Miojo gelado

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Frustração do caralho era tocar, tocar, tocar e não tocar porra nenhuma.

Caralho, se Leehan soubesse que seria tão exaustivo voltar a aprender, talvez ele não começasse, mas agora ele não podia parar.

Como algo que um dia pareceu tão fácil pode ser tão desestimulante?

Ele se perguntava sobre tanta coisa e não tinha resposta alguma. Woonhak e ele voltavam a conversar lentamente, mas ninguém sabia do quão cansado estava de tentar se lembrar.

Memória muscular era algo surpreendente, mas ela sozinha não ajudava tanto. Era isso que ele pensava cabisbaixo por um canto qualquer da universidade. De olhos fechado ele dedilhava o próprio corpo tentando se lembrar de como começava a maldita música.

Fazia isso com os ombros rígidos e doloridos, cada tensão em seu corpo comia seus músculos internamente.

Ao longe sentado com um caderno em mãos e um amigo ao lado, os dois falavam baixo sobre o tal rapaz.

— Não faço ideia do que eu faria no lugar dele.

— Né? — Concordou Taesan

— Ele parece até vulnerável, é ruim até de ver. — Comentou Riwoo que sentia pena a medida que a empatia o desesperava — Vou pra garagem, preciso espairecer.

— Eu já vou também, tem miojo na geladeira.

— Cara, eu não vou nem perguntar por que. — Eles riram se despedindo, como se não fosse se ver mais tarde.

Ao ficar sozinho Taesan sentia algo se quebrar dentro de si, achava que nunca veria o suposto inimigo em tal posição lamentável.

E lá estavam eles, separados por alguns metros de um passado injusto, imaturo e ridiculamente recente.

Talvez fosse por isso que fosse tão difícil se desvencilhar da mágoa, só tinha pensado na possibilidade da culpa não ser realmente dele agora.

Viu de longe Jaehyun se aproximar se perdendo do sorriso enorme que abriu quando esbarrou com Riwoo, agora ajá distante dos dois.

— Eai, hoje tem ensaio?

— Uhum, avisa no grupo. — Respondia se o direcionar o olhar, o que fez o outro também ver Leehan sentado, olhava para o nada quase cabisbaixo.

— Bem que a gente podia ajudar ele, né? Ia ser uma boa pra banda também.

— Não — negou dessa vez num tom diferente, mais por respeito ao rapaz do que pela vontade de se manter longe ou qualquer mágoa.

Mas o Myung claramente não notou, já que foi logo em direção ao rapaz conversar sobre sabe-se lá o que.

Ao longe Leehan via o líder da banda dar um tapa na própria cara, se contorcia pelo rapaz que tagarelava ao seu lado.

— … só que se você entrar pra nossa banda, mal vai dar pra notar, todo mundo sai ganhando! 

— Eu não toco mais — Disse ele com um sorriso dolorido.

Foi tudo que Taesan notou ao ir buscar Jaehyun, se sentiu meio magoado com tal afirmação não sabia o motivo ao certo, mas era chocante ver alguém desistir da música, mesmo se fosse da boca pra fora.

— Vamo, o Riwoo tá esperando — Foi o que disse o arrastando depois de cobrir as costas do amigo com o braço.

— Eu te mando mensagem! — Avisou Jaehyun ao rapaz que apenas sorriu em despedida.

E é claro que chegando na casa, mais precisamente na garagem de Taesan, Myung convenceu todos que faltava pouco para terem um novo baixista.

Esses eram um dos poucos momentos que Taesan gostaria de brincar de disco com um cachorro imaginário usando um dos pratos da bateria. De preferência, faria Jaehyun de o bobinho e tentariam a sorte, ou azar, de errar o pescoço do tal.

Para cortar o clima de merda a guitarra disparava na frente um dos versos dedilhados mais lindos que Taesan conhecia, fazendo o instrumento cor de vinho chorar abaixo de si.

Aos poucos os demais iam se juntando e encontrando ritmo naquela bagunçado sons e silêncios tão gostosa de se ouvir.

Na tentativa de calar a boca do tagarela os garotos se encharcadas de suor que pingava o fazendo cantar cada vez mais alto.

Só a repetição das músicas no volume máximo com um microfone baixo poderia fazer o líder sorrir de tal forma.

Quando rouco Myung se tocou de que não falaria tão cedo, por isso os ensaios em grupo vieram a ser adiados e junto deles a encheção de saco temporária da falta de um membro.

Depois de despachar todos garotos fedidos e tomar um banho, afinal emos também podem ser cherosos, Taesan recebeu uma notificação de Ricky, o antigo baixista.

Acabaram virando a noite conversando um com o outro, isso tudo pois ele contava sobre a viagem enquanto Taesan o incentivava a não para de tocar e encontrar um caminho.

— Talvez eles não sejam tão fodas quanto a gente, mas se você achar uns caras já dá pra montar alguma coisa — Disse Taesan no áudio que enviava.

Sorriu lendo reafirmações das mais bestas que gritavam “estou com saudades”, mas no fim só concordava que ninguém alcançava a música que faziam juntos.

Ele dormiu assim que o sol nasceu, sem despertador abusava da sorte para chegar no horário na sala.

Mas tinha sido um dos primeiros a chegar no fim das contas, com um pouco de sono ele se lembrava do quão divertidas equações poderiam ser.

Era um desgraçado, quem em sã consciência passava a aula toda de fone e conseguia acertar todas as contas de primeira? Pois é, Taesan era esse cara.

Os colegas já tinham desistido de pedir ajuda, afinal ele era tão ruim explicando quanto era bom fazendo.

O que ele não contava era que mais uma vez seu lugar de cochilo estava ocupado, seria Leehan de novo na sala de música durante o intervalo?

Dito e feito, lá estava ele sentado ao chão ao lado do suporte do baixo, que parecia o encarar de volta assustadoramente.

Via tudo através do vidro da porta, sem coragem de interromper, talvez pela intensidade dos sentimentos ali trancados.

Mas foi curioso o suficiente para entrar, se perguntava muito sobre o rapaz, quanto ele lembrava? Se tinha esquecido até de quem era, do que ele sabia?

Entrou fazendo o click da porta abrindo ecoar pela sala.

Se sentou do lado oposto, pegando a guitarra e encarando do outro lado da sala, levemente esperançoso de chamar a atenção.

Plugou algumas coisas e numa caixa de som ridiculamente minúscula o som saía como se só fosse convidado a tremer os tímpanos de Leehan, que se virou vidrado nos dedos ágeis.

Pouco tempo levou até que o compositor parasse dando margem a outro diálogo, além do que havia sido oferecido até então.

— Taesan, certo?

— Isso, sou eu. Vim dormir e te vi por aqui. — Foi sincero — Como vai com o baixo?

— Eu tô indo bem — Respondeu inseguro

— Não parece tão bem daqui — Comentou com um sorriso que quase tirava sarro da mentira ruim.

— Tem muita coisa que eu ainda não consigo fazer, é estranho. Mas você toca muito bem.

De ego inflado pelo elogio inesperado Han constatou que o de fios longos realmente não sabia muito sobre o passado que dividiam.

— Também toco baixo — Blefou confiantemente — Se quiser, posso te ensinar.

Surpresos eles foram interrompidos pelo sinal que avisava que os professores podiam começar a aula no próximo segundo.

— Te vejo segunda, por aqui — Disse o quase loiro sem dar brecha para pensamentos de ambas as partes.

Enquanto corria para a sala ele ria do desafio adquirido, tinha exatamente três dias para aprender a tocar baixo.

Lembranças RuidosasOnde histórias criam vida. Descubra agora