•Alô é a Morte•

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- Mariposas e Ligações -

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- Mariposas e Ligações -



   Parei brevemente, deixando a caneta repousar sobre o papel. Estava exausta. Consultei o relógio no pulso, a luz brilhante da sala refletindo na corrente prateada. Suspirei ao perceber que finalmente poderia fazer uma pausa. Empurrei a cadeira, as rodinhas deslizando pelo chão. A sensação de movimento era reconfortante, como se a criança dentro de mim nunca se cansasse de brincar com uma cadeira de rodinhas.

Ao me inclinar sobre a mesa, avistei minha amiga. Ela me lançou um olhar distraído por trás dos enormes óculos redondos. Conseguir a receita foi uma luta no oftalmologista do SUS, e ela reclamou durante um mês, seu passatempo favorito. Esperei até que ela finalmente abaixasse o telefone e o colocasse no gancho. Primeiro, ela precisou dar um longo bocejo, arreganhando a boca marcada pelo batom escuro. Sem hesitar, perguntei a Emilly:

⎯⎯ Vou levantar para pegar um café, quer um?

Recebi um revirar de olhos, como se ela dissesse "precisa mesmo perguntar, Maria?".

⎯⎯ Um cafézinho sempre vai bem, sim, mas já sabe, sem açúcar.

⎯⎯ Pode deixar comigo.

⎯⎯ Aliás, é hoje o aniversário da Fernanda? Dezoito anos, não é? Meu Deus, como o tempo voa. ⎯⎯ Emilly sorriu, fazendo uma anotação no computador.

A tela refletida nas lentes grossas de seus óculos. Ela estava certa, o tempo passa muito rápido. Parece que foi ontem que segurei minha filha nos braços, seu rostinho redondo e adorável. Agora, ela já está se formando.

⎯⎯ Quero chegar mais cedo hoje... Comprar um presente bem bonito. Ela quer uma tela de pintura, um sonho de infância. Coisa cara da peste, por isso é difícil incentivar a arte, não dá para sustentar.

⎯⎯ Nem me fale. Gustavo, agora que está na escolinha, só quer desenhar, desenhar. Mas não posso bancar todos os lápis que ele usa. Ou ele os come, ou o cachorro da minha sogra os come. ⎯⎯ Emilly apertou uma tecla com força.

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