— O que vamos fazer? O povo votou.
O atual paladino Protetor deu de ombros. — É o povo quem vai treinar nosso rei? É o povo quem vai decidir aqui dentro as leis?
Victiym estava ao lado de seu mestre, Suiz. Suiz era um paladino Protetor um tanto quanto inconveniente, sempre falando mais alto que o rei. De certo, sendo um Dragão de Latão, as pessoas esperavam que ele tivesse um temperamento mais calmo. Mas Suiz vinha de um século sangrento. A Conversa Das Lâminas moldou muito de sua estranha sabedoria e feroz aparência. Assim como a maioria dos Dragões de Latão, ele tinha olhos verdes claros como as poções de cura feitas pelos clérigos e monges.
Ele tinha mais cicatrizes que a maioria dos paladinos, e diferente da maioria de sua Casa, Suiz não sorria. Ele tinha olhos tão tempestuosos quanto o mar, e não calmos e sorrateiros como as florestas. Sua pele morena destacava ainda mais suas cicatrizes e escamas arrancadas. Victiym nunca disse o quão estranho ele achava Suiz, o próprio já sabia. Todos falavam muito dos cortes por cima de suas escamas, coisa que só poderia ser feita por outro dragão. Victiym cresceu ouvindo as histórias, mas Suiz não contou nenhuma.
— Precisamos por em ordem o Conselho, — Turco, o Elfo, disse, franzindo o cenho na direção de Suiz. — O povo sempre escolhe por quem vai ser regido, Suiz, nós apenas cumprimos com nossos mandamentos.
— Quer encarar um Dragão? Está certo, encare Bahamut. — Suiz rosnou. — De certo que ele gostaria muito de uma cabeça élfica em sua coleção.
— Vamos acalmar os nervos! — Baric, um gnomo, falou por cima de Suiz, rindo de nervoso. — Senhor Protetor, sabemos das leis, sabemos das escrituras e do Presente da Justiça, mas não podemos ir contra quem nos pôs aqui. Ou você protege o povo ou está contra ele, e se por contra o povo é um erro.
Suiz revirou os olhos. Victiym engoliu em seco. Ele ia falar alguma coisa, mas Mihara, a jovem Harpia, falou antes. Levantando um dedo, e pondo uma moeda de ouro em cima da mesa do Conselho.
— Se quisermos resolver este problema, deveríamos votar como um Conselho, já que é isso que seremos ao novo rei.
Lacost concordou veementemente com a cabeça, olhos esperançosos na Harpia. A sabedoria das aves era muito diferente das dos Dragões, mesmo eles sendo tão territoriais quanto elas. Victiym sentiu o olhar de Suiz queimar seu crânio. A sala ficou em silêncio tempo o suficiente para a mente de Lacost começar a pensar muitas coisas. Harpias eram criaturas sorrateiras, diferente dos Dragões, elas espreitavam suas presas por meses. Tinham mais em comum com Sereias que com Dragões, e de certa forma eram parentes, mesmo.
— Então, — O Lobo Darius encarou todos na sala, esperando na porta. — Vão votar ou não?
— Crias do Caos não são confiáveis, mas... — Turco murmurou e logo fora cortado por Suiz.
— Então temos dois votos contra. Quem mais?
Turco o encarou boquiaberto, mas não contestou. Baric piscou algumas vezes, engoliu em seco, olhou ao redor da mesa. Pele de Porco, o anão, deu de ombros.
— Ele é maior de idade, casado e tudo. Segundo as más línguas, é filho de um filho de Bahamut. Não vejo motivos para negar um Dragão, seja ele de qual ascendência, de se sentar no Trono.
Suiz rosnou ao mesmo tempo que Victiym arregalou os olhos. Um dragão ascendente do Caos, filho do Caos com a Justiça? Os dragões não se misturavam, isso todo mundo sabia. Geralmente haviam brigas territoriais sempre que um cruzava o caminho do outro. Era muito mais comum um filho da Justiça casar com uma família de origem igual. Por isso haviam tantas casas de Prata, Bronze e Ouro.
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Os Contos de Drathar e os Esquecidos
FantasyOs contos de antes das aventuras dos nossos queridos piratas.