𝟏 - 𝗗𝗶𝘀𝘁𝗮̂𝗻𝗰𝗶𝗮.

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Carregar o peso de  medalhas não é algo fácil, normalmente, atletas que querem e só aceitam estar sempre no pódio, podem passar a desejar isso doentiamente, e treinar doentiamente por isso. Infelizmente eu nasci com essa maldição, mas isso me trouxe ao pódio em todas as vezes que eu competia, mas mesmo assim, isso nunca se tornou algo bom, já que a pressão era muito maior.

Eu tenho a sorte do meu, digamos, técnico, ser quase que um psicólogo para mim. Felipe Gustavo, ajudava tanto a mim quanto a Rayssa Leal, uma estrela no skate, e muito famosa aqui, no Brasil. A diferença é que eles eram melhores amigos desde bem novinhos, e ja eu conheci Gustavo três anos antes de estrear em Tokyo. Mas vamos voltar ao presente, dia dezenove de julho de 2024, estávamos nos preparando para ir a Paris, meus braços estavam em volta do corpo de minha mãe, que era centímetros mais baixa, e um pouco mais gorda que eu.

—Cuida bem dela. — Disse assim que saiu de meu aperto, direcionando sua palavra a Felipe, que concordou e a deu um abraço também, e a garota baixinha, Rayssa, também se despediu de minha mãe, assim, poderíamos embarcar.

Não poderia levar minha família comigo, o que me frustrou bastante, pensava nisso enquanto algumas lágrimas desciam pela minha bochecha,molhando o meu rosto, mas as limpei rapidamente para que ninguém se preocupasse.

Empurrava as malas pesadas com certa dificuldade por ser uma franga, a academia realmente não estava dando muito resultado.

—Caramba! Eu juro que eu não coloquei muita roupa nessa joça. — Suspirei, e escutei a risada de Rayssa  de longe, e a encarei. Nós não somos muito próximas, quer dizer, somos boas amigas, eu sou da família como Felipe, e eu também treino com ela na sua pista mas, em 2023 aconteceram coisas que nos deixaram um pouco distantes, e mais distantes ainda quando eu entrei em um relacionamento, e então tudo ficou meio desconfortável entre nós.

—Quer que eu carregue? Acho que a minha ta’ mais leve que a sua. — Ela disse com um meio sorriso.

—Não, valeu, eu consigo carregar. — Meus olhos desviaram dos seus antes de minha resposta, e minha feição se manteve séria. O clima ficou meio pesado e ficamos em silêncio, mas o pequeno Arthur, irmão de Rayssa, apareceu ali, conversando conosco, o que modificou o clima severamente, trazendo a alegria contagiante de seu irmão e seu sorriso com dentes tortos.

Quando finalmente estávamos embarcando no avião, me sentei ao lado de Felipe, e Rayssa estava do outro lado, na outra janela. Eu estava pronta para colocar meus fones de ouvido e ficar ouvindo Arctic Monkeys, algumas antigas dos Beatles e clássicas brasileiras quando senti um dedos fino cutucar meu ombro, virei minha cabeça rapidamente para um garoto de cabelos cacheados que me olhava com certa decepção.

—Até quando vocês vão ficar assim?— Felipe falou, se referindo a mim e a Rayssa. Deitei meu corpo no banco e em sincronia soltei um suspiro, o encarei com um olhar um pouco vazio, pensando em algo para responder.

—Como você quer que a gente se entenda? Sei lá, acho que nós nunca vamos ser como antes.

—Ta, então por que você ainda usa esse colar, e por que ainda usa o anel, só trocou o dedo onde ele ficava antes?

No momento em que Felipe comentou sobre Tais acessórios, disse um “merda” mentalmente e tirei rapidamente o anel de meu dedo, o enfiando no bolso de minha calça, e depois meus dedos se encontraram e eu comecei a mexe-los sem parar enquanto eles estavam começando a soar um pouco.

—Admite, você ainda gosta dela. Ou ainda não superou ela. —Ele disse com um sorriso provocativo, e eu suspirei pela segunda vez.

—Não é isso, é que.. Sei lá, foram momentos importantes para mim, entendeu? —Disse levantando uma mão e apontei para ele.

—Aham, mente para outra pessoa. Vocês duas ainda se amam, ou vocês se superam ou eu não sei o que eu faço.—Ele disse e eu dei uma risadinha, que parou bem rápido.

—Se você não sabe, imagina eu. —Sorri enquanto ele me encarava, então coloquei meu fone e liguei meu celular, abrindo o spotify e abrindo em uma playlist que eu havia criado.

Eu já podia ver as nuvens pela janela, enquanto eu escutava o soar de “After Hours” no meu fone, senti todo o cansaço daquela semana cair sobre meu corpo, e meus olhos se fecharam, eu estava pronta para dormir boa quatro horas sem problemas.

Às vezes, no fundo dos meus sonhos, eu ainda podia ver uma imagem de seu sorriso, um sorriso tão encantador, e seus olhos que se assemelhavam a purpurina, de tanto que brilhavam, sentia seu toque em minha cintura, e quando seus lábios iriam tocar os meus, eu acordei. Merda de sonho. Tirei meu fone rápido, olhei para o lado e Felipe dormia, inclinei meu corpo e Rayssa dormia agarrada a Thur, meu interior sorriu com aquela cena, mas a visão que tinham de mim, era de uma Maria Fernanda com olhos desesperados e tristes observando sua ex namorada.

Voltei a minha posição anterior, com as costas apoiadas no banco, penso naquele sonho ridículo, minhas mãos foram a meu rosto com certa agressividade, já estava escuro, e eu podia ouvir a aeromoça distribuindo o jantar para as pessoas do avião, cutuque a mão de Felipe até que ele acordasse assustado.

—O que?! O que houve? — Ele me encarou, como se estivesse esperando as máscaras de oxigênio e que o avião estivesse caindo.

—Janta.—Murmurei com a voz rouca, e logo ele suspirou, e me repreendeu por ter assustado ele.

Ela vinha devagar, mas quando nos alcançou, nos ofereceu um tipo de marmita chique, mas seca, com pouca comida.

—Do you guys want something to drink?— “Vocês querem algo para beber? “ Acho que ela disse algo assim, meu inglês não era tão bom assim.

— Strawberry juice, please— Disse, ela me deu um sorriso largo e uma garrafinha chique com suco dentro, suco de morango.

Me perguntei se aquilo iria me encher, tinha apenas uma massa, arroz e umas coisas, acho que ninguém come tão pouco.

       

𝗦𝗲𝗰𝗼𝗻𝗱 𝗮𝘁𝘁𝗲𝗺𝗽𝘁 Onde histórias criam vida. Descubra agora