Mas, no fundo, gostas quando a noite vem.

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O restaurante era um clássico italiano, focado em divulgar os vinhos de um vinhedo da região, tinha como expertise a aula de harmonização de vinhos guiada

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O restaurante era um clássico italiano, focado em divulgar os vinhos de um vinhedo da região, tinha como expertise a aula de harmonização de vinhos guiada. Você selecionava por mesa se preferia tinto, branco e rosê, e a partir disso, criava-se todo um cardápio especializado de acordo com seu gosto, e a partir dali, as explicações vinham num encarde que acompanhava os pratos.


Tinto, como deveria ser. Se ele tivesse escolhido vinho branco, eu estranharia decerto. Eu não precisava dizer que não lemos uma folha sequer daquilo, não é?


É que o papo com Stênio fluia como se não necessitasse de reforço nenhum: conversávamos sobre qualquer coisa, sem dificuldade nenhuma. E era uma coisa gostosa de se conviver. De repente, as horas voavam, e nós continuávamos fascinados com os detalhes soltos da vida de cada um.


Vinho vai, vinho vem: os papos se entortaram pra um lado e possivelmente se inclinavam para uma coisinha a mais. Acontece, é uma coisa de adultos, eu previa desde o primeiro minuto que os nossos olhos se cruzaram naquele lugar. Não era nada imprevisível nas minhas contas que eu e ele éramos compatíveis, porque já tivemos a sorte e privilégio de experimentar isso em um momento avulso, a muitas noites atrás.  


Que distância determina essa necessidade, afinal de contas?


— Não, não... Eu não admito isso como verdade. Não é possível que você tenha passado mais de 14 anos sem ter ninguém te atormentando, Doutora.


— E eu disse que fiquei solteira durante todos esses anos por acaso? — seu queixo foi caindo, lentamente. — Tive Beto. Ele era Sargento em Niterói, nos conhecemos na época da delegacia, ainda. A gente namorou quase um ano e meio quando a Esther tinha 8 anos, eu acho.


— É claro que você namorava um policial. — disse, um tom mais amargo do que deveria.


— Coé, Stênio! — disse, um pouco mais altinha do que devia. – Eu sei que não sou tão previsível assim.


— E definitivamente você não é, Heloísa. – ele dizia, engasgado com o próprio humor. — Isso foi apenas uma coisa que eu tive a sorte de prever e reconhecer antes que você me dissesse. Mas você não é nada fácil de se ler, fique tranquila. Seu mistério está resguardado.


— Tá. É sua vez de revelar o último segredo: quem é ela?


— Ela quem, hein, Heloísa Sampaio? – disse, com os braços postos na mesa, me deixando atônita com o tom que usava.


— A outra mulher. — falei como se eu fosse alguma.


— Próxima pergunta. – canalha.


— Não me diga que estou conversando com um homem comprometido, Dr. Alencar.


— Não, não. Quem está se comprometendo com essa alegação aqui, é você. — disse, batendo com os nós dos dedos na mesa de madeira. — Revés.


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