•Além das Três•

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O homem se contorcia na cama, a coberta caída no chão, enquanto o ventilador girava, espalhando um sopro gélido e agradável pelo quarto. Um gato preto com uma mancha branca que cobria metade de seu rosto aproximou-se, ronronando, e encarou o homem antes de olhar para o despertador.

"Havia chegado a hora."

O peso sobre seu rosto dificultava a respiração, e ele tateou ainda sonolento, sentindo algo peludo. Com cuidado, retirou o ser desconhecido de cima de si e virou-se para o outro lado, tentando voltar a dormir. No entanto, o sono foi interrompido mais uma vez pelo maldito despertador - por que ainda insistia em usar aquele objeto?

Ao abrir os olhos com dificuldade, ele procurou seus óculos, que estavam próximos ao despertador. Finalmente, enxergava novamente. Espreguiçou-se e bocejou, fitando o aparelho com números em néon azulado que iluminavam o quarto. O relógio marcava exatas 3 horas, mas o detalhe estranho era que parecia ser 3 horas da tarde.

A gata miou, assustando-o. Ao ligar o celular, sentiu um arrepio percorrer o corpo. A cortina bege balançou e, em seguida, um silêncio sepulcral tomou conta do ambiente, acompanhado apenas pelo som do ventilador girando de um lado ao outro. Respirou aliviado ao ver a tela do celular acender, usando-o como iluminação para observar sua gata, Elisa, que estava enrolada em seu travesseiro. Seus olhos avermelhados encaravam-no fixamente, como se escondessem algo estranho em sua aparência. Seria apenas sua imaginação ou havia algo mais?

Levantando-se da cama e calçando suas havaianas, percebeu que a noite estava abafada. Ao conferir novamente o celular, o horário do despertador ainda reluzia, e o mistério sobre os horários bagunçados persistia.

Enquanto caminhava pelo quarto, notou que seus passos não produziam som algum, o que o assustou ainda mais. Elisa desceu da cama, fixando seus olhos na porta, e ele, por sua vez, direcionou o olhar para a janela do quarto. Na penumbra angustiante do lado de fora, parecia haver algo, mas seus olhos não conseguiam decifrar o que era. Mesmo assim, resolveu agir e envolveu seus dedos na maçaneta fria, girando-a lentamente.

Nenhum som, absoluto silêncio, exceto pelo marcante ‘Tic-Tac’ do antigo relógio cuco.

....

Meu corpo de repente foi tomado por um cansaço terrível, mas com forças que desconhecia, consegui prosseguir pelo corredor em direção ao quarto dos meus pais. Eliza continuou a me seguir, o animal parecia incomodado com algo, e isso também me causava calafrios. À medida que me aproximava do quarto, a sensação de que ele se afastava crescia.

Os quadros na parede compunham uma mistura de fotos de família e pinturas de bazar, compradas a preço de pechincha. Minha mãe sempre apreciara aqueles quadros. Meu preferido estava do lado esquerdo do corredor, à frente do segundo retrato. A foto, tirada por uma câmera antiga, mostrava um casal sentado sob uma árvore com poucas folhas em sua copa. Não era uma imagem impressionante, mas havia algo no enigmático sorriso da mulher, como o sorriso da famosa Monalisa, que trazia um ar diferente, quase psicopata.

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