Olhos inchados e saudade (Final)

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Estava de pé na casa de um descabelado que certamente tinha acordado com o visitante e mal abria os olhos devido a claridade, mas pode ver o baixo dentro da capa e soube que precisava acordar logo.

— Desculpa o horário

— Eu e o Riwoo estrapolamos ontem, relaxa — Justificou os olhos inchados, colocando água para que Leehan pudesse beber pouco depois de recebê-lo.

Viu Taesan sumir e entrar num cômodo pequeno, se perguntou se deveria e logo o seguiu, a porta continuava aberta no fim das contas.

No banheiro ele escovava o dente e tentava arrumar o cabelo ao mesmo tempo, o que entretia os olhos inquietos do baixista.

— Aonêceu auma oia? — Perguntou de escova na boca

— Hum?

— Aconteceu alguma coisa? — Repetiu depois de cuspir pasta

“Não, mas eu precisava te ver”

— Não, na verdade eu vim pedir desculpas

— Pelo Jaehyun? Uma hora a gente se resolve

Leehan surpreso com a revelação de que tinha conversado com Myung antes do outro continuou:

— Pelo soco

— Ah — "É, tinha isso também"

— Eu descontei em quem estava mais perto, então me desculpa. — Respirou fundo — E pela música, a sua música.

Aquilo tinha chamado a atenção do Han, que agora só ajeitava o próprio cabelo rebelde, o que o deixava extremamente fofo.

— Ouvi ela cantando — Omitiu, entendendo que não era hora de falar o nome da ex em comum — foi a última coisa que eu ouvi, acho que ficou na minha cabeça. Achei que fosse dela e quando percebi eu já tinha… Pegado ela pra mim de alguma forma.

Taesan assentiu, fazia sentido. Tinha cantado inúmeras vezes ao lado dela desde a primeira vez que suspeitou da traição ele compôs como nunca antes, ao lado dela em todas as etapas.

Combinava com a voz da moça, mas agora já não tinha espaço para pensar sobre isso, agora ela já não era tão importante.

O garoto que um dia já foi dela, era.

— Acho que nós três nos sentimos abandonados, era sobre isso a letra

— Eu acho que sim, mesmo assim... Eu não sabia que vocês namoravam, mas descobri e não quis sair disso — Uma pausa o tomou uma longa respiração — é linda, a música.

— Obrigado — Agradeceu sorrindo, deixando a escova de cabelo de lado, desistindo de tentar melhor a imagem que via no espelho.

Sentiam que faltava falar de um gesto, um erro e uma interpretação levianamente equivocada (tá, equivocada pra caralho).

— Então eu ignorei tudo isso e te beijei... — Procurava Taesan no fundo dos olhos bonitos algum sinal de que aquela não foi a gota d’água.

— Logo depois de eu ter lembrado de tudo...

— Ainda bem que não foi sem você saber, pensando bem — Brincou evitando deixar o assunto pairar, com receio de deixá-lo desconfortável.

Taesan não conseguia dizer nada, tudo soava patético e o desanimava. Abriu a boca duas vezes, mas fechou logo em seguida.

— Já tomou café? Eu ia pedir algo pra comer antes de você chegar — Mentiu, descaradamente.

Doía muito, ele se esforçava tanto que dava para ver o quanto não perturbar Leehan era importante, mas ele queria ser perturbado, não queria ser a causa da agitação, só da calmaria.

Por isso precisava tomar uma atitude patética e a mais fácil para ele foi se aproximar e deitar a cabeça sobre o ombro alheio, queria ser abraçado, já que não conseguia abraçá-lo.

Com a testa ali apoiada ele sentia um cheirinho de manhã, um aconchego que quase o implorava por mais contato físico.

Taesan estava completamente imóvel, não sabia de onde ou quais as intenções dessa ação e tentava ao máximo não usá-las para se favorecer.

Leehan por outro lado se contorcia internamente, procurava em si alguma brecha que o fizesse ganhar um afago, um carinho, qualquer toque sereno daquele que queria proteger a sua frente, tal qual o Han sempre fazia consigo.

Esse que relutou muito antes de envolver o outro com os braços fazendo um carinho amigável que deixava Leehan quase chateado, como se tivesse acabado de vivenciar o mais agúdo caso de friendzone em toda sua vida.

— Leehan?

— Hum? — Perguntou quase bravo, seu tom evidenciava a rigidez da sobrancelhas quase juntas em desprezo a situação.

— O que foi?

Se afastou para ver o rosto, cada cantinho fazia seu coração bater mais rápido. O cabelo levemente arrepiado, o queixo fino, a boca controversa.

Leehan tinha um desejo nos olhos que hipnotizava o guitarrista, estavam vidrados em admirar as novas facetas que presenciavam sem culpa, já que todas elas queriam ser mostradas.

Se viu envolto no ar que rodeava sua mente a um bom tempo quando segurou na cintura dele, o puxando para um beijo.

Afoitos por mais da boca um do outro eles pareciam dançar à medida que se apoiavam em diferentes partes do corredor, a troca escalava rápido como um incêndio criminoso que os desintegrava o peito, como se as borboletas do bater de asas no estômago tivessem asas de fogo.

Até que cedo se viram entregues nos braços alheios, Taesan o segurava como se esperasse por algo impossível que ele não podia deixar se perder, tal qual sua própria palheta de ouro.

Leehan estampava na cara um sorriso bonito de orelha a orelha que agradecia pela força com que tinha sido preso após o beijo.

Se achava que tinha pensado demais sobre isso, talvez não fosse o único.

O de fios longos deixou um beijo no ombro do rapaz que não dava sinais de soltá-lo, feliz com cada segundo que se estendia naquela intimidade.

— Obrigado por me esperar — Disse, causando a separação do ato para uma breve verificação de que não estava sonhando.

Sem palavras possíveis, ele selou os lábios brevemente e mais uma vez segurando firme as bochechas do outro contra seu rosto.

O corpo de Leehan formigava ardilosamente notara a pouco que ele se arrepiava instantaneamente com um simples toque, e isso irradiava um sorriso levado em seu rosto.

Ele tinha notado ali com a mão por baixo daquele pijama o quão fina aquela cintura era, quão macia era a pele que ela escondia, quão forte precisava apertar para deixar marcas tão avermelhadas quanto o rosto daquela manhã.

Há quem dissesse que tinha conhecido a química com aqueles dois, que se tocavam como notas musicais elétricas perdidas no espaço.

No fim o que eles tinham ia muito além de simples Lembranças Ruidosas do passado, era uma sinfonia significante de uma orquestra que finalmente tinha aprendido a tocar junta.

Lembranças RuidosasOnde histórias criam vida. Descubra agora