Meu velho e confiável Jetta é o meu bebê. Os bancos têm rasgos no couro, no porta-copos cabe perfeitamente uma garrafa térmica de café, e o interior dele cheira, inexplicavelmente, a giz de cera. Costumava ser o carro do meu irmão mais velho, e, quando ele me deu, colocou um adesivo de trevo de quatro folhas na marcha para me desejar boa sorte.
A contribuição da minha mãe foi acrescentar uma medalha de São Cristóvão, o padroeiro dos viajantes, que agora está pendurado no espelho retrovisor e balança indefeso cada vez que faço uma curva fechada.
Jogo minha mochila no banco do carona e vou para o do motorista. Por um segundo só fico ali segurando meu botton de basquete, olhando para essa pessoa que não parece mais comigo. Então ligo o carro, coloco o cinto de segurança e plugo meu celular no cabo auxiliar ancião.
Eu dou ré da minha vaga e ligo o som. Talvez tocar "Purple Ram" bem alto acalme a amargura no meu estômago. Guio o carro pelo labirinto do estacionamento dos veteranos, não querendo nada além de ir para casa.
Então vejo o carro de Lucy sair do estacionamento. O Ford Escape vermelho onde costumávamos nos agarrar depois da escola. Eu não o vejo desde o dia que ela terminou comigo. Não consigo evitar: estico o pescoço para observá-la ir embora.
É porque os meus olhos estão grudados nos faróis traseiros de Lucy que não noto...
O carro que está dando ré na vaga diretamente na minha frente.PÁ.
Dou uma guinada no banco quando bato com tudo na traseira do outro
carro.Demora um tempo para meus sentidos voltarem. Meu coração está tão acelerado que sinto como se tivesse caído de um penhasco. Meu corpo inteiro está quente, a palma das mãos úmidas com suor.
O carro com o qual colidi é um sedã preto, mas antes de conseguir ver bem, a outra motorista sai do veículo batendo os pés com toda a ira de um buldogue raivoso.
Cheryl Blossom.Caralho.
Meu choque se transforma em fúria. Tinha que ser ela. Sei que eu não
estava exatamente olhando quando batemos, mas também sei que a preferência era minha. Cheryl deve ter decidido que regras de trânsito não se aplicam a ela.Minha adrenalina me faz sair do carro antes que possa pensar duas vezes. Eu bato a porta e a encontro no meio do caminho.
— Que merda é essa? — pergunto.
Os olhos dela relampejam quando me vê. Baixinho, ela diz:— Você só pode estar me zoando.
Eu a ignoro e vou checar o para-choque. Milagrosamente, só tem um
pequeno amassado; vou ter que consertar, mas ainda dá para dirigir.
Atrás de mim, Cheryl examina o próprio carro.— Merda — ela reclama. — Meus pais vão me matar.
— Bom, os meus também — digo, chutando minha roda da frente.
Consigo sentir lágrimas brotarem nos olhos, mas luto contra elas. Odeio a ideia de chorar na frente de Cheryl Blossom mais uma vez. Eu respiro fundo para me acalmar, mas, quando me viro para olhar o carro dela, o meu estômago se retrai.
O para-choque traseiro se tornou um desastre mutilado e torto; a parte da direita está pendurada, arrastando no asfalto. É impossível dirigir um carro assim. Minha raiva de repente vira pânico. Se o carro dela ficou pior do que o meu, isso significa que sou a culpada, mesmo que a preferência fosse minha?
Acalmo minha respiração e olho para ela.
— Droga. Me desculpa.
Os olhos dela acendem como se eu tivesse acabado de falar algo ofensivo.— Você não sabe de nada? — ela briga. — Nunca se deve pedir desculpas depois de um acidente de carro. É uma admissão de culpa.
Fico tão consternada que só consigo encará-la enquanto diz:
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A jogada do amor - Choni
RomanceToni, uma jogadora de basquete do time nada prestigiado de Riverdale. Cheryl, a HBIC líder de torcida. O que um simples acordo pode se tornar? Leia pra descobrir! História original de Kelly Quindlen.