O avesso por de trás do cabelo

letra l

quando dou um último gole na minha xícara de café
quando vou e volto do colégio a pé
quando coloco Gal pra tocar
e me ponho a -desengonçadamente- dançar
eu sou lésbica

quando demonstro carinho pelas minhas amigas
sem interesse algum envolvido
porque, pasmem, isso é possível
dentro de um blazer
ou dentro de um vestido
eu sou lésbica

quando seguro o livro da minha escritora favorita nas mãos
quando meus dentes tortos se revelam
e minha risada alta escapa
e quando sinto dor
no peito ou na carcaça
eu sou lésbica

todos os meus anos, meses e dias
são lésbicos iguais a mim
mas momentos em que eu deixo de ser só lésbica existem sim

quando percebo os olhos de outra garota cravados nos meus
quando eu me aproximo
e sinto o ar quente dela em mim
quando invado o céu de sua boca
e me ponho a voar

quando minhas mãos, maliciosas
se enfiam dentro do sutiã
e meus polegares brincam com os bicos
quando eu me pego salivando
e minha língua os substituem
pra cima
pra baixo
de um lado
pro outro

quando abro meus olhos
e me deparo com uma mordida no lábio inferior
e meu íntimo só sente cada vez mais calor
quando desço lentamente
e aperto a cintura com a pele quente
e o espalmo a faz arfar

quando eu olho nos olhos
buscando permissão
ganho um aceno positivo com a cabeça em resposta
e chego no meu destino, então

quando deslizo meus dois dedos na vênus úmida
e dedilho
a intensidade do puxão no meu cabelo
e os gemidos roucos em apelo
me guiam

quando eu entro
e meus dedos dançam lá dentro
quando ambas atingimos o êxtase
entre beijos molhados,
sorrisos sacanas,
batons borrados
e cabelos desgrenhados

eu deixo de ser só lésbica em momentos assim
porque neles
eu sou lésbica pra caralho