MEU CACHORRO

53 10 3
                                    

E então, ele estava em paz.

O corpo parecia leve, como se flutuasse. Tudo ao redor era macio, confortável, e um cheiro agradável o envolvia. Pete suspirou, sentindo-se tão bem que, por um instante, pensou que estivesse morto.

"Olha só... quem diria que um matador iria para o céu?"

Ele sorriu preguiçosamente e se virou de lado, sentindo os lençóis contra a pele. Mas, ao abrir os olhos, a ilusão foi quebrada.

— Diabos! — O grito ecoou pelo quarto.

Pete se ergueu num sobressalto, os olhos arregalados ao reconhecer onde estava.

— Não, apenas eu! Vegas! — A voz carregava um tom divertido, mas os olhos de Vegas brilhavam de maneira intensa.

Pete passou a mão pelo rosto, tentando controlar a respiração acelerada.

— Vegas e o Diabo são a mesma coisa.

— Hum... Não deveria falar assim de mim. Afinal, fui eu quem salvou sua vida.

Pete se recostou nos travesseiros, ainda zonzo, mas não perdeu a expressão desconfiada.

— Como sabia onde me encontrar?

Vegas se aproximou, os passos lentos e calculados. Seu olhar deslizou pelo corpo de Pete, que estava apenas enrolado no lençol, os ombros e parte do peito à mostra.

— Pense um pouco... Como é mesmo que dizem? Um alfa sempre consegue encontrar seu prometido. Não foi isso que você me disse uma vez?

Pete estreitou os olhos.

— Você não é meu Alfa.

O sorriso de Vegas se alargou, mas havia algo sombrio por trás dele.

— Se eu não sou seu alfa, então me explica... — Ele se abaixou um pouco mais, a voz rouca e baixa. — Por que senti cada pavor que você sentiu? Por que me joguei quando você caiu? Por que estou enlouquecendo sem você? E, mais importante... por que estou me segurando para não te tocar agora, vendo você assim, machucado... e irresistível?

Pete bufou, cruzando os braços.

— Porque você é doido da cabeça. Cuidado, viu? Seu pai começou a enlouquecer assim... Pode ser genético.

Vegas riu baixo, mas seus olhos permaneceram fixos nos de Pete. O outro, no entanto, se permitiu um pequeno momento de vulnerabilidade. Se aconchegou um pouco mais contra Vegas, o calor do corpo dele estranhamente reconfortante.

— Obrigado — murmurou, baixinho. — Achei que fosse morrer.

Vegas deslizou os dedos pelo braço de Pete, um toque quase casual, mas firme.

— Da próxima vez, deixe Kinn morrer. Deixe qualquer um para trás. Mas sobreviva.

Pete ia chamá-lo de insensível, mas calou-se. Ele entendia. No fundo, sabia que Vegas nunca se importaria com o destino de Kinn, desde que Pete saísse vivo.

Mas então, algo começou a incomodá-lo. Ele franziu a testa.

— Estou sentindo um calor...

A seriedade no tom de Pete fez o olhar de Vegas se estreitar.

— Onde?

Pete sorriu de canto, malicioso.

— Preciso ficar de quatro para te mostrar.

Vegas soltou um suspiro, balançando a cabeça.

— Você está machucado.

— E se você não acatar meu pedido, vou ficar machucado e queimado com esse fogo que só você pode apagar.

Vegas estreitou os olhos, descrente.

— O que deu em você?

— Talvez cair de um penhasco tenha me feito perceber que não usei seu brinquedo o suficiente.

Vegas arqueou uma sobrancelha.

— Você quer transar... em momentos como esse?

Pete sorriu, convencido.

— Sempre que eu tiver oportunidade de transar, Vegas, eu estou transando. Agora você precisa decidir se vai ser com você... ou não.

Vegas o observou por um longo momento, antes de soltar um riso baixo.

— Claro que não. Para as duas questões.

Pete franziu a testa.

— O quê?

— Você me deve. Eu salvei sua vida, então deve obediência a mim.

Pete riu, um sorriso torto brincando nos lábios. Mas entendeu o que Vegas queria dizer.

O silêncio pairou por um instante.

— O Kinn? — perguntou, hesitante.

O semblante de Vegas escureceu.

— Pete, por favor... Não fale de Kinn aqui. Você me faz lembrar que escolheu salvar ele primeiro. Kinn tem mil seguranças, mas você tinha que desaparecer com ele.

Pete não respondeu de imediato.

— Eu devo obediência a Kinn, Vegas.

O maxilar de Vegas se contraiu.

— Você é o cachorro dele?

Pete revirou os olhos, mas antes que pudesse responder, Vegas continuou:

— Não, você não é. Porque você é meu cachorro.

O puxão veio rápido, forte. Pete soltou um gemido, sentindo o músculo dolorido protestar.

Vegas congelou.

— Pete?

Pete mordeu o lábio, desviando o olhar.

— Vá dormir — Vegas disse, baixinho, mas sua voz carregava um tom tenso. — Eu já não sou bom... e você me faz ter pensamentos piores.

Pete ergueu os olhos, prendendo o olhar no dele.

— Então por que me trouxe de volta? Se eu só te trago pensamentos ruins?

Vegas o encarou, os olhos se suavizando por um breve segundo.

"Porque eu gosto de você."

Mas ele não disse isso. Em vez disso, inclinou a cabeça e soltou:

— Porque eu preciso de um cachorro novo. Os meus já estão velhos.

O ódio reluziu no olhar de Pete. Mas então, algo inesperado aconteceu. Ele sorriu. Um sorriso frio.

— Pois fique sabendo que esse cachorro aqui já deu para todo mundo, Vegas. Você vai ser só mais um que vai me comer.

E virou o corpo, como se encerrasse a conversa.

Vegas ficou parado, observando a silhueta de Pete contra os lençóis.

Havia uma linha muito fina entre eles.

Uma linha que separava o amor da raiva. A raiva do amor.

E mais cedo ou mais tarde, um dos dois teria que decidir de que lado ficaria.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Feb 10 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Dezoito e Pouco...Onde histórias criam vida. Descubra agora