praças, dos amigos e, principalmente, da avó.

Sentado na cama numa noite, Arthur refletia sobre como sua vida havia mudado. Ele se lembrava de como Vinícius fora seu único amigo durante uma época em que se sentia solitário. Agora, vendo os amigos do interior tão raramente, ele começava a se lembrar daquela solidão. Mesmo depois de fazer amigos no interior, ele e Vinícius continuaram próximos. Vinícius, que se assumiu gay a um ano atrás, aos 14 anos, era o oposto de Arthur: um autêntico garoto da cidade, preferindo o shopping ao parque, mas ainda assim, eles se completavam.

No entanto, Matilde não aceitava essa amizade também.Ela agia com preconceito, especialmente depois de descobrir que Vinícius era gay e que sua família seguia a religião de matriz africana, umbanda. Isso culminou em uma discussão acalorada na reunião de condomínio, onde Matilde foi chamada de intolerante religiosa e homofóbica. Anthony ficou constrangido com a situação, e Vinícius e sua família ameaçaram denunciar Matilde à polícia. Apesar de tudo, Arthur continuava amigo de Vinícius, mas evitava discussões com a mãe para não aumentar seu castigo.

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Na manhã seguinte, Arthur e Vinícius caminharam juntos para a escola, como de costume. Eles riam e brincavam, tentando deixar de lado as tensões familiares. Mas Arthur notou que Vinícius estava tenso.

— Ei, está tudo bem? Você parece meio... tenso hoje.

— Só... cansado de sempre ter que lidar com algumas pessoas.

Arthur não teve tempo de perguntar mais nada, pois, ao virar a esquina da escola, eles deram de cara com um grupo de três garotos de outra turma. Arthur sentiu o corpo de Vinícius enrijecer ao seu lado, e os três garotos começaram a zombar dele com piadas homofóbicas Arthur, revoltado, se colocou na frente dele, dizendo firme:

— Deixem ele em paz!

Os garotos riram e um deles provocou:

— E o que você vai fazer, hein? Vocês são um casalzinho agora?

Antes que Arthur pudesse responder, outro colega, João, se aproximou e também se posicionou ao lado de Vinícius.

— Vocês não têm nada melhor pra fazer? — disse João, com firmeza.

O que era uma simples troca de provocações, se transformou em uma briga de socos. A confusão logo chamou a atenção de outros alunos e professores, que intervieram para separar os meninos. Os seis foram levados à diretoria, onde os pais foram chamados.

— Arthur, muito obrigado por me defender, você é mesmo um amigo incrível — disse Vinícius enquanto esperavam os pais saírem da diretoria, e o abraçou.

— Vini, você é meu amigo mais antigo, eu nunca deixaria nada te acontecer. Acho que agora aqueles caras vão te deixar em paz, mas se não deixarem, me avisa — respondeu Arthur, ainda abraçado ao amigo.

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