𝟓- 𝗦𝗲𝗺𝗽𝗿𝗲 𝘁𝗲 𝗮𝗺𝗲𝗶

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As palavras de Paige se mantiveram em minha cabeça pelo resto da noite. Talvez ela esteja certa por um ponto um pouco diferente, talvez o fato de eu ter pensado demais em Rayssa nos últimos dias tenha me afastado da minha namorada, fazendo eu desfocar dela e focar em Rayssa. Mas nada disso explicava o motivo de Paige ficar dois dias fora com uma garota.

Tudo estava tão fora de ordem que eu não consegui concluir minhas tarefas com excelência como sempre, além do fato de eu estar ignorando Rayssa desde a manhã, pois não consegui conversar com ela antes. Limpava o suor de meu rosto com uma camisa com minha imagem de estampa, óbvio que não meu rosto real, mas um tipo de cartoon meu manobrando, era minha camisa da sorte, então digamos que ela estava me ajudando a suportar aquele dia péssimo.

Pegava impulso no skate para minha próxima manobra, e ocorreu tudo bem, cruzei ao lado de Paige, que quase me atropelou com a droga do skate, talvez ela estivesse irritada. Parei de andar para me acalmar um pouco, sentei e abri minha garrafa d'água, bebendo a água que tinha ali, pude ouvir um som de skate, meus olhos se abriram e a cacheada estava de top, em meio ao Sol de aproximando.

-O que aconteceu com você? Está tudo bem? -Nenhuma risada de sua parte e nem da minha, tudo ficou estranho de novo.

-Não, eu estou bem-Fechei a tampa da garrafa, e comecei a me levantar, colocando as mãos na cadeira.

-O que vocês falaram ontem? Ela falou de mim?

-Não tem nada haver com isso.- Olhei para a pista, vendo Paige me encarar, nos encarar na verdade, Rayssa também poderia sentir aquela sensação de desconforto, e então ela olhou para trás. -Eu não preciso ser gentil com você.

Não esperei que ela terminasse, corri e subi no skate, voltando a manobrar, mas agora manobrar de verdade, no corrimão grande e todo tipo de manobra, deixando me levar pelo tempo, e quando pisquei, o treino já havia acabado, e Pamela gritava para que eu viesse logo.

-Foi mal pela demora. -Disse ofegante, recuperando o ar de todas as voltas que eu não respirei.

-Quer morar lá agora? -Pamela disse com ironia, e eu ri com sinceridade.

-Ah, eu quero! -Brinquei, mas na realidade eu gostaria de morar em uma pista de skate, e dormir em barraquinhas semelhantes às que nos abrigamos aqui para nos protegermos do sol.

Continuamos o caminho conversando, eu e Pamela e Rayssa e Felipe, eu estava quase pedindo para trocar de quarto e ir dormir junta a Pamela, mas sabia o quanto ela gostava de seu espaço pessoal e não iria a incomodar com isso, então talvez essa noite terminaria com uma briga. Ainda estava muito quente, então retirei minha camisa da sorte, a colocando no meu ombro, e entramos no elevador, conversa de lá, conversa de ca, e graças a Deus que eles não poderiam ouvir meus pensamentos com esse barulho, já que Felipe, Rayssa e Pamela sabiam prever muito bem meus sentimentos, como se fossem meus pais, como se fossem uma real família.

A porta se abriu, e passamos para o corredor do terceiro andar, alguns passos e já estávamos no dormitório, encarei Pamela como se estivesse pedindo socorro, mas ela riu, ela achou que eu estava fazendo graça.

-Tchau galera! Até amanhã! -Disse Felipe, e nos despedimos, peguei a chave em meu bolso e destranquei a porta, a abrindo rápido e largando o skate no chão, que "andou" até a parede e bateu nela, parando ali.

-Por que você não pode ser gentil comigo? Eu não fiz nada. -Ela bateu a porta atrás dela, o que subiu um pouco minha raiva.

-Porque você está estragando o meu relacionamento. -Me virei de frente para ela, encarando seus olhos confusos.

-Como assim?

-Porque você não sai da minha cabeça! Eu só penso em você e isso me faz esquecer da Paige!

-Mas eu não tenho nada haver com isso, afinal é você que está pensando, é só parar de pensar rapaz. -Ela disse com um risinho.

-Tem sim, óbvio que tem, porque você está tentando voltar com alguma coisa que não vai mais existir! Por que você está agindo desse jeito? -Quase berrei, meu coração se despedaçou em ver seu rosto sem um sorriso, sem nenhuma expressão de felicidade no rosto, eu queria muito chorar, tentava conter minhas lágrimas, e enquanto isso os olhos de Rayssa se avermelhavam um pouco.

-Porque eu ainda te amo! E você me ama também, quem você achou que ia enganar começando a namorar essa garota um mês depois da gente terminar?!

-Minha mente! Eu queria namorar alguém que iria me assumir, e não ia ter vergonha de mim.

-Eu não tinha vergonha de você!

-Não, mas ficava se pagando de hétero para os outros e nunca quis me assumir, você sabe o quanto isso me magoava?

-Eu tinha medo! Cara você sabe disso. -Suspirou.

-Mesmo tendo um monte de atleta lésbica no país inteiro. -Disse com ironia.

-Mas mesmo assim eu ainda tinha! -Ela gritou, o que me assustou, o que me fez dar um passo para trás, quando Rayssa notou, respirou fundo, se acalmando. -Eu nunca quis que você se sentisse assim, eu só não estava totalmente segura de mim naquela época, mas eu sempre te amei, eu nunca deixei de amar você!

O silêncio se instaurou no quarto, meu coração apertou com o que Raysa havia dito, eu não sabia o que falar, sinceramente não esperava que ela dissesse isso, mas ela disse, e disse sem medir palavras ou sem gaguejar, olhando na minha pupila, apertei o anel em meu bolso, nossa aliança, que eu nunca deixei ficar longe de mim, que sempre esteve me acompanhando mesmo quando brigávamos, brigávamos mais feio que isso, a aliança que toda vez que eu encarava minha pupila dilatava, porque era como olhar para ela. E agora ela me disse todas essas coisas, eu não poderia estar mais feliz, na verdade, aliviada, por ter soltado tudo o que eu queria e o mundo não ter acabado. Agora sim, pude sentir meus olhos se lotarem de lágrimas, que eu não sabia ao certo o significado delas, mas sabia que elas não eram de tristeza, algumas caíram nas minhas bochechas, molhando meu rosto, e meu nariz começou a fungar.

-Então, o que você quer que eu faça? -Ela sorriu, o sorriso mais brilhante,brilhante mesmo se seus dentes fossem amarelados. E eu sorri também, mas um sorriso não tão brilhante.

-Que você converse com a Paige, e termine com ela.

-A gente meio que já terminou então, outra coisa. -Falei rindo, e ela pareceu um pouco surpresa, mas não comentou nada, apenas abriu seus braços, e eu corri para eles.

A abracei tão apertado que ninguém poderia nos separar, afundei meu rosto em seu pescoço, molhando o tecido de seu top, e eu pude sentir as lágrimas de Rayssa em minha pele, ambas soluçavam, não dizemos nada, eu não queria falar, queria sentir seu corpo grudado ao meu de novo, me apertando como antes, nada mudou, aparentemente, ela está como sempre esteve. Me afastei, com um sorriso de orelha a orelha, Rayssa estava como eu, mas seus olhos um pouco mais inchados.

Me aproximei, juntando nossos lábios, iniciando um beijo lotado por saudade. A mão esquerda da cacheada foi de encontro com minha cintura, e a direita no meu pescoço, fazendo meu corpo se arrepiar, meu interior pulava de alegria, uma de minhas mãos acariciava seu cabelo, a falta de ar interrompeu nosso beijo, mas Rayssa ainda queria me beijar, espalhou selinhos por todo o meu rosto, descendo ao meu pescoço, o que me tirou um sorriso.

A única coisa que era estranha ali, era a sensação de que aquela alegria não iria durar muito.

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meu deus, ta me dando um desanimo para escrever com esse flop

𝗦𝗲𝗰𝗼𝗻𝗱 𝗮𝘁𝘁𝗲𝗺𝗽𝘁 Onde histórias criam vida. Descubra agora