Se eu queria enlouquecer, essa é a minha chance

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Se tem uma coisa que eu enquanto mulher metida a carrasca não planejo muito, são os papos que levo na casualidade. Não saio, não fumo, mal bebo, e passei os últimos dez anos tendo como amigas mais próximas meninas entre 8-10 anos, com papos nada profundos e tiradas nada espertas.


Mas enfim, é bom tentar papear com alguém da área — se é que aquele esperto quer realmente só papear comigo.


— Então antes disso tudo, você era...


— Advogado. Eu advoguei, passei no processo seletivo de defensor na região e estudei para o concurso de Promotor. — ele dizia, muito orgulhoso. – Eu tenho 35, se você ainda se pergunta.


— Era o seu sonho? — questionei, genuína.


— Digamos que era o que a minha família precisava. — pelo jeito nobre, eu duvido que ele não fosse o que consideramos um meritocrata. — Não posso reclamar disso aqui nunca. E você?


— Era o que a minha família precisava também. E também não posso reclamar. — sorri, lembrando de Esther.


— Eu notei a pequena lá na solenidade. É a sua cara. — ele dizia, bem-disposto a me agradar. — Irmã mais nova?


Filha. — vi ele virando assim o rosto, como quem quisesse saber demais. Sorri confusa pra ele. — O quê?


— Nada. Eu tô só fazendo cálculos. — ele falou, com as sobrancelhas franzidas e um sorriso convencido no rosto. — Você não tem mais do que 30 anos.


— Acho que você quer saber demais, coisa demais. — o vinho tinha começado a ter gosto de flerte. Terreno perigoso, muito perigoso.


— Como você descobriu? – riu, todo cafajeste, e bonito do jeito que era. — Não tem problema se você não me contar a sua história. O máximo que pode acontecer é que eu busque meus métodos pra te descobrir.


— É o quê isso, mau-caratismo de advogado? — falei desconfiada, acompanhando a gargalhada escandalosa que ele dava, pendendo a cabeça cinza para trás, tentando me convencer de que era um bom elemento só porque era Doutor. Ah, paciência, Stênio.


— Você é muito desconfiada. É mau de escrivão? Tem que repassar todas as informações de ponta a ponta?


— Você não se importa com a verdade de ponta a ponta? — fingi uma revolta, flertando com ele de volta.


— Está colocando palavras na minha boca, Doutora. – apontou o dedinho em minha direção, e eu tratei de segurá-lo, num reflexo. Ele era de uma linha tão cafajeste, que tomou a outra mão naquele joguinho, e em menos de 1 minuto, estávamos de mãos dadas. Típico! — Me conta sua história. Da sua boca, deve sair melhor do que de qualquer um que acha que sabe alguma coisa de você.


Desgrudando sutilmente das suas mãos, e esparramando meu antebraço no balcão do bar, que não fez com que ele fugisse com as mãos grossas pra cima de mim. Segurou meu pulso, brincando com a pulseira, e eu ignorei (ou pelo menos fingi).

Porque Não Eu?Onde histórias criam vida. Descubra agora