Capítulo 04

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     — Sejam rápidos

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     — Sejam rápidos. — Orientou Roger, de dentro carro, enquanto observava impacientemente Clay e Onest rindo, indo buscar as drogas do outro lado da rua, em um beco escondido.
     Já tinham percorrido a Avenida dos Cervos até o outro lado da cidade, na Zona Sul, seguindo as orientações de Dave, até chegarem à venda de drogas mais próxima.
     Roger não concordava com aquela situação, mesmo que já tivesse feito coisas do tipo antes. Ele não contava, porém, que Dave seria idiota o bastante para envolvê-los nisso. Não entendia qual era a verdadeira intenção do garoto ao se submeter àquilo, mas com certeza detestou a ideia.
     Enquanto esperavam Clay e Onest dentro do carro, Roger estava pronto para confrontar seu parceiro. E de forma totalmente alheia, ele abriu a porta do veículo e saiu. Eles haviam estacionado em frente a uma praça mal iluminada, cheia de árvores ao redor e um parquinho caindo aos pedaços mais atrás. A atmosfera do lugar não favorecia em nada.
     Percebendo a tensão em Roger, Dave também decidiu sair do carro. Ele sabia que o garoto estava com raiva dele e queria evitar qualquer confronto referente a sua ação estúpida de mais cedo, mesmo que já fosse tarde.
     Roger estava encostado no capô traseiro do Pontiac, com os braços cruzados, e ainda não tinha trocado nenhuma palavra com Dave desde a saída de casa e do posto de gasolina.
     — Vai ficar me ignorando o resto da noite? — Dave disse, mas recebeu uma jogada de ombros em resposta. — Roger, isso está sendo infantil.
     — Ah, é mesmo? — Ele soltou uma risada a contra gosto. — E você não acha que nos meter nessa situação não foi ainda mais infantil da sua parte?
     — É, tá bom. Eu admito. Desculpa, eu agi por impulso, sei lá. Eu, eu só queria que você soubesse que manter a nossa relação em segredo me machuca muito.
     Roger suspirou.
     — E achou que a melhor maneira de resolver isso era descer da porra do quarto e falar com meus amigos babacas e, e ainda por cima resolver comprar drogas com eles? — Ele respondeu, mas nem deu tempo para Dave responder. — Parabéns, ótima escolha!
     Dave mantém-se em silêncio. Ele até enfiou as mãos nos bolsos da calça para esconder o desconforto.
     — Você não acha que isso também me machuca, hein? — Roger completou, só para ser mais claro.
     — Eu sei disso.
     — Ata, até parece.
     — Olha, você está sendo injusto comigo agora.
     — Porra, cara…— Rô murmura, passando as mãos no rosto. — Você criou essa situação, então não vem se fazer de coitadinho agora.
     Dave solta uma risada seca, desacreditado.
     — Eu não estou me vitimizando, se quer saber.
     — Não vem com essa, você sabe que eu tenho medo deles reagirem mal. — Roger completa. — Desculpa, mas eu não consigo!
     — Roger, se eles realmente são seus amigos, vão gostar de você do jeito que é. — Dave falou, se aproximando do parceiro.
     A pouca luz que os iluminava fazia com que seus rostos ficassem em uma troca constante de luminosidade.
     — Esquece. Isso é papo furado, você sabe disso. — O garoto apoiou as mãos atrás de si na traseira do carro, com certa força.
     — Roger, eu estou falando sério. Se eles são tão ruins assim, porque ainda é amigo deles?
     Dessa vez, Rô o encara.
     — Dave, nem todo mundo tem uma família legal que nem a sua. Que te aceita como você e toda essa merda de reciprocidade familiar. E, e, eu queria que fosse diferente. De verdade. Eu queria muito, mas não é assim que as coisas funcionam!
     Dave até tenta tocá-lo no braço, mas é evitado.
     — Ei, eu entendo, tá bom? — Dave aperta os lábios, em busca de respostas. — Mas você não tem que ficar se prendendo a um estereótipo de pessoa que você não é. Se camuflando o tempo todo.
     — Ah, é fácil para você falar.
     — Não. Não é fácil — Dave sabia que podia começar a chorar a qualquer momento, mas se segurou. — Eu passei boa parte da minha infância e adolescência tentando provar para meus pais que eu sou bom o suficiente em várias coisas, só…para esconder o fato de que a minha homossexualidade faz parte de mim. De quem eu sou!
     Roger passou a mão no rosto, nervoso.
     — Que merda você está fazendo? Tá querendo comparar as nossas situações?
     — Quê? Mais que merda, Roger! É claro que não, eu só…
    — Não. Você está fazendo exatamente isso! Tipo, essa situação. Você não pode simplesmente decidir as coisas por mim. — Dave ficou em silêncio. — Olha só onde viemos parar. Nessa merda de lugar!    
     — Eu só queria provar a você que eles…
     — Para. Só para. Tá bom? Porque você está fazendo isso da forma errada. — Roger o encarou novamente, seus olhos quase marejados. — Desculpa, mas vir comprar drogas não é a melhor forma de apresentar a pessoa que eu gosto para meus amigos idiotas, e ainda mais de me assumir para eles. Eu só…queria está passando essa noite com você. Só isso. E não aqui.
     — Desculpa — Foi quase inaudível para Roger.
     Então fez silêncio.
  Dave colocou as mãos para trás, olhando para os lados, menos para o parceiro. Ele sabia que, quando o medo toma conta, tudo acaba meio que ficando embaçado. E o relacionamento dos dois estava embaçado pra caralho.
     — Ei, seus cuzões, vamos meter o pé! — Clay disse de repente, e os dois garotos se deram conta que ele e Onest haviam voltado, embora não tenha dado tempo para ouvir a conversa.
     Então, todos se enfiaram no carro.

Garotas Mortas Não Contam Segredos| Conto.Onde histórias criam vida. Descubra agora