CAP. 8

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"Escolhe um trabalho de que gostes e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida." - Confúcio

Eu não fazia ideia de quantas vezes aquele maldito número havia aparecido na tela de meu celular, notificando a chamada perdida. Mas lá estava ele, abarrotando a tela luminosa de meu aparelho em miúdos vermelhos, se acumulando em dezessete notificações.

Tomei um suspiro e passei as mãos pelo rosto.

Levantei-me lentamente da cama, tentando não acordar o grande homem que estava ao canto, próximo da parede.

Leon Kennedy estava sem camisa, com as costas coladas na parede provavelmente gélida. Estava tão frio na noite anterior que eu não tive coragem de fazer uma caminha para que ele dormisse no chão, como tínhamos o costume.

Leon me garantiu que seu corpo era naturalmente quentinho e que valia muito mais a pena termos a intimidade de dividirmos a cama por uma noite do que acordamos durante um ataque de hipotermia.

E, sim, todas as duas janelas do apartamento se encontravam fechadas. Mas era como se o frio se instalasse através, até mesmo, do concreto da parede.

Me direcionei a cozinha e coloquei a água para ferver, me direcionando ao banheiro para escovar os dentes e passar uma água no rosto.

Na noite anterior eu havia jantado com Leon e durante toda a noite maravilhosa que tivemos regada a alcoólicos e conversas divertidas, filosóficas, que nunca chegavam a conclusão alguma, eu pude ao menos ignorar as ligações em meu celular.

Mas nesta manhã tudo isso já estava me deixando mais do que apreensiva.

Meu pai estava me ligando todos os dias desde o dia em que Haden tentou atacar-me em seu escritório, e aquilo me soava mais do que suspeito.

O homem que não me ligava a anos nem mesmo para saber se eu me encontrava viva, estava ali, me ligando todo santo dia como se realmente quisesse saber o estado em que eu me encontrava. Se é que ele estava me ligando para dizer ou perguntar sobre coisas boas.

Até porque, ele não era uma pessoa boa.

Arqueei as sobrancelhas encarando meu reflexo acabado no espelho. Olheiras e algumas manchinhas espalhadas por todo rosto pela alimentação horrível que eu estava tendo durante todos esses péssimos dias.

Em questão de segundos nos quais eu encarava meu próprio reflexo no espelho, eu finalmente caí na real. Não importava o quão boa fosse a companhia de Leon e a nova família que eu havia ganhado graças a Leslie, minha vida continuava a mesma grande merda de sempre.

Eu passei um terço de minha vida no colegial, sendo chamada de coisas horríveis pelo simples modo que eu me vestia e agia, me sentindo reprimida e nojenta. Quando finalmente estava livre de todo aquele inferno tóxico que era o ensino médio, abandonando a dança que foi a minha maior paixão desde quando eu me entendia por gente, eu estava livre.

Mas então eu me perdi novamente.

Me afundei profundamente nas chamas do inferno e bati de frente com o próprio satanás reencarnado em meu chefe doentio e abusivo.

Não bastava ter sido expulsa de casa por motivo fútil e facilmente compreensivo se tudo fosse resolvido com um diálogo, abandonado minha maior paixão por puro bullying no ensino médio, mas eu havia me colocado na pior posição de todas: me tornar uma funcionária pública de um lixo tão miserável que não tinha sequer zeros a mais na conta para usar como justificativa pelos atos de superioridade.

Eu e mais ninguém, tinha toda a responsabilidade de ter fodido com muita força, todos os meus poucos anos de vida.

Engoli em seco e com as sobrancelhas arqueadas, eu sai do banheiro. Me sentia exausta e nada feliz naquela manhã, que agora se encontrava mais aquecida do que a do dia anterior. Leon Kennedy havia se levantado e estava à frente do fogão, desligando-o.

𝑵𝒐 𝑷𝒉𝒐𝒕𝒐𝒔 - 𝑳𝒆𝒐𝒏 𝑺. 𝑲𝒆𝒏𝒏𝒆𝒅𝒚 | +18Onde histórias criam vida. Descubra agora