Capítulo 4

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⠀⠀Os dias se arrastavam.

⠀⠀Louis havia explorado completamente a pequena ilha, então agora ele não tinha nada a fazer além de observar o horizonte vazio.

⠀⠀Era um tédio entorpecente. Em casa, os negócios o mantinham tão ocupado que Louis tinha pouco tempo para dormir, e ele não estava acostumado a não fazer nada.

Pelo menos o outro habitante da ilha estava lhe proporcionando uma pausa no tédio. Depois do confronto na praia, Harry estava... melhor. O cara ainda era muito reservado, mas pelo menos não andava mais como um fantasma. Ele não tentava mais provocar Louis para que ele o espancasse. Começou a comer com Louis, embora ele fizesse birra por algum motivo sem sentido algumas vezes por dia, antes de sair amuado como uma criança crescida demais. Aparentemente, não bastava o fato de Harry ser um fanático, ele também era um chorão. Ele se queixava e reclamava de quase tudo, mas Louis não se importava. Era quase um alívio. Confrontar era melhor do que ficar deprimido. Sem mencionar que os ataques de raiva de Harry eram de certa forma divertidos, e entretenimento era algo que estava faltando na ilha. As baterias de seus laptops haviam acabado há muito tempo, assim como os telefones e as baterias de energia, de modo que Louis se via cada vez mais inquieto, quase ansiando pelo confronto inevitável todos os dias.

⠀⠀"Estou cansado de peixe", disse Harry com ressentimento, olhando para o peixe em seu prato. "Ele mal é comestível."

⠀⠀Louis se encostou no tronco da palmeira e pegou seu peixe. Estava um pouco queimado, como sempre acontecia. Os peixes eram abundantes na ilha, mas eram pequenos e ossudos. E sem graça. "Nunca tive a pretensão de ser um gênio da culinária. Sou um homem de negócios, não um escoteiro. Se não gostar, fique à vontade para cozinhar você mesmo. Se alimentar. Um conceito alienígena, não é?"

⠀⠀Harry lhe lançou um olhar de reprovação, fazendo beicinho. Ele era a única pessoa conhecida de Louis que conseguia fazer beicinho ferozmente. Era bizarro. Também lhe dava vontade de meter o pau naquela boca amuada, só para calá-lo.

⠀⠀Pois é. Enfim.

⠀⠀"Quantos anos você tem?" disse Louis. "Você deixaria uma criança de cinco anos orgulhosa com suas birras."

⠀⠀Harry olhou para ele. "Quero que você saiba que tenho trinta e dois anos."

⠀⠀Louis o encarou, genuinamente surpreso. Harry não parecia ter trinta e poucos anos. Sua pele ainda tinha o brilho saudável da juventude, perfeita e suave, sem uma única ruga no rosto. Ele estava ótimo. Louis estava irritado consigo mesmo por ter notado isso, mas ele era um homem gay saudável com olhos funcionais, e Harry era um cara muito atraente, com um corpo tonificado de surfista, um rosto bonito e lábios carnudos e bonitos que praticamente imploravam por...

⠀⠀"Você parece mais jovem", disse Louis, desviando o olhar. " Pensei que sua esposa tivesse roubado o berço."

⠀⠀A expressão de Harry se fechou. "Ela era oito anos mais velha do que eu", disse ele, com a voz sem tom, e depois se afastou. Dessa vez, não estava de mau humor. Apenas triste.


***


⠀⠀Era a noite do vigésimo primeiro dia deles na ilha quando Harry disse: "Ninguém está vindo, certo?"

⠀⠀Louis levantou o olhar de seu peixe – francamente, a essa altura, ele estava tão enjoado de peixe quanto Harry – e encontrou os olhos do outro homem.

⠀⠀Eles se olharam por cima do fogo enquanto os grilos cantavam na noite.

⠀⠀Ninguém está vindo.

⠀⠀Isso era algo em que ele estava se esforçando para não pensar, mas era inegável que as pessoas deveriam ter levado menos tempo para encontrá-los. Talvez algo tivesse dado errado com o sistema de comunicação do avião e as equipes de busca e resgate não tivessem ideia de onde procurar. O Oceano Pacífico era enorme, e quem sabia o quanto a tempestade havia alterado a trajetória de voo do avião?

⠀⠀Ou talvez eles tivessem encontrado a outra parte do avião, parecia que a aeronave havia sido despedaçado no ar. Era possível que os outros destroços tivessem ido parar a uma grande distância de onde eles estavam e já tivessem sido encontrados – e as pessoas tivessem parado de procurar, pensando que todos estavam mortos.

⠀⠀Louis se afastou de Harry e caminhou até seus poucos suprimentos. Seu olhar parou no pedaço de pano que continha o que ele estava cuidadosamente evitando pensar: as sementes de tomate que ele havia guardado do único tomate que pegou no avião.

⠀⠀Ele desembrulhou o pano e olhou para as pequenas sementes, com o estômago revirado em um nó desconfortável. Ele as havia guardado por precaução. Ele realmente não imaginava que eles precisariam delas algum dia.

⠀⠀"Ainda há uma chance", Louis se ouviu dizer, colocando as sementes de volta no lugar. "Mesmo que eles parem de nos procurar, talvez alguma nave passe perto o suficiente para nos ver." Suas palavras soaram pouco convincentes, mesmo para seus próprios ouvidos. Nas três semanas em que ficaram presos ali, eles não tinham visto um único navio, nem mesmo à distância. A ilha estava claramente longe das rotas usuais de navios.

⠀⠀A mandíbula de Harry se cerrou. Ele fez um breve aceno de cabeça e desviou o olhar.

⠀⠀Era a primeira vez que Harry não levava seu cobertor para dormir na outra extremidade da ilha. Ele se esticou a apenas alguns metros de distância e fechou os olhos.

⠀⠀Depois de apagar o fogo, Louis se deitou em seu próprio cobertor. Enfiando o travesseiro sob a cabeça, ele olhou para o céu noturno. As estrelas brilhavam lindamente no alto, e ele pensou em como algumas impressões eram enganosas. As estrelas estavam a bilhões de quilômetros de distância umas das outras, por mais próximas que parecessem no céu.

⠀⠀Ele não conseguiu dormir por um longo tempo e sabia que Harry também não estava dormindo.

⠀⠀Nenhum dos dois disse nada.

⠀⠀Não havia nada a dizer.

⠀⠀Ninguém está vindo, certo?

⠀⠀Ele plantaria as sementes amanhã.




between hatred and desire - l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora