Mudanças

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Janeiro de 2018

Arthur estava sentado na sala de estar, concentrado em revisar suas anotações de matemática. Aos 16 anos, ele já estava bem alto, com cerca de 1,80m, o que o fazia sobressair em qualquer ambiente. Seu cabelo preto liso estava perfeitamente penteado, como sempre, e seus olhos escuros, quase pretos, estavam fixos nas anotações. A pele morena, com um tom bronzeado natural, destacava ainda mais seus traços marcantes e o sorriso, que mesmo naquele momento de concentração, ainda carregava um charme discreto.

Laura, sua irmã mais nova, estava no chão, distraída com seu caderno de desenhos, rabiscando com lápis coloridos. A paz do ambiente foi interrompida quando Matilde entrou na sala, sua expressão fechada demonstrando clara desaprovação.

- Laura - chamou Matilde, sua voz firme.

Laura hesitou antes de levantar os olhos para a mãe, que segurava uma pequena caixa nas mãos.

- O que é isso? - perguntou Matilde, mostrando os brincos que segurava. Eram delicados, brilhantes, exatamente o tipo de coisa que Laura adoraria.

A pequena mordeu o lábio, evitando o olhar da mãe.

- Eu... eu furei as orelhas, mamãe.

- O quê? - a voz de Matilde subiu de tom, incrédula. - Você está possuída, menina? Desde quando acha que tem idade para tomar esse tipo de decisão sozinha?

Laura recuou um passo, mas antes que ela pudesse responder, Arthur se levantou, sua altura impondo-se entre as duas.

- Mãe, por favor, calma - Arthur interveio, tentando apaziguar a situação. - São só brincos. Todas as meninas da escola dela usam. Ela só quis ser como as outras. E fui eu que levei Laura para furar as orelhas.

Matilde lançou um olhar severo para o filho, seus olhos cheios de incredulidade.

- Você levou sua irmã para fazer isso? Isso é influência dos seus amigos! Primeiro você, agora ela. Onde já se viu, criança de oito anos usando brincos? Isso não é coisa de Deus!

- Ela só quer ser como as outras crianças - insistiu Arthur, sua voz mantendo a calma. - Não há mal nenhum nisso.

Matilde apertou os lábios, claramente frustrada.

- Você não entende, Arthur. Esse tipo de comportamento só afasta as crianças de Deus. E você, como irmão mais velho, deveria ensinar Laura o que é certo, não encorajá-la a se rebelar.

Arthur respirou fundo, tentando conter a frustração.

- Não estou encorajando rebeldia, mãe. Só estou defendendo o direito dela de fazer escolhas simples, assim como defendo o meu.

Matilde suspirou profundamente, o silêncio pesado preenchendo a sala. Arthur podia sentir a tensão no ar, a mesma tensão que vinha crescendo entre eles há meses, tornando a convivência com sua mãe cada vez mais difícil.

- Vamos, Laura - disse Matilde finalmente, pegando a mão da filha. - Vamos tirar esses brincos antes que você se machuque.

Arthur observou enquanto as duas saíam da sala, sentindo um nó se formar em seu estômago. Ele sabia que a relação com sua mãe estava se deteriorando, mas sentia-se impotente para consertá-la. Qualquer tentativa de diálogo parecia terminar em críticas ou discussões.

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Nos dias seguintes, Arthur se refugiou cada vez mais nas conversas com Alana, Bruno e Lara. Alana era sua maior confidente; ele simplesmente não conseguia passar um dia sem falar com ela. Ela o ajudava a estudar português, e em troca, ele a auxiliava com matemática. As horas que passavam juntos, mesmo que virtualmente, eram as únicas em que ele se sentia verdadeiramente compreendido e apoiado.

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