“As pessoas são solitárias, porque constroem muros invés de pontes”. - O Pequeno Príncipe
Myself:
Diário da Daisy, Ohio, 13 de Abril.
Não, não tenho 12 anos, mas adoraria ter, escrever memórias num diário é um dos velhos hábitos que me acompanham desde a infância, e mesmo que eu diga que não gosto, um diáfano caderninho vermelho me acompanha aonde quer que eu vá.
Chegara aos trinta e sete anos, e era rotulada pela sociedade como "uma adulta funcional".
Se com funcional, você quer dizer uma mulher viciada em café, física e mentalmente cansada, sexualmente frustrada e com um tsunami de contas a pagar, prazer, Daisy Jones.
Eu era jornalista, aspirante no melhor dos casos, eu tinha meu blog, e publicava algumas sátiras na coluna do jornal. Não era muito, mas ver meu nome impresso no papel e ter alguns dólares a mais no fim do mês não me parecia uma ideia tão ruim.
Eu morava num pequeno apartamento, ou num cubículo, pode chamar como quiser, apesar de ser pequeno, valia os 300 dólares de aluguel, eu poderia ter escolhido um apartamento em qualquer lugar, mas o que me conquistou foi a gentileza da síndica, o que não entrava na minha cabeça era o motivo de uma senhorinha daquela idade ter se metido a comprar um conglomerado de apartamentos no meio de Lincoln Village.
O único motivo plausível só poderia ser o preço, afinal de contas, quem seria idiota ao ponto de vir morar num lugar como esse, tendo o centro a 40 minutos de distância?
Ah, lembrei, um bando de jovens desocupados, senhoras fofoqueiras e assalariados que reclamam do barulho de um alfinete que caiu no chão depois das dez.
Eu não digo que amo o lugar que vivo, mas também não digo que odeio, meu sonho mesmo era publicar meus livros e viajar o mundo, conhecer Paris, Hong Kong, Sidney e todos os lugares que eu pudesse ver, até que me acabassem os dias e que me fechassem os olhos.
Eu só podia sonhar mesmo, a realidade, era tão dura quanto a sola dos meus tênis, em meio a neve congelada numa tarde de inverno. Eu odiava passar pela Rustlingway, mas era isso, ou soltar no ponto final e ter que me esquivar daquele bando de bêbados.
A Westwoods ficava a cinco minutos do meu bloco, mas aqueles cinco minutos poderiam custar minha vida, então, eu não reclamava de soltar quatro pontos antes e vir o restante do caminho andando.
Minha mente estava focada nas férias, no Brasil, com suas danças animadas, sol escaldante e turistas semi-nuas em praias quentinhas. Tudo valeria a pena quando eu tirasse minhas tão merecidas férias.
Ao me aproximar de meu bloco, pude perceber certa comoção, era um bando de adolescentes, como sempre, todos bêbados. não me importei, a única coisa que iria irromper minha noite seria uma bela taça de Sauvignon, regada a lágrimas e um disco arranhado de Édith Piaf.
Meu caminho era dedicado a cantarolar músicas francesas, as vezes italianas, mas todas eram antigas, de alma romântica, me orgulhava dos dias em que punha um vestido vermelho e cantava no Tiana's Pallace, um restaurante fino de Orléans.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Myrtle
RomanceConheça a história de uma não tão jovem jornalista, acompanhe os perrengues de seu quase sossegado condomínio e (talvez) julgue suas ações, não tão dignas de uma adulta com alma juvenil.