O filme da minha vida

XVIII

Nova York, 15 de novembro de 2005 20h

Derek havia administrado a viagem para o Brooklyn batendo papo sobre alguns filmes que vira e, depois de um tempo, percebeu que Addison não esperava que ele mantivesse um diálogo constante. Ela mesma não gostava de conversa fiada, então muitas vezes eles caíam em um silêncio confortável

A parte do Brooklyn em que acabou surgindo não era familiar para Derek, então ele seguiu a ruiva pelas ruas até um bairro que tinha um sabor distinto do Leste Europeu

- Este lugar é um dos meus favoritos - Addison disse a ele - Achei que você gostaria de comer comida russa porque já que tudo vai parecer novo para você podiamos tentar algo realmente inédito, a não ser tenham restaurantes russo em Seattle

- Nenhum que eu já tenha ido - Derek disse com um sorriso, olhando em volta quando eles entraram no restaurante

Era comprido, estreito e abarrotado de mesas e cadeiras de madeira esfregada. As paredes eram decoradas com arte popular intencionalmente kitsch, e velas e bonecas Matryoshka estavam espalhadas em grande quantidade pelo espaço. Estava quente, aconchegante e tinha um cheiro delicioso. Uma garçonete os conduziu até uma mesa para dois perto dos fundos, e eles se acomodaram

Depois de fazerem os pedidos - Então, você traz todos seus namorados aqui? - Derek perguntou a ela depois de um tempo, a cabeça inclinada um pouco para o lado.

- Todos os meus namorados? Isso significaria que eu tinha algum para começar - Ela riu dele, ela não tinha saído com ninguém além de Mark há muito tempo - Eu sou uma cirurgiã, com dois filhos que tem energia infinita, não é como se eu tivesse algum tempo sobrando para pensar em romance - Um olhar infeliz passou pelo rosto de Addison com tanta rapidez que Derek quase pensou ter imaginado aquilo

- E, pelo que eu sei, uma mulher muito atraente

- Muito bom que o meu marido ache isso - Addison disse com uma risada nervosa

- Meu Deus aquele ali não é o Mark? - Derek se levantou animado em reconhecer o amigo - Mark!

Nova York, 15 de novembro de 2005 19h45

Mark estava em um encontro depois de quase nove anos. Era claro que ele não tinha virado celibato em todos esses anos, mas desde que Derek sumiu deixando Addison grávida ele parou toda a sua antiga vida de gandaia por trocas de fraldas e livros infantis, sua família tinha se tornado a única prioridade em sua vida. Ele sabia que estava um pouco enferrujado, mas não imaginava que seria tão ruim

Desde o momento em que percebeu no que havia se metido, Mark tentou se iludir que aquilo ainda poderia dar certo. Talvez ele devesse ter levado a enfermeira para um lugar que nunca foi com Addison antes, ou escolhido alguém que não trabalhasse no mesmo ambiente do que eles, assim ele conseguiria tirar a ruiva da cabeça e se concentrar na mulher à sua frente. Mas absolutamente tudo naquela noite ele comparava se estivesse com a cirurgiã como acompanhante

- Ainda bem que hoje não está tão frio - Charlene comentou e Mark tentou não revirar os olhos diante do comentário sobre o clima, aquilo era a prova cabal que o encontro estava indo de mal a pior. Ele estava levemente irritado, mas sentiu que tinha que assumir parte da culpa pelo desastre de uma noite.

O problema com encontros ruins era que era realmente difícil saber como terminá-los. Mark já tinha decidido que insistiria em pagar pelos dois, mas e depois? Mais conversa fiada até sair correndo pela porta assim que assinasse o recibo do cartão de crédito?

- Eu preciso ir ao toalete - Se levantou dando uma desculpa para procurar o garçom para agilizar seu pedido e sair logo dali

Mark foi até os fundos do restaurante para procurar alguém quando a viu. Addison estava com Derek, no mesmo restaurante. Uma coisa era saber que ela ainda amava o marido e por isso jamais tinha dado uma chance, mas presenciar aquilo ao vivo era como ter levado mil chutes no estômago. Ele estava se virando para tentar sair o mais rápido da cena quando escutou a voz de Derek - Meu Deus aquele ali não é o Mark? Mark! Aqui! - Derek acenava freneticamente em sua direção