CAP. 20

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"Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura." — Friedrich Nietzsche

Haviam muitos pés e muitas cabeças por aí sujando o meu chão e tornando minha cozinha uma bagunça. Minha cabeça doía e nem mesmo meus pés sob o chão gélido tranquilizavam a inquietude de todo o meu corpo. O que caralhos havia acontecido na noite anterior? Porque Hyo-In estava com um chupão do tamanho do país no pescoço e Leon com uma marca roxa próxima do olho direito?

— Eu adoraria que alguém me explicasse o que houve — Comentei alto, engolindo a seco por sentir um mal estar horrível.

— A vodka. É sempre a maldita vodka. — Hyo comentou sentado próximo a porta ao erguer sua mão para fazer-se presente.

— Jesus Cristo, eu tenho que trabalhar — Resmunguei ao checar as horas em meu celular, eu ainda tinha um pouco de tempo para me recuperar.

— Os macacões do seu trabalho. Eu vi eles. Céus, aquele tom de verde é horrível. — Ergui meus olhos para Leslie, que estava próxima ao balcão.

— Nossa, sim, exato. É tipo verde vômito, não é? — Mike completou, fazendo-me juntar as sobrancelhas.

— Como caralhos vocês sabem sequer onde eu trabalho? Eu nem contei para vocês! — Questionei irritada, sentindo os olhos pesados enquanto observava Leon se aproximar e se sentar ao meu lado. Leslie e Mike se encararam e sorriram divertidos. Céus, aqueles dois haviam me seguido como dois maníacos? — E o que houve com o seu rosto? — Afastei seus cabelos de seu hematoma mais do que visível e friccionei os lábios.

— Acho que ninguém quer contar nada do que houve enquanto seu pai está aqui — Dean Mckeinze comentou enquanto buscava um copo de água para o marido.

— É, meio que as coisas saíram um pouco de controle. — Adam completou.

— Foi o rock. Tudo culpa do rock. — Miranda Cryslie disse baixo, porém audível, estava deitada no chão de meu apê, logo abaixo da janela. Sua camisa de botões estava aberta e em partes arrebentada, mas ela não parecia se importar, apenas cobria os olhos com uma de suas mãos pelo sol que insistia em invadir todo o local pelas janelas.

— Eu não me importo, já vomitaram no meu carro mesmo. — Comentou meu pai, dando de ombros. Ele e Jo-Daya vasculhavam a cozinha para fazer um café forte para todos.

— Desculpa, tio — Nina pediu, também jogada em um canto de meu apê ao lado do irmão.

— Nós nunca mais vamos beber nessa vida, certo? — O irmão da mesma comentou aos resmungos, estava com uma cara péssima.

— Todo mundo fala isso no dia da ressaca, mas não se preocupem, semana que vem vocês estão lá, firme e fortes de novo. — Jo-Daya passeou pela casa enquanto distribuía copos a todos ao que meu pai preparava o café.

— Meu pai já disse que não se importa. Então, vamos, desembuchem! — Comentei alto enquanto direcionava meus olhos a cada um ali presente, esperando uma explicação.

— Bom, as coisas começaram a desandar depois que aquele cara gato cantou uma música sinistra olhando pra você no meio da plateia. — Indagou Nina.

— Foi quando você chamou Leon para dançar e parecia que toda a bebedeira da sua cabeça estava passando. — Hyo-In dizia.

— Parecia? — Questionei.

— É, parecia. — Indagou Leslie, logo continuando. — Foi quando outra banda foi chamada no palco e o tal do Ben desceu do mesmo e veio atrás de você. — Passei as mãos pelo rosto por alguns segundos, já sabendo da grande vergonha que viria a seguir.

— Ben tentou te tirar perto do Leon e uma discussão começou. — Comentou Mike.

— Então você vomitou nos sapatos de grife do Ben — Miranda comentou, risonha.

Ergui meus olhos ao meu pai que gargalhou alto e nada discretamente, fazendo Jo-Daya fazer o mesmo.

— Pelo menos depois disso a discussão parou. Então Leon te levou pro banheiro. — Disse Dean Mckeinze, tomando um suspiro forte e segurando-se para não rir.

— E logo você começou a insistir consequentemente que queria fazer um boquete no Leon. — Diante a fala de Adam, eu engoli a seco e meu pai se engasgou próximo a pia enquanto experimentava o café.

— Gritar. Ela começou a gritar. — Comentou Nina, erguendo seus olhos para encontrar os meus. — Você estava gritando tão alto que dava pra ouvir do outro lado do bar.

— Jesus amado. — Suspirei forte, passando as mãos pelo rosto novamente de modo quase que desesperado.

— Foi quando eu tive que te colocar no chão do banheiro e molhar seu rosto pra ver se você voltava ao normal. — Disse Leon, ao meu lado, fazendo-me olhá-lo nos olhos. — E então o desgra... Ben. E então, Ben entrou no banheiro.

— Depois disso Ben e Leon arrebentaram a porta de trezentos dólares do banheiro do bar porque saíram na porrada. — Umedeci os lábios e desviei os olhos ao ouvir a fala de Hyo-In.

— Foi demais. Parecia um puta rodeio do caralho. — Disse Nina, animada e risonha.

— É, foi demais! — Comentou Jo-Daya. — Ben estava tentando domar Leon, que era o boi furioso. Só que o boi não parava de socar a cara bonita daquele músico.

— Depois de ontem, acredito eu que ele não vai ser o cara mais bonito de todos por um bom tempo. — Disse meu pai, enquanto passeava pela casa servindo café a todos.

— Chifrudo — Leslie comentou risonha enquanto encarava o próprio copo de café.

Leon estalou os lábios ao meu lado, basicamente irritado, fazendo-me que eu olhasse seu rosto enquanto ele erguia seu copo para que meu pai servisse seu café.

— Ele disse alguma coisa em específico que te irritou? — Perguntei, então ele encarou meus olhos.

— Seu pai foi muito gentil em carregar todos nós até aqui. Eu nem faço ideia do quão difícil foi. — Leon comentou, desviando seus olhos de mim no segundo seguinte, então eu juntei minhas sobrancelhas, desconfiada.

— Que nada, Leslie estava sóbria e nos ajudou. — Meu velho deu de ombros enquanto retornava para próximo da pia e servia seu próprio café junto ao de Jo.

— E o que você e Jo-Daya estavam fazendo por lá? — Perguntei.

— Adam e Dean nos convidaram. Disseram que a música era boa e que seria divertido. Nós nos atrasamos e chegamos quando o formigueiro já estava na ativa. — Explicou risonha a esposa de meu pai, bebericando seu café.

— Leon e Ben estavam rolando pelo chão do bar enquanto todo mundo assistia e gravava e você estava desmaiada no banheiro. — Completou meu pai. — Filha, você é pesada, sabia?

O pessoal ali presente riu, fazendo-me praticamente choramingar de vergonha e virar todo o meu café fervoroso de uma vez só.

— Seu disfarce! — Comentei exaltada, deixando café escorrer pela boca ao virar-me depressa para Leon. Ele riu de minha fala.

— Disfarce — Repetiu com uma expressão divertida. — Não é como se eu fosse um espião, Nancy. Não faz diferença se as pessoas veem meu rosto ou não, eu só quero ser discreto.

Ergui as sobrancelhas e assenti em concordância ainda um pouco exaltada.

Tudo bem, ninguém ali questionou nada sobre minha fala mencionando o "disfarce", então não era realmente preocupante para ninguém.

Eu apenas engoli a seco e momentos depois me direcionei ao banheiro, eu precisava de um banho gelado antes de ir trabalhar, eu já tinha plena noção de que seria um dia longo.

Um dia muito longo.

𝑵𝒐 𝑷𝒉𝒐𝒕𝒐𝒔 - 𝑳𝒆𝒐𝒏 𝑺. 𝑲𝒆𝒏𝒏𝒆𝒅𝒚 | +18Onde histórias criam vida. Descubra agora