Mudança brusca de planos

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Ouviam o inusitado reggae misturado com o flow do R&B que batia na porta do Hip Hop, mas não chegava a entrar.

Naquela vibe gostosa de pernas para o ar, o apartamento de Leehan nem parecia ser um cubículo entediante.

Woonhak desenhava entre rabiscos monocromáticos, usava um caderno cheio de poemas de Leehan que já tinha perdido as contas de quantas vezes tinha passado o olhar pelas mesmas linhas.

— Hyung, acho vou trancar o curso

— Mesmo? — Virou para o rapaz

— Uhum

— E vai fazer o que?

— Eu quero começar um curso de artesanato, preciso trabalhar pra pagar

— Oh, não sabia que você gosta de artesanato

— Era algo que meu avô fazia pra viver, sempre quis aprender

— Que legal Woonhak, você vai fazer falta nos intervalos

— É, também vou sentir a sua falta — Respondeu quase melancolicamente

— Mas arrume espaço na sua agenda pra me fazer companhia

— Com certeza!

Falou animado, já que seu maior receio em deixar a faculdade que não o apetecia era não ver mais os amigos que tinha feito.

Se via livre para tentar mais com todos eles ao seu lado, por mais que não pudesse estar com todos eles, ainda se acomodava na presença de todos.

Via na tela do celular de Leehan um chat, ele parecia reler a conversa, passando por um foto com todos.

Woonhak sabia que tinha ido até os seus mais novos amigos a um pedido de Leehan, isso o deixava ainda mais agradecido. Tinha pessoas com quem podia contar e isso compensava não ter amigos diretamente da mesma idade ou na mesma sala.

Leehan tinha sido uma boa ponte, então ele se viu na oportunidade de fazer o mesmo por ele.

— Tem falado com Jaehyun hyung?

— Não — Suspirou tapando a própria visão com seu antebraço.

— Talvez agora seja difícil pra ele se aproximar de você primeiro

Leehan pensou em quando tinha concordado em receber aulas, ele tinha sugerido.

Quando estava com medo de todos, ele que tinha literalmente corrido atrás de si.

Agora quando foi vê-lo e isso resultou em outra briga, ele tentava o tempo todo passar de uma barreira de proteção que Leehan tinha criado a sua volta.

Sabia também que teria apanhado se não fosse Taesan e duvidava que Jaehyun não se arrependesse da forma como teria agido.

Agora, enquanto sentia falta da presença do guitarrista em sua casa, dele o apoiando a consertar o que tinha quebrado. De estar ao lado dele.

Se perguntava se era demais tocar naquelas mãos trêmulas agora, se cruzaria a linha ao explicar como tinha conhecido a melodia de seu término, ou de como tinha guardado consigo desejos que só ele poderia suprir.

Se sentia injusto em sempre ajudar nas brigas e quase nunca nas resoluções, no fim das contas ele tinha ficado sozinho, mas queria aprender a estar junto da forma certa.

Queria segurá-lo e acalmá-lo ele mesmo, não queria mais assistir outras pessoas fazendo isso, era irritante.

E era sim um ambicioso arrogante por querer tanto, mas se tivesse a chance agarraria aquele garoto com tudo o que tinha.

Continuava ainda sim com tanto medo de ser tudo coisa sua da boca pra fora, amarelando na hora em que ele mais precisaria de si.

— Leehan hyung?

— Hum — Voltou a si

— Você ouviu?

— Uhum… Na real, não ouvi

— Eu disse que era uma boa resolver as coisas, antes delas ficarem mais estranhas

Na verdade, Woonhak queria ajudá-lo antes de deixar a faculdade, por isso a pressa.

Assim, convidaram Jaehyun para um bar recém inaugurado, numa mesa para quatro. Juntar bebidas borbulhantes que ele gosta com alguém que ele desgosta provavelmente iria equilibrar as coisas.

A música tinha um volume aconchegante, Sungho finalmente entrou acompanhando da estrela da noite, um Myung levemente desnorteado.

— Na verdade eu pedi ajuda pra te trazer aqui — Confessou Leehan quando ficaram lado a lado aplaudindo a última música escutada.

— Eu sabia, Sung me disse

— Ah — Pensou um pouco — então obrigado por vir

— Eu queria fazer algo pelo Taesan, ele sempre fica com tudo pra ele, isso me deixa meio puto — Se sentou e deu um gole abrindo a conversa para os outros dois ao falar mais alto — não era pessoal, eu só peguei as dores dele

— Acho que a gente nunca viu ele tão mal também — Acrescentou Sungho depois de ser convidado a participar com dois tapinhas na coxa

— É, isso foi foda. De qualquer forma, se você deve desculpas a alguém, acho que é pra ele.

Woonhak assistia todos atentamente, viu quando o amigo assentiu concordando mais do que deveria.

— Eu vou falar com ele, só queria resolver isso com você antes

— Se é assim — Ele se levantou e estendeu a mão com um soco de formalidade — Desculpa pela confusão da semana passada.

Ele reverenciava de forma a obrigar o outro a fazer o mesmo. Algo sobre Jaehyun era que ele via no formal a oportunidade de ser sincero, por isso se esforçava para sair da imagem que tinham dele costumeiramente e entregar o significado mais puro de suas ações.

Ao ser imitado ele ouviu o que Leehan tinha a dizer:

— Desculpa por fazer vocês brigarem

Então aquela noite fluiu, não como melhores amigos, mas bem melhor do que qualquer outra interação entre o quarteto.

Em breve Woonhak se despedia de seu hyung favorito, estavam na fachada do prédio do mais novo que tagarelava sobre como achava que os dois tinham feito um bom trabalho se reconciliando.

Acharia um saco vindo de qualquer outra pessoa, mas tinha se habituado, ele gostava de se atentar às pequenas coisas e se encantar por elas, por isso nunca fechava a boca, era interessante no fim das contas.

— O que acha do que ele disse sobre falar com Taesan?

— Vou fazer isso amanhã

— Tá

— Eu vou!

— Hum, tá bom. Me manda mensagem!

— Pode deixar, agora entra, vamo que tá frio!

— Tchaau! — Disse acenando com um sorriso grande.

Pensava imediatamente sobre o próximo dia e temia que que tal linha de pensamento o tirasse o sono.

Retomava várias vezes o que queria dizer enquanto caminhava de mãos escondidas nos bolsos não tão quentes.

Envolto na coberta, pensava qual seria a sensação de receber um “boa noite” de Taesan, se se sentiria confortável nos braços dele.

Tinha medo de estar levando o beijo muito a sério, já que não tinham tocado no assunto ainda por puro desespero dele.

Mas era atravessado pelos olhos brilhando quando juntos no sofá, ou pela atenção que tinha ganhado em seus lábios quando foi visitado pelo antigo professor fajuto.

Ele dava sinais o tempo todo, Leehan felizmente não podia mais ignorá-lo.

Lembranças RuidosasOnde histórias criam vida. Descubra agora