Capítulo 2

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Nós estamos fora da vista das mesas ao ar livre do café, e há outra viela à esquerda. A mulher

nos encara furiosamente, esperando por uma resposta.

Dou mais uma olhada no garotinho, que me encara com seus grandes olhos castanhos.

Eu poderia me virar e correr, mas duas coisas me impedem. Uma é puramente egoísta. Já fui vista com eles, e Jules suspeita inteiramente de mim porque acha que sou bonita demais para ser humana.

E a outra razão é que não suporto a ideia de que esse garotinho se torne mais uma poça de sangue.

Sorrio e aceno para a mulher que nos observa da porta. — Grupo de turismo! — grito em francês. — O tema de hoje é Fey! As fantasias estão ótimas, não estão? — Dou-lhe um sorriso alegre e depois me viro de volta para o grupo.

Bonjour à tout le monde! — Chamo os semi-Fey exaustos, acenando para que venham em direção à estrada que segue à esquerda. — Nous pouvons commencer la visite. Bienvenue à la

ville frontière magique!

Sorrio para eles, e todos me encaram com medo estampado no rosto. Acabei de dizer que poderíamos começar o tour e dei as boas-vindas à cidade mágica da fronteira. Eles não parecem entender o que estou tentando fazer.

— Na praia — continuo em francês — teremos uma vista do incrível véu, a barreira para o reino dos Fey. Até quinze anos atrás, a maioria das pessoas nem sabia que eles existiam. Eles viviam em outra dimensão, criada por magia há muito tempo — Brocéliende, o reino Fey. O reino do Rei Auberon estava diminuindo, então eles invadiram nossa dimensão, e ele ocupou a França para ganhar mais território. Agora, os Fey têm duas regiões: Brocéliende na outra dimensão e a França Fey em nosso mundo. Os franceses reagiram corajosamente, preservando parte do sul.

A estrada de pedra dá lugar a areia quente e branca. Pelo menos na praia, todos os pés descalços farão sentido.

Faço um discurso que torna a guerra dramática e heroica. A verdade, é claro, é horrível, cheia de mortes e violência sem sentido. Mas guias turísticos não se detêm nisso. O turismo de guerra deve ser divertido. Faço gestos frenéticos para que me sigam até a praia, através da areia e de arbustos baixos que cheiram a tomilho. Quando eles não seguem, seguro a mulher loira pela mão e a puxo. Os outros a seguem relutantemente.

Eles parecem tão magros, tão aterrorizados. O que aconteceu com eles no reino Fey? E o que acontecerá comigo se alguém decidir que sou um deles?

— Após as negociações de paz — continuo —, o Rei Auberon prometeu não reivindicar mais território, e agora estabelecemos o status quo. Abaixando a voz, pergunto rapidamente — Alguém fala francês? Em seguida, mudo para o inglês. — Alguém aqui fala inglês?

Eles me encaram.

Talvez eu devesse tentar a língua Fey? — Mishe-hu medaber áit seo Fey?

— Pare de tentar falar em Fey — sussurra uma das mulheres em inglês. Seus olhos são estranhamente brilhantes, de um violeta sobrenatural. — Eu entendo inglês. Sua pronúncia de Fey é horrível.

Ai. Eu tentei aprender através de um livro, mas a pronúncia nunca esteve clara na página.

— Ok — respondo suavemente, acenando para que se aproximem. — Escutem, vocês precisam sair das ruas. Agora.

— Por que você diria isso? — Ela joga o cabelo para trás do ombro, tentando parecer casual. — Somos apenas cidadãos ingleses comuns em férias. — Seu sotaque Fey faz com que cada palavra soe de forma encantadora, e ela não parece nada inglesa.

Avalon Tower [Tradução PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora