Capítulo 3

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Como a flor de beladona, a beleza do véu oculta sua natureza mortal. A magia Fey não é particularmente estável, e os resultados ao tocá-la variam. Algumas pessoas morrem de um ataque cardíaco. Outras gritam de agonia enquanto seus interiores derretem. Algumas se transformam em pó ou congelam instantaneamente. Mas o fim é o mesmo. O véu é faminto, e se alimenta da morte.

E, no entanto...

Apesar de estar no meio dele, ainda estou viva. A menos que — como algumas pessoas dizem — os mortos não percebem que morreram?

Através dos desdobramentos da névoa, olho para minhas mãos. A névoa se move e desliza sobre meus pulsos, o seu balançar é estranhamente sensual, como se fosse uma coisa viva.

Ainda estou respirando. Não sinto dor. Quanto tempo irá durar até eu morrer? Inspiro o ar úmido com um toque de sal marinho. Eu me sinto bem.

Não escuto sequer o zumbido da névoa ou sinto o formigamento da magia em minha pele.

Estranho. Talvez a magia não funcione nesta parte do véu.

Daqui, ainda consigo ver os outros — silhuetas em prata e violeta além do véu. Da altura dos meus tornozelos para cima, a névoa desliza sob a renda branco do meu vestido como se fosse o toque de um amante.

— Aleina? — eu pergunto.

— Você ainda está viva? — ela pergunta, chocada. — Não consigo te ver.

A esperança acende em meu peito. — Isso é perfeito, então — eu digo a ela. — Esta parte do véu está boa. Podemos nos esconder aqui, eu acho. Não é letal.

— Não! — ela murmura, com terror na voz.

— É um espaço intermediário— eu digo. — Estou bem, e é o lugar perfeito para se esconder. E os soldados estão nos bloqueando agora.

Os segundos passam enquanto minha ansiedade cresce. Entendo sua relutância, mas aqueles soldados acabarão notando-os, e só consigo imaginar no que pode acontecer depois. Estou prestes a insistir para que ela se mova quando vejo uma silhueta acenar e dar um passo à frente. A mão de Aleina emerge da névoa, e ela respira fundo enquanto se aproxima de mim.

— Vamos, pessoal — ela sussurra em Fey.

Um por um, os semi-Fey entram no véu, e, em vez de drená-los de vida, a névoa parece acolhê-los em seu abraço. Faço um gesto, e o menino agarra minha mão, juntando-se a mim.

Através dos redemoinhos de névoa, ainda consigo ver o chão de paralelepípedo sob meus pés. Mas tudo parece diferente além do véu. Nos últimos anos, ninguém nunca veio aqui. O lixo se acumulou neste território deserto, e o ar cheira a podre e decomposição. Engulo em seco. Não deveria estar aqui. Fora da névoa, vejo as silhuetas dos guardas Fey passarem, espadas desembainhadas. Eles não nos notam.

— Como vocês passaram pelo véu da primeira vez? — pergunto a Aleina.

— Nós tínhamos um... não sei como você diz isso em inglês. Um orbe? Um orbe Cosaint. Mas ele quebrou. — Ela engole em seco. — Perdemos duas pessoas quando isso aconteceu.

Um arrepio percorre minha nuca, mas afasto o medo. Conto até dez, dando tempo para os guardas se afastarem, e então saio da névoa. Aleina me segue. Depois, os demais.

Aproximo-me da borda do beco, e espreito para fora. Nenhuma patrulha do véu. Ótimo.

— Certo, estamos livres — digo. — Vamos fazer o mesmo de antes. Somos apenas um grupo de turistas, ok? É crucial que todos pareçam calmos, mesmo que não estejam.

Conduzindo-os para fora, começo a gritar fatos sem importância, tentando parecer que tudo está bem. A temperatura cai abruptamente por algum motivo, e meus dentes batem. O frio morde minha pele. Que vento gelado é esse? Talvez seja a reação do meu corpo ao trauma de tudo isso. Acabei de ver uma mulher ser executada na rua, seu sangue ensopando suas roupas. Entrei acidentalmente em um véu mágico que, por pura sorte, não me destruiu.

Avalon Tower [Tradução PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora