LAYLA
Suntown era uma cidade pequena onde apesar do nome na maioria do ano o frio estava presente, era uma cidade ensurdecedoramente silenciosa, foi onde cresci, onde aprendi sobre a vida e o quão violenta ela poderia ser, foi onde eu também perdi o amor da minha vida e após anos eu estava pisando novamente nesse lugar.
O aniversário de dez anos da morte do meu irmão se aproximava e era engraçado ver como o homenageavam.
Nos corredores da escola estava a foto deles com seus troféus e medalhas, eles eram atletas populares na época,ver sua foto era como um soco no meu estômago, a sua falta na minha vida nunca diminuiu e talvez a ferida deixada não cicatrize.— Layla! Louise, minha melhor amiga de infância, gritou, me tirando dos meus devaneios. — Meu Deus, que saudade!
— Também senti saudade! — A abracei animada.
Louise ainda tinha o cheiro da minha infância, o perfume de baunilha que exalava do seu cabelo loiro não havia mudado, ela tinha ido me visitar há dois anos e desde então não nos vimos mais pessoalmente.
— Como você está?
— Estou bem. — Respondi, me separando de seu abraço quente. — Mas e você?
— Ah, estou legal, só não gosto muito dessa coisa fúnebre que eles fazem todos os anos.
— Realmente, isso é mórbido, ainda mais no dia de ação de graças.
— É, fiquei sabendo que o Isaac está pela cidade, você viu ele?
— Não, ele deve estar escondido em sua mansão. — Dei de ombros, os pais dos amigos do meu irmão eram influentes na cidade.
— Pode ser, mas fiquei feliz que você voltou e vai passar o Natal comigo. — Louise abriu um sorriso lindo, seu rosto estava corado e nele tinha sardas que a deixavam mais bonita.
— Eu estou feliz de ter voltado também.
— Você vai ver o seu tio?
— Hum, eu preciso passar lá para pegar alguns livros que deixei antes de me mudar, então vai ser inevitável.
— Você vai ficar bem?
— Vou sim! — Eu precisava ficar bem. — E você?
— Vou ficar bem também!
Ela havia perdido seus pais há um ano e seu irmão mais velho, Kevin, estava aparentemente ocupado, pois ele não estava lá.
Quando as pessoas começaram a se dirigir para o local onde aconteceria o evento, puxei minha amiga até o campo de futebol, onde as homenagens póstumas se iniciaram. Tudo era um grande teatro naquela merda de cidade, todo clima de Suntown era mórbido.
A morte de William Alexander Jones, meu irmão, na minha cabeça nunca havia sido explicada, pois, no fundo, eu sabia que não havia sido um acidente.
Minha mente viajava quando entre a multidão eu o vi, o diabo estava ali e Suntown era o seu reino, era o seu inferno particular, ele caminhava entre as pessoas como um deus, um deus das trevas terrivelmente bonito, seu cabelo preto quase como petróleo estava um pouco curto, mas ainda era possível mantê-lo bagunçado, as roupas eram igualmente pretas, tinha o corpo definido, seus músculos estavam marcados em baixo do suéter preto, sua pele era branca e em seu braço tinha algumas tatuagens.— Você viu?
Assenti em silêncio e então meus olhos não saíram da imagem de Isaac Connor até o final daquela cerimônia. Ele era lindo, mas também era a lembrança de que seu amigo não estava mais ali.
Quando tudo acabou, fui rapidamente até o estacionamento e, após me despedir de Louise, dirigi até a minha antiga casa. Eu precisaria enfrentar o monstro que vivia nela, a criatura violenta que bateu e nos humilhou tantas vezes que perdi as contas.
Um frio intenso pairava no ar, mas eu sentia um arrepio na espinha que nada tinha a ver com o clima, tal sensação se intensificou quando abri a porta daquela casa, o cheiro de álcool e comida azeda tomou conta das minhas narinas, meus olhos encontraram a imagem do lixo humano sentado em sua poltrona de couro marrom rasgada.
— Quem te deu permissão para entrar? — Ele se levantou e me encarou com seus olhos castanhos.
— Essa casa é minha também. — Suspirei pesadamente, sentindo certo desprezo em relação a ele. — Mas eu só vim pegar alguns livros que deixei aqui da última vez.
— Não te vejo há anos e ainda se atreve a dizer que essa casa é sua? — Nick levou a garrafa de cerveja à boca, usava uma camisa xadrez surrada e jeans, estava mais magro, o cabelo e a barba haviam crescido.
— Se esse é o problema, fique tranquilo, não vou ficar nessa espelunca que está fedendo por muito tempo. — Falei, olhando a pia cheia de louça. — Estou no hotel.
— Você veio para quê? Deixar flores para o lixo do seu irmão? — Soltei uma risada anasalada e balancei a cabeça negativamente.
Ele não havia mudado nem um pouco, continuava o velho Idiota que ficou com a gente quando nossos pais morreram, era isso que ele sempre soube fazer, arranjar confusão e ser agressivo.
Quem cuidou de mim foi o meu irmão, ele havia acabado de completar 19 anos quando morreu, mas se responsabilizava como um adulto, ele era a minha família.— Você é um porco, olha para essa casa. — Falei, apontando para a sujeira em cima da mesa de centro.
— O que te faz achar que você pode falar o que quiser para mim? Ainda sou seu tio.
— Você é um peso morto. — Esbravejei, Nick não tinha o direito de exigir nada.
Ele jogou a cerveja no chão e se aproximou.
— Você é uma putinha, sempre foi. — Gritou, levantando a mão para me bater.
— Vai se foder e, se você tocar um dedo em mim, eu acabo com a sua vida, seu covarde de merda. — Me virei para ir até as escadas, sentindo meu corpo ferver de ódio.
— Pega suas coisas e some daqui, sua puta maldita!
Quando cheguei ao andar de cima senti minhas pernas bambearam, voltar para aquela casa era como voltar na noite de natal em que meu irmão foi encontrado caído na escada, a polícia concluiu que ele havia escorregado, eu não acreditava, mas também nunca soube o que havia acontecido de verdade, pois estava esperando ele na casa de Louise para passarmos o natal com os pais dela e nossos amigos, William nunca chegou.
Entrei no meu antigo quarto arrebatada por lembranças, a casa não era detonada assim, tudo foi se deteriorando quando meus pais morreram em um acidente de avião e Nick assumiu nossa guarda, William tinha apenas nove anos e eu oito, desde então ele encontrou formas de lidar com sua revolta, se juntou com Kevin irmão de Louise, Isaac, Alec e Lucas, para tocar o terror na cidade, mas o único menos abastado era meu irmão, nossos pais não tinham títulos de ascensão social como o dos outros e por isso ele sempre corria mais riscos de ser preso se o pegassem, ele aprendeu a se esconder nas sombras.
Balancei a cabeça para afastar as lembranças e peguei os livros que eu havia deixado para trás, quando estava pronta para descer ouvi um barulho de vidro se quebrando e as luzes se apagaram, desci as escadas rapidamente e ouvi a porta ser trancada, aquele arrepio estranho passou pela minha espinha novamente e corri até a porta tentando abrir.
— Abre essa merda! — Eu forçava a porta, mas era inútil.— Layla, socorro!
— Nick! — Forcei a porta novamente, mas ela foi destrancada e meu tio foi jogado para dentro, na penumbra, pude ver que ele estava usando uma máscara de porco, suas mãos estavam amarradas com uma corda.
— Porco, porco, porco! — A voz dele soou através da porta. — Cadê o meu jantar de ação de graças?
Dei alguns passos para trás quando olhei pela janela e vi um homem com uma máscara de palhaço com alguns detalhes que imitam sangue acenando, eu fiquei paralisada, pois aquela imagem não era estranha para mim e quando levei os olhos para porta meu coração disparou, ele estava entrando com sua roupa preta e máscara escura com detalhes em dourado, apesar do seu rosto estar totalmente coberto, eu sabia quem estava diante de mim, Isaac Connor após anos estava na minha frente.
— Feliz ação de graças.
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A Herança que você deixou (degustação)
RomanceDARK ROMANCE +18 Quando Layla Jones retorna à sua cidade natal após anos, ela se vê obrigada a confrontar os fantasmas do passado e um deles é Isaac Connor, o diabo de Suntown. Ao mesmo tempo, Layla se depara com as promessas perigosas que seu irmã...