O perigo por trás do sorriso

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Os dias a bordo do cruzeiro continuaram, mas o ambiente leve e descontraído que sentira no início da viagem estava a desaparecer lentamente. Havia algo de inquietante no ar, algo que parecia estar a crescer por baixo da superfície das interações diárias. E, para meu desconforto, não conseguia afastar a sensação de que tudo estava relacionado com a Mila.

Depois daquela estranha aparição na praia no início da viagem, a Mila desaparecera de vista. Eu quase conseguia convencer-me de que ela não fazia parte desta viagem, mas uma intuição persistente dizia-me que ainda não tinha visto o último dela.

O meu tempo com o Dylan no quarto tornou-se mais intenso. Passávamos as noites a conversar sobre tudo e nada, partilhando segredos e memórias. A conexão entre nós era palpável, como se estivéssemos a redescobrir um ao outro. No entanto, não deixava de notar que, por vezes, ele parecia distante, com algo a pesar-lhe na mente. Quando o pressionava, ele mudava de assunto, mas uma parte de mim sabia que ele estava a esconder algo.

Certa noite, após uma dessas conversas profundas, saí do quarto para apanhar ar fresco no convés. O navio balançava suavemente, e as estrelas cintilavam no céu, criando um cenário de tranquilidade. No entanto, ao virar uma esquina, dei de caras com alguém que não esperava ver.

— Mila? — a minha voz soou mais surpresa do que queria.

Ela estava encostada à balaustrada, o seu olhar fixo no horizonte. Quando ouviu a minha voz, virou-se lentamente, e aquele sorriso enigmático — o mesmo que me deixara desconfortável na praia — surgiu nos seus lábios.

— Olá — respondeu ela, num tom que era ao mesmo tempo doce e frio. — Não sabia que estavas por aqui.

A minha mente corria, tentando encontrar uma razão lógica para a sua presença. Não havia visto Mila desde a praia, e agora ela estava ali, no cruzeiro, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— Também não sabia que vinhas — disse, tentando manter a compostura.

Ela riu-se, um som suave e quase ameaçador.

— Tenho os meus próprios planos — respondeu ela, com um tom que fazia parecer que estava a brincar, mas havia algo mais nas suas palavras, algo que me deixava desconfortável. — Este cruzeiro é tão grande... nunca sabemos com quem nos podemos cruzar.

Senti um arrepio percorrer-me a espinha. Havia algo de sinistro no seu sorriso, algo que me dizia que a sua presença ali não era apenas coincidência.

— Pois... tens razão — murmurei, sentindo uma necessidade urgente de me afastar dali.

Dei um passo para trás, pronta para sair, mas ela deu um passo à frente, bloqueando o meu caminho.

— Sabes, sempre achei fascinante como as pessoas se revelam em situações de stress — disse ela, com os olhos a fixarem-se nos meus. — E este cruzeiro... é perfeito para isso.

O meu coração batia forte no peito. Tentei manter a calma, mas a proximidade dela estava a deixar-me inquieta.

— Não sei do que estás a falar, Mila — disse, tentando parecer firme.

— Oh, claro que sabes — respondeu ela, inclinando-se ligeiramente na minha direção. — O Dylan... sempre foi um rapaz interessante, não achas?

As suas palavras fizeram com que a minha mente começasse a correr em várias direções. O que é que ela sabia? O que estava a tentar insinuar?

— Deixa-o fora disto — repliquei, mais agressiva do que pretendia.

— Tão protetora... é encantador — disse ela, com um sorriso que não alcançava os olhos. — Mas, sabes, o Dylan tem os seus próprios segredos. E, às vezes, segredos podem ser perigosos... para todos os envolvidos.

Ela afastou-se, voltando a encostar-se à balaustrada como se a nossa conversa tivesse sido uma simples troca de banalidades. Mas eu sabia que havia algo de muito mais sério em jogo. Não conseguia sacudir a sensação de que ela estava a ameaçar-me, mas as suas palavras eram tão veladas que não conseguia perceber exatamente o quê.

Voltei rapidamente para o quarto, o meu coração ainda a bater com força. Quando entrei, o Dylan estava sentado na cama, com um olhar pensativo no rosto. Assim que me viu, levantou-se.

— Está tudo bem? — perguntou ele, ao notar a minha expressão.

— Eu... vi a Mila — respondi, tentando encontrar as palavras certas. — Ela estava lá fora, e... Dylan, há algo que precisas de me dizer?

Ele ficou tenso por um momento, o seu olhar a desviar-se do meu. Parecia estar a lutar com alguma coisa dentro dele.

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