CAP. 6

83 10 32
                                    

"Tente mover o mundo – o primeiro passo será mover a si mesmo." — Platão

Eu já não tinha mais nada além de água que escorria pelo centro do lábio inferior. Uma água quente que se misturava com minha saliva e deixava um gosto horrível no fundo da garganta.

Eu tomei um suspiro forte, limpando os lábios e fechando a tampa do sanitário. Aproveitei o mesmo para colocar meu braço sob e repousar meu rosto ali.

— Nancy? Está melhor?

A voz delicada soava através da porta de acordo com a proximidade da pessoa ali. Eu funguei, sentindo o nariz escorrer um pouco, talvez por não ter conseguido conter minhas lágrimas em momento algum. Elas ainda se encontravam escorrendo pelas bochechas.

— Estou bem. Já estou indo. — Me levantei ainda me apoiando no sanitário e dei a descarga no mesmo.

Engoli a seco e me aproximei da pia. Me olhei no espelho e tomei outro suspiro, cansada, um tanto quanto abalada e com os olhos vermelhos e inchados. Umedeci os lábios e lavei o rosto com a água gelada ali presente.

Movimentei as mãos para tirar o excesso de água nas mesmas e sequei meu rosto na barra inferior da blusa, mesmo. Estava desanimada, bem mais do que acabada, com a garganta em chamas, ameaçando fechar-se novamente pelo choro iminente, mas não tive pretextos para abrir a porta e dar-me de cara com Miranda Cryslie.

Ela não sabia exatamente o que dizer, me olhava nos olhos e, ao menos num gesto de gentileza, tentou não soltar um suspiro sôfrego por ver os hematomas em meu rosto. Ela forçou um sorriso e ergueu sua mão para tocar meu braço próximo a dobradura do cotovelo.

— Vem, vamos cuidar do seu rosto. — Ela disse, incitando-me a andar consigo até seu sofá.

Estávamos em seu apê, onde a mesma o dividia com Mike e Leslie. Eu não havia prestado muita atenção nos detalhes, mas era limpo e bem estiloso.

Eu me sentei em seu sofá e a mesma se direcionou ao banheiro para pegar seu kit de primeiros socorros. Então comecei a me relembrar de cada momento marcante desde que aquele dia se iniciou.

E, claro, a manhã havia começado bem demais para ser verdade. Eu deveria ter imaginado desde o começo, nunca fui uma mulher de sorte.

Após todo o acontecido conturbado e doentio que me ocorreu momentos antes de me encontrar ali, naquele apê pequeno e aconchegante, a polícia fora acionada e tudo ocorreu apenas como um grande flash.

Dois policiais subiram ao andar onde nos encontrávamos e pediram uma explicação de como tudo ocorreu, com detalhes. Eu quis vomitar, me senti febril e instantaneamente zonza, era quase como se eu conseguisse ver estrelas de desenho animado a minha frente.

Após contar tudo enquanto eles relatavam nada mais que um boletim de ocorrência, eles me perguntaram se eu queria que eles o levassem. Como se a decisão fosse minha, não como se o que ele houvera acabado de fazer fosse um crime absurdo. E novamente, eu senti vontade de vomitar.

Os policiais, aparentemente os mais preguiçosos do mundo, o levaram com presunção abarrotando seus olhos. E, eu sabia muito bem que o dinheiro de Haden faria uma bela participação na delegacia. Pensar nisso me causou ansiedade, um suor gélido na nuca e muito medo.

Algo similar ao pavor de reencontrá-lo.

Voltei a realidade quando Miranda sentou-se à minha frente com uma pequena maleta branca. Ele torcia os lábios em silêncio enquanto molhava o algodão com um líquido esbranquiçado.

Provavelmente antisséptico.

— O que você... — Indaguei ainda com a voz falha, secando rapidamente minhas bochechas que estavam quentes. — estava pretendendo fazer lá na empresa?

𝑵𝒐 𝑷𝒉𝒐𝒕𝒐𝒔 - 𝑳𝒆𝒐𝒏 𝑺. 𝑲𝒆𝒏𝒏𝒆𝒅𝒚 | +18Onde histórias criam vida. Descubra agora