IV - O Depoimento da Confusão

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Eu juro que não sei lidar com este Ratinho difícil, mas ele vai quebrar aos poucos, prometo. Uma equação de corpos celestes de cada vez.

Boa leitura!
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Na manhã seguinte, todo mundo da faculdade estava olhando estranho para Aventurine, o que era compreensível, tendo em conta o tempo infinito que demorou para que Jelena deletasse aquele maldito post da existência.

Seu rosto virava rubicundo cada vez que ouvia seu nome em vários cochichos por ter feito a burrada de postar aquilo de forma tão pública, sendo que ainda a acrescer a esse fato, ainda tinha passado a vergonha de ter levado a maior nega da sua vida. Virar a fofoca da faculdade não tinha feito parte dos seus planos, mas já que estava acontecendo, que remédio tinha, se não lidar com isso.

Já Ratio tinha virado a fofoca do seu curso, o que estava deixando o estudioso um tanto quanto incomodado, já que seu único interesse era de fato, seus livros, seus cálculos e seus patos de borracha.

Tentando amenizar o seu desconforto, Veritas optou por ir até à biblioteca da faculdade, longe de pessoas, e como habitual, se afundou na leitura, longe de toda a confusão que se instalou por conta de um simples depoimento. As pessoas seriam tão desocupadas assim que em vez de estudarem, ficavam procurando fofoca?

Enfim, a juventude.

Não demorou para que a sua paz fosse totalmente arruinada pelo alvo conjunto das fofocas na faculdade, Aventurine se sentando com uma pilha de livros no lugar diante do seu. A biblioteca estava cheia, e aquele era — por ironia do destino — o único lugar livre. Ao levantar os olhos do seu livro, Ratio revirou os mesmos, voltando a focar na sua leitura numa tentativa de se manter o mais educado possível.

— Que surpresa o ver aqui, Veritas! Como está nesta bela manhã? — Aventurine perguntou num sussurro, sorrindo de forma amigável. — Incrível como nosso professor de cálculo nos fez escrever esse trabalho de duzentas páginas para ontem, só porque acordou de mau humor, ein?

— Estaria melhor se você não estivesse me perturbando, mas como não se pode ter tudo, terei apenas de lidar com o incômodo da sua presença. — Veritas retrucou de forma seca, tentando retomar a sua atenção ao livro. A expressão de Aventurine fechou, os olhos lilases brilhando como se de um cachorrinho abandonado ele se tratasse, fato que Ratio não notou.

— Nossa, tanta amargura só por conta daquele depoimento bobo no Orkut? Me odeia tanto assim?

— Não te odeio, apenas desprezo a sua incapacidade de entender que tudo no seu plano de partilhar a sua fofoca relacionada com, como era… Se você tivesse sete minutos comigo, o que me faria… seria falho. Não foi a ideia mais brilhante que você já teve desde que tenho a infelicidade de o conhecer, apostador. Ah, já agora, sim, não sou hétero, mas claramente não estou disponível para alguém como você.

A falta de tato, a dor. Pior que ser humilhado na internet, era a humilhação em pessoa.

Aventurine teve de segurar uma risada.

— Nossa, Doutor! Que isso, tão chique me dando um fora. Acabei de ficar ainda mais interessado. Pode sempre aproveitar e me dar a chave de braço, a humilhação seria menor, sabe? — O loiro ironizou.

— Você é insofrível, Aventurine. Some da minha vista logo, que saco, estou tentando estudar!

Ratio enterrou o rosto na mão, tentando apenas respirar fundo. Como alguém poderia ser tão insistente?

— Pronto, pronto! Por hoje vou deixar você em paz! Ah, já agora, a equação que você está fazendo… A velocidade necessária é de onze ponto dois quilómetros por segundo, de forma a que o corpo celeste possa escapar da gravitação terrestre, sem a necessidade de propulsão adicional.

Ratio o fitou por entre os dedos. Desde quando aquele garoto entendia alguma coisa de astrofísica?

Quando terminou a equação, a resposta que ele lhe tinha dado estava certa. Espantado, Veritas ficou olhando em volta buscando o loiro para o questionar, mas Aventurine não estava mais ali consigo, apenas restando a pilha de livros de cálculo estatístico.

Talvez o loiro não fosse tão idiota como ele pensava.

***

— Você não está entendendo, Jade, ele voltou a dar-me um fora, ainda me chamou de insofrível, a humilhação para esta lacraia da noite veio. — Aventurine se jogou de forma dramática na grama, enquanto Jade bebia sua terceira lata de Redbull do dia, e Topaz ficava puxando a sua orelha, já que aquilo era demais para uma pessoa só.

— Talvez você tenha merecido. Se alguém falasse de mim como se eu fosse uma peça de carne pendurada no açougue, eu também teria dado um fora monumental na pessoa. Nem sei como ele ainda te dirigiu a palavra, deve ser mesmo uma pessoa muito educada, ou então mal deve socializar, e por isso dedicou o seu importante tempo a te dar um fora mais condigno.

Aventurine a fitou, fingindo-se de ofendido.

— Nossa, Topaz está mesmo certa, você é a verdadeira advogada do diabo, ein? Não me ama mais, só joga contra mim agora, me sinto ofendido, viu?

— Viu, por essa atitude que ele deu fora em você.

O loiro deitou a língua de fora para a mulher, que apenas riu, balançando a mão, como se estivesse se descartando de todo aquele drama.

— Bem, só resta você o conquistar de outra forma, Aven, ou sinto dizer, mas você nunca vai ter chance com ele. Veja pelo lado positivo, ele não é hétero.

Kakavasha ficou fitando Jelena de forma espantada, como se ela não tivesse constatado algo óbvio, das milhentas coisas que tinha dito para as duas mulheres.

— Ele não é hétero… ELE NÃO É HÉTERO! Quer dizer que eu tenho chance!

— Não me diga… — Topaz revirou os olhos em divertimento. — Já lá dizia Diamond, água fria em pedra quente, tanto bate até que fura…

— Não me parece que seja isso que ele diz, Je…

— Querida, é água mole, em pedra dura, tanto bate até que fura. — Jade a corrigiu, a garota ficando com as bochechas mais vermelhas que as suas mechas do cabelo, arrancando risadas dos dois amigos.

O depoimento da vergonha (Ratiorine)Onde histórias criam vida. Descubra agora