O vento sopra o rosto de Jean enquanto ela pedala na Avenida US-1, também conhecida como Avenida dos Cervos porque costuma ter aparição de algumas espécies de veados, especialmente à noite, por isso ela deve tomar mais alguns cuidados. Pois as noites podem ser perigosas para garotas como ela. E essa parte da avenida costuma ser deserta. Por isso, mesmo que esteja de fones escutando Always Forever - Cuts , mantém os olhos atentos na avenida.
Mas apesar da noite ter caído sobre o céu e os pinheiros ao redor, ainda havia uma pequena quantidade de carros indo e voltando da Zona Norte. Boa parte são pessoas da Zona Sul que voltam para suas casas depois de um dia exaustivo lavando, escovando e limpando a sujeira dos Cervenses do Norte. Um bando de ricos esnobes.
Desde que se mudou, Jean não tem andado além dos locais habituais, por isso o motivo da inquietação em seu peito por está fazendo algo fora de seu habitual. Ela se perguntava se estava tomando a decisão certa, se havia outras opções que não tinha considerado. Mas, ao mesmo tempo, sabia que era uma oportunidade única para mudar sua situação financeira, pelo menos no momento.
Aos poucos, Jean estava disposta a lutar por uma vida melhor, não importava o que fosse preciso. Ela e Bea não podiam voltar para a casa dos pais, e muito menos perder a moradia.
Com pedaladas cautelosas, Jean parou no posto de gasolina mais próximo à avenida, buscando um breve refúgio em meio à agitação da noite. O posto, com suas luzes fluorescentes que iluminavam a noite escura, era um ponto de encontro movimentado para os motoristas cansados que abasteciam seus veículos e buscavam um momento de descanso. Atrás do posto, um pequeno mercadinho se destacava. E então, após deixar a bike no bicicletário perto dali, ela adentrou o estabelecimento.
Ao entrar, o tintilar do sininho ecoou, anunciando sua chegada. Jean lançou um meio sorriso ao atendente da loja, que, despreocupadamente, fumava um cigarro, pouco se importando com sua presença. O ambiente exalava um odor metálico, enquanto luzes nos corredores piscavam insistentemente, clamando por uma troca urgente de fusíveis.
Rapidamente, entre os corredores repletos de prateleiras abarrotadas de produtos, a garota retirou seu celular da bolsa e fez uma análise rápida do local onde encontraria Daddy Dominador. Embora nervosa, sua determinação não vacilava. Pegou um pequeno punhal na bolsa e o colocou na meia, entre o sapato. De qualquer maneira, ela tinha que ser esperta.
Jean pegou um salgadinho e levou para o caixa.
O sininho tilintou novamente, indicando a entrada de mais alguém no local.
Dois garotos entraram, enquanto outros dois ficaram do lado de fora. Jean não os conhecia, mas pelo estilo de roupa, pareciam ser da Zona Norte da cidade. Não que isso dissesse algo de fato sobre o status deles, mas o carro vermelho estacionado lá fora podia responder suas perguntas sobre a questão financeira deles.
— Clay, você pode ser mais rápido? Vocês disseram que seria uma parada rápida. — disse um dos garotos.
— Não esquenta, cara. Só vou pegar algumas bebidas.
O outro garoto, o mais alto com cabelos longos e vestido com trajes de tendência sintética, a encarou, fazendo-a recuar, voltando a atenção para o atendente que passava seu troco.
— Valeu — ela disse ao atendente.
— Qual foi, gatinha? — Esse mesmo garoto falou, mas Jean não o olhou de volta porque sabia que ele estava julgando-a mentalmente. Os garotos da Zona Norte podem ser uns completos filhos da puta. Se bem que, para Jean, a maioria é, e nem precisa está no lado “bom” da cidade.
— Deixa ela em paz, Clay. E vamos logo com isso. — interveio o outro rapaz.
Enquanto eles desaparecem entre as prateleiras, Jean aproveitou para sair do local, deixando para trás apenas o barulho do tilintar do sino.
De maneira apressada, ela foi para o bicicletário, passando pelo carro, no qual havia mais dois garotos do lado de fora, encostados no veículo.
Jean montou na bicicleta e continuou seu caminho.
Jean finalmente dobra a direita, saindo da avenida e adentrando em uma estrada de terra.
Rodeada de árvores e do verde da noite, Jean sentiu um alívio imediato assim que deixou a avenida para trás, pois receava um pouco aqueles garotos que saíam do posto de gasolina. A estrada de terra parecia um refúgio tranquilo, longe da agitação urbana. As árvores altas e frondosas formavam um túnel natural, filtrando a luz da lua e criando sombras ao redor.
Enquanto ela ia pela estrada, o cheiro da terra molhada com o perfume amargo das flores selvagens invadia duas conchas nasais. A sensação da brisa noturna acariciando seu rosto trouxe uma sensação de liberdade e serenidade, mesmo que por um instante em meio a toda confusão mental que estava tendo.
E então, em meio à penumbra da noite, Jean avistou uma cabana rústica à distância. Ela estava localizada em um pequeno claro cercado pelos imponentes pinheiros. Luzes amarelas emanavam das janelas.
Com cautela, Jean desceu da bicicleta e a colocou em frente ao alpendre. Também certificou-se de que estava realmente no lugar certo do combinado, tirando o celular da bolsa e verificando o endereço. E de fato era aquele.
Então ela deslizou os dedos sob o teclado do aparelho.
Jean optou por não usar seu nome verdadeiro no site de encontros.EVA_111: estou um pouco nervosa
DADDY_DOMINADOR4: não se preocupe,
querida
EVA_111: jura que você não
é um serial killer?
DADDY_DOMINADOR4: haha eu juroFoi a resposta dele, acompanhado da foto de uma garrafa de vinho e duas taças vazias no que parecia ser uma mesinha de cabeceira.
E pensando bem, ela se sentiria melhor se desse meia volta e voltasse para casa, mas…
Ao subir nos pequenos degraus do alpendre e se aproximar, notou que a cabana tinha um charme peculiar, com suas paredes de troncos de madeira envelhecidos e um pequeno tapete com flores ao redor. E também, no lado direito perto da quina da cabana, havia um Ford cinza estacionado no que parecia ser um gazebo de madeira.
Jean bateu suavemente na porta, sentindo uma mistura de excitação e nervosismo pulsando dentro de si. Por um instante, um pensamento fugaz passou por sua mente, fazendo-a hesitar. No entanto, antes que pudesse reconsiderar, a porta se abriu revelando Daddy Dominador.
Ele tinha uma postura confiante e olhar cauteloso, emanava uma presença costumeira, que instantaneamente capturou a atenção de Jean. Vestido formalmente, com um terno escuro que delineava seus ombros largos e uma gravata perfeitamente ajustada, Daddy Dominador exalava sofisticação. Seus cabelos bem cuidados, com alguns fios grisalhos que lhe conferiam um ar de experiência.
A garota engoliu em seco.
— Entre — disse ele. E Jean o fez, deixando-o fechar a porta atrás de si.
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Garotas Mortas Não Contam Segredos| Conto.
HororCom o risco de perder a casa onde mora com sua amiga, Jean se vê na obrigação de agir. E como uma forma de conseguir a grana de forma rápida, ela decide vender a sua viringadade online, o que, em certa circunstâncias, pode acabar não dando certo. ...