Capítulo 4

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Eu o encaro, boquiaberta. Passei tanto tempo tentando esquecê-lo, tentando apagar aquela noite em Bordeaux da minha memória — quando as estrelas brilhavam tão intensamente e o ar cheirava fortemente a uvas amadurecidas —, e agora Raphael está parado diante de mim, parecendo um maldito semideus.

Nos conhecemos em um château durante nossa viagem de verão. E depois que nos beijamos, ele nunca mais falou comigo. E eu também me lembro de ouvi-lo me chamar de lixo depois que minha mãe caiu bêbada da escada uma noite.

Ele é, de fato, um milhão de vezes mais bonito que Jules, o garçom, o que é infinitamente frustrante. Pela sua postura, ele tem consciência de quão bonito ele é. A sua pele bronzeada pelo sol, físico musculoso, aqueles olhos prateados penetrantes...

Eu o odeio.

Do alto da rampa, ele lança um olhar rápido na minha direção, mas, se me reconhece, não deixa transparecer. Uma mulher de vestido azul está junto ao mastro principal, exigindo os nomes de cada fugitivo. Ela tem a pele clara, como pêssego e creme, com o seu cabelo loiro ondulado preso em um coque bagunçado. Seus grandes brincos de diamante brilham ao pôr do sol. Ela parece delicada em todos os aspectos, exceto pela espada embainhada na cintura.

Meu olhar percorre o convés, que está totalmente equipado com um arsenal de lanças e arpões. Um navio de pesca à moda antiga, talvez? Aqui, o cheiro do mar se mistura com o aroma amadeirado do navio e um leve toque de alcatrão. Membros da tripulação, vestidos com jaquetas azuis, sobem nas cordas para abrir as velas.

No convés observo que há outra mulher, desarmada. Ela veste um longo vestido amarelo e exibe uma expressão sonhadora.

Quando me aproximo, ouço Raphael discutindo com Aleina em Fey.

— Não entendo — ele diz em um tom seco. — Onde está o nosso contato?

— Já falei, ele não apareceu — responde Aleina, impaciente.

Um músculo se contrai na mandíbula de Raphael.

— O que aconteceu com ele?

— Não faço ideia. Tivemos que chegar aqui sozinhos.

— E como vocês conseguiram chegar tão longe?

— Tivemos ajuda — Aleina disse, apontando para mim. — De uma turista.

Do alto, Raphael me lança um olhar cauteloso. Seus olhos etéreos se estreitam enquanto me observa, mas não vejo nenhum sinal de reconhecimento.

— Você contou sobre nós para essa mulher? — Ele infunde as palavras "essa mulher" com uma dose impressionante de desdém, sugerindo que talvez lembrasse de mim, afinal. Ele não está me chamando de "lixo" em voz alta, mas a insinuação é clara.

— Não tivemos muita escolha — Aleina lança um olhar preocupado na direção dos policiais na entrada do porto. — Posso explicar tudo depois. Precisamos zarpar.

A mulher loira avança com um andar despreocupado e toca o bíceps de Raphael.

— Não podemos embarcar este grupo. Os nomes não batem com a nossa lista.

— Nenhum deles, Viviane? — ele pergunta.

Eu os encaro, incrédula. Eles perderam o juízo?

— Alguns — Viviane esclarece. — Faltam três que deveriam estar aqui, e há outros três que não deveriam. — Ela aponta para o garotinho. — Ele e aquelas duas ruivas.

Uma mulher com o mesmo tom de cabelo vibrante as envolve com os braços.

— São minhas filhas. Não irei deixá-las em nenhum dos territórios controlados pelos Fey.

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⏰ Última atualização: Aug 14 ⏰

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