“O ontem, é história
O amanhã, é mistério
O hoje, é uma dádiva
É por isso que se chama presente”. - Mestre Oogway---
Time Skip de uma semana depois do acidente pq tô com preguiça:
A primeira vez que vi um carro daquele porte parado em frente ao prédio, achei que fosse o Serviço Secreto, ou uma excursão de crianças ricas aos subúrbios de Ohio, como se fôssemos animais, ou o seu zoológico particular.
Mas não, apenas uma mulher desceu do carro, uma mulher bem-vestida demais pra querer morar num lugar como esse, eu pensava assim, até acordar num domingo e vê-la no batente da minha porta, pedindo algo que chutei como café ou açúcar, aquela mulher tinha cara de tudo, menos de ser chegada a cozinha.
Já no dia seguinte, tinha acabado de acordar, mas me lembrava que acabava hoje, a primeira de três semanas de folga, era outra segunda, e tudo o que eu queria era que Dante consertasse a droga do chuveiro, mas invés disso, ele se prestava a ficar de tocaia na porta, dando meu precioso açúcar para um bando de sirigaitas.
Elas podiam vir todas, pedir mil coisas, se esfregar nele como as vadias que eram, mas pelo pouco que conhecia do Salvatore, sabia que ele era puritano demais para isso, e que não se sujeitaria a aquele tipo de mulher nem que lhe pagassem.
Tal afirmação não me impedia de murmurar e ranger os dentes a cada vez que ele abria a porta para uma mulher diferente a cada cinco minutos. Eu acordei às oito, e não recebi um mísero bom dia, um!
Passei metade do dia assistindo-o andar de um lado para o outro com potinhos de "um pouquinho de manteiga para a senhorita Deschamps, um pouquinho de açúcar para a senhorita Deschamps, um pouquinho disso, um pouquinho daquilo..."
Isso quando ele não vinha com os "Con il suo permesso, signorina..” “Perdonami, signorina...” “Mi dispiace disturbarla, signorina...".
Tudo vinha acompanhado de "signorina", era signorina pra lá, signorina pra cá, já estava mais do que farta de ouvir aquela ladainha o dia inteiro.
Então, numa tentativa infantil e desesperada de ter um pouco de paz e silêncio, tratei logo de dar uns belos e histéricos gritos.
- ASCOLTA QUI, BAMBINO INGRATO, TI ACCOLGO A CASA MIA, APRO LE MIE GAMBE PER TE ED ECCO COME MI RINGRAZI? SFREGANDO CON LA PRIMA CAGNA CHE APPARE, E ANCORA ALLA PORTA DI CASA MIA?! TU BASTARDO SENZA VERGOGNA!
Seu olhar assutado foi o suficiente para me deixar satisfeita, mas senti que faltava um "quê" a mais naquele teatrinho, então aumentei o volume de meus gritos, e lhe joguei uma ou duas coisas por cima da cabeça, errando propositalmente, para que o idiota saísse da frente e me permitisse acertar a vadia escorada no batente da porta.
- TU CATTIVO, BUGIARDO, HAI DETTO CHE SI PRENDERA' CURA DELLA CASA, CHE MI AIUTERA'! STA TRASCINANDO UN'ALA VERSO I VICINI! SEI UN MONELLO! BUGIARDO! MISERABILE!
E foi bem o que aconteceu, meu velho bule de prata, foi parar bem no meio da testa da desgraçada, eu até achei graça, mas me irritei, quando ela começou a me xingar.
- Espèce de misérable salope! AVEZ-VOUS UN PROBLÈME? ÊTES-VOUS FOU? JE SUIS PAR TOUT CE QUI EST SAINT... JE VOUS TUERAI! Espèce de salope déshonorée!
- ET VOUS SAVEZ QU'IL N'A PAS BESOIN DE VOTRE AUTORISATION POUR ABSOLUMENT RIEN, IL EST LIBRE ET SANS ENTRÉE! ET S'IL ME DONNE LA LIBERTÉ, JE LE SATISFAISAIT PLUS QUE VOUS! UN HOMME COMME CELA VEUT DE L'ACTION! UNE BELLE FILLE ESPAGNOLE! UN PETIT DÉJEUNER BRUT, PAS UNE FEMME SÈCHE COMME VOUS! VOUS MATRACA!
Aquela mula seca já estava começando a me irritar, já estava com o rolo de cozinha em mãos, pronta para arremessá-lo contra sua cabeça, e teria feito sem pensar duas vezes, se o Salvatore não tivesse se enfiado na minha frente, e sendo recebido com uma pancada no meio da testa, o que resultou num infeliz e desastroso desmaio.
- D-dante.. Dante... DANTE MISERABILE, SVEGLIATI, NON MORIRE, NON SO PRENDERMI CURA NEMMENO DI ME STESSO, figuriamoci di un uomo della tua taglia! SVEGLIATI PER L'AMORE DI DIO!
Meu olhar raivoso se direcionou ao projeto de rapariga prostrada em minha porta, ela até tentou argumentar comigo, mas minha irritação já havia atingido níveis astronômicos, então tratei de dirigi-la em direção a saída a base de xingamentos e gritos.
- É TUDO CULPA SUA! SUA VADIA MISERÁVEL! SUMA DAQUI! NUNCA MAIS APAREÇA NA MINHA CASA! VÁ EMBORA!
E dei-lhe com a porta no meio das fuças, logo voltando minha preocupação ao Salvatore, que se encontrava com um galo roxo, do tamanho de um novelo de lã, bem no meio da testa.
Maldita a hora que resolvi me desentender com aquela francesa desgraçada, se não fosse por ela, estaria aquecida nos braços dele a essas horas.
Eu não conhecia muito dos primeiros socorros, então coloquei sua cabeça num travesseiro, e fiz o possível pra não mexer nela, deixei apenas um pano com água fria e rezei para que ele acordasse logo.
Passei boa parte da tarde velando seu "sono", e enquanto isso, o galo em sua testa se tornava cada vez maior. Eu não pregava os olhos a tanto tempo, que acabei pegando no sono.
Quando acordei, não havia nem sinal de Dante, ele não estava na sala, nem na cozinha, nem no banheiro, e nem no "próprio quarto", o infeliz estava.
Estava a ponto de entrar em desespero, mas um ínfimo barulho acabou por me chamar atenção.
Foi como um suspiro ou algo do tipo, estava escuro, então eu me armei com a primeira coisa que me veio à mão, o bule de prata, o mesmo bule que acertara a cabeça da mulher de mais cedo.
Segui silenciosamente em direção ao som, que aparentemente saia do meu quarto. A cada passo que dava, mais o som se propagava em meus ouvidos, era um som rouco, seco.
Pensei que fosse a falta de isolamento acústico, me agraciando com a baderna dos vizinhos outra vez, mas não, era ali, no meu quarto.
Iria abrir a porta, mas me lembrei do trinco enferrujado, e do barulho infernal que fazia toda vez que aquela porta era aberta, então, me contentei apenas em espiar pelo buraco da fechadura.
A visão que tive, foi estarrecedora, para não dizer obscena.
Era Dante, esparramado em minha cama, o pano que lhe recobria a testa jazia seco, e amarrado em sua cabeça, vi gotas de suor desfilando por seu dorso nu, que subia e descia num ritmo entrecortado. Ele estava...
___
E foi isso!
___
💫
VOCÊ ESTÁ LENDO
Myrtle
RomantizmConheça a história de uma não tão jovem jornalista, acompanhe os perrengues de seu quase sossegado condomínio e (talvez) julgue suas ações, não tão dignas de uma adulta com alma juvenil.