Melodia chiclete

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Como em um flashback caótico Taesan está de cara fechada, tinha terminado a pouco com Hyewon e toda sua chateação era descontada na imagem do garoto de outro dia.

Seus pensamentos mais sãos envolviam alguns socos, mas ele não podia se deixar levar.

O pior peso que ele já tinha carregado era o da desconfiança, esperava que aquele cara de cabelos longos sumisse e levasse isso com ele, mas não iria.

Tinha pego os dois juntos pela faculdade e com a ajuda de Riwoo, ele não tinha quebrado a cara do tal baixista de nariz empinado.

Leehan era seu nome, um nome de merda.

Ele tinha levado sua garota e todo seu orgulho, tinha levado a moça que o fazia tão nervoso e feliz.

Han deveria odiá-la, mas tudo que sentia era remorso do infeliz que a tinha capturado o olhar.

Não via motivos, ele era muito mais bonito, alto e gentil que aquele canalha. Não era o suficiente?

O mais frustrante era ouvir aqueles discursos idiotas de consolação, como se um par de chifres não fosse o suficiente ainda queriam que ele se sentisse acolhido nessa festividade de infieis.

Sinceramente que foda, ele não precisava de nada além da sua guitarra. Assim ele escreveu a música que guardava com tanto receio, afinal não queria que soubessem.

Não era para verem que mesmo tanto tempo depois ele ainda juntava seus cacos do chão e tentava se convencer de que talvez só fosse a pessoa errada.

Contanto que ninguém descobrisse a melodia por ele escrita, então ele poderia demorar quanto tempo fosse, em silêncio.

Atualmente, Leehan andava furioso pelos corredores da faculdade. 

Tinha a olheira mais definida e uma leve cara de choro logo pela manhã, as pessoas que ele tinha passado a cumprimentar agora ficavam todas no vácuo. 

Seu único objetivo era encontrar Woonhak, que para sua sorte o esperava no refeitório.

— Eai! — Disse o menor se levantando com um sorriso pronto para um aperto de mão descolado.

Leehan tinha sido rápido apoiou com tudo na mesa longa entre eles, por pouco não tinha logo grudado no colarinho do menor.

— De todas as pessoas dessa merda — Ele falou finalmente revelando a voz trêmula de raiva — achei que você seria o último que me deixaria passar por isso.

— Do que você tá falando? — O tom tinha baixado imediatamente, ver quem se admira nesse estado era de assustar qualquer um.

Uma pausa foi dada, Leehan sentia falta de ar, a carga emocional impedia o ar de chegar em seus pulmões, podia cair pateticamente a qualquer momento se não tivesse sentado, como fez.

— Eu não sei como caralho isso aconteceu, a culpa é toda sua! — Disse desnorteado, se via ameaçado, perdido. Leehan mais do que ninguém sentia medo.

— Me desculpa — Pediu sem nem se perguntar o que acontecia.

— Eu estava com gente que eu sempre odiei, você nem sequer me avisou, mas que merda Woonhak — Ele sentia lágrimas chegando, o conflito de informações era incoerente, ele não fazia sentido.

Como se seu corpo fosse roubado por um mês, quando se tem o controle novamente sua vida está de ponta cabeça. 

Queria fugir, sentia que tudo estava errado, ele era incoerente ao ponto de querer anular sua existência tamanha frustração.

— Não olha mais na minha cara! — Falou embolado em um choro que ele não permitia sair de forma alguma.

Deu meia volta, saiu andando tão rápido que quase corria pelos corredores. O sentimento de que estava sendo humilhado passando tempo com Taesan não deixava sua cabeça, num mar nebuloso de pensamentos ele se perguntava se naufragaria sem se lembrar das reais intenções do rival.

Tinha que tirar a limpo essa história, foi quando recebeu uma mensagem dele, avisando sobre algo e respondendo uma mensagem do dia anterior que Leehan se lembrava de ter enviado.

Revirava o celular atrás de apagar qualquer vestígio dele, enquanto sentia seu estômago fazer o mesmo.

Não tinha avisado ninguém, mas estava de volta. Pior, como nunca esteve antes.

Naquela manhã várias pessoas tiveram certeza de que viram lágrimas deixando os olhos confusos de Woonhak, que tinha perdido seu melhor amigo para o caos.

Uma delas foi Sungho, que não tardou a ligar os pontos com o que tinha visto no outro dia. As mãos próximas, os olhares conectados, nada naquela garagem cabia mais como segredo, ele precisava avisar Taesan.

Enviou uma mensagem que dizia apenas para que o amigo verificasse Leehan, sem saber o perigo que metia o líder da banda.

Naquela tarde os dois se encontraram pela primeira vez em um tempo, sentados lado a lado na calçada, o guitarrista não media esforços para tentar trazê-lo para perto e tentar ouvir tudo o que o incomodava, já o outro fazia esforço demais para não surtar e socá-lo ali mesmo.

Se a proximidade com a garagem fazia de um deles nostálgico e acomodado, provocava no outro a repulsa nauseante de que corria perigo.

Disposto a jogar o jogo do Han, o baixista escondeu saber a verdade. Se o outro por tanto tempo soube mais do que ele sabia, não fazia sentido revelar tudo assim que se encontrassem, ele não seria justo dessa forma.

Leehan olhava praticamente mudo para o rosto do rapaz, que brilhava em deleito com a antiga inocência do outro. Um tremendo covarde.

Imerso em um monólogo sem sentido, o contato das mãos se fez, trazendo sensações completamente opostas a ambos, mas ninguém recuou.

— Só que te ver essa semana toda foi muito importante pra mim — passava o polegar pela mão alheia — por isso eu quero saber o que rolou.

Explicou ainda falando sozinho, viu o outro rir incrédulo e desviar o olhar. Talvez se o maxilar enrijecido não estivesse tampado pelo cabelo quase ressecado ele tivesse percebido melhor.

Imerso no próprio sentimento, Taesan confunde raiva com vergonha e em um gesto de coragem, puxa pra perto e beija o garoto que jurava odiar.

Lembranças RuidosasOnde histórias criam vida. Descubra agora