Armadilhas e revelações

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O dia seguinte amanheceu com uma tensão palpável, como se o próprio ar carregasse o peso das revelações da noite anterior. Não consegui pregar olho depois da conversa com o Dylan, e a inquietação apenas crescia dentro de mim. A presença da Mila no cruzeiro era mais do que uma simples coincidência — era uma armadilha cuidadosamente montada, e eu sabia que ela estava à espera do momento certo para nos apunhalar.

Quando saí do quarto, encontrei a Cíntia no corredor, já pronta para mais um dia de atividades. O seu sorriso habitual estava lá, mas quando me viu, o brilho nos seus olhos diminuiu.

— Está tudo bem? — perguntou ela, com a preocupação estampada no rosto. — Pareces cansada.

— Sim, só não dormi muito bem — respondi, tentando afastar o nervosismo com um sorriso forçado. Não queria preocupá-la com os meus problemas, pelo menos não antes de saber como lidar com a Mila.

Cíntia observou-me por um momento, mas decidiu não insistir. Ela sabia que, se houvesse algo importante, eu acabaria por contar-lhe. Fomos tomar o pequeno-almoço juntas, mas o meu apetite tinha desaparecido. Tudo o que conseguia pensar era no que a Mila planeava e como poderíamos evitar que ela destruísse o que eu e o Dylan estávamos a construir.

No entanto, mesmo com a ameaça iminente, o dia prosseguiu como qualquer outro no cruzeiro. As pessoas estavam animadas, desfrutando das diversas atividades a bordo. Cíntia sugeriu que fossemos à piscina para descontrair, e eu concordei, na esperança de que um pouco de normalidade me ajudasse a clarear a mente.

Quando chegámos à piscina, o ambiente era alegre, cheio de risos e conversas. Tentava focar-me em relaxar, mas não conseguia afastar a sensação de estar a ser observada. Olhei em volta várias vezes, esperando ver o rosto familiar e ameaçador da Mila, mas ela não estava ali.

Entrei na água, deixando a frescura envolver-me, e por um breve momento, senti que podia escapar da ansiedade que me perseguia. Cíntia nadava ao meu lado, e pela primeira vez em horas, consegui sorrir genuinamente.

Mas, assim que pensei que poderia relaxar, uma figura conhecida surgiu na beira da piscina. O meu coração parou por um segundo ao ver a Mila a entrar na água, com aquele sorriso enigmático e frio nos lábios. Ela parecia casual, mas eu sabia que a sua presença ali não era coincidência.

Ela nadou até perto de nós, e o seu olhar encontrou o meu com uma intensidade que me fez estremecer. Cíntia, sempre educada, cumprimentou-a com um aceno, mas a Mila mal lhe deu atenção, focando-se inteiramente em mim.

— Como estás? — perguntou ela, como se fôssemos velhas amigas.

— Bem — menti, tentando manter a minha voz firme.

— Que bom — respondeu ela, o seu sorriso a alargar-se. — Parece que estás a divertir-te.

A maneira como ela disse aquilo deixou claro que sabia o que estava a fazer. Ela estava a jogar um jogo, e eu era a sua peça principal. Cíntia observava a interação com curiosidade, mas não interveio, talvez percebendo a tensão entre nós.

— Sim, o cruzeiro tem sido... interessante — repliquei, tentando não demonstrar o quanto estava desconfortável.

Mila riu-se, um som suave que parecia ecoar na minha cabeça.

— Interessante, de facto — murmurou ela. — Sabes, este cruzeiro tem tantas surpresas. Nunca sabemos o que vamos encontrar na próxima curva.

Havia uma ameaça velada nas suas palavras, e isso deixou-me ainda mais alerta. Ela estava a jogar comigo, tentando ver até onde poderia empurrar-me antes que eu quebrasse. Mas não lhe daria essa satisfação.

Ela passou mais alguns minutos a falar com uma falsa leveza, como se estivéssemos a partilhar uma conversa inocente. No entanto, cada palavra dela estava carregada de intenções ocultas. Quando finalmente saiu da piscina, senti um alívio imediato, mas a inquietação persistia.

— O que foi aquilo? — perguntou Cíntia, quando a Mila se afastou.

— Nada de importante — menti de novo, mas desta vez Cíntia não se deixou enganar.

— Não pareceu nada — insistiu ela. — Conheço-te bem o suficiente para saber que há algo mais.

Suspirei, sabendo que não conseguiria esconder a verdade dela por muito mais tempo. Mas antes que pudesse responder, o Dylan apareceu ao nosso lado, a sua expressão sombria. Ele também notou a presença da Mila, e o seu olhar encontrou o meu com uma intensidade que dizia tudo.

— Podemos falar? — perguntou ele, ignorando a presença da Cíntia.

Ela olhou-nos, percebendo a urgência na voz dele, e assentiu, afastando-se para nos dar privacidade.

— O que aconteceu? — perguntei, já sentindo o peso das más notícias.

— A Mila... ela está a tramar alguma coisa — disse ele, a voz tensa. — Falei com o Kevin, e ele disse-me que ela tem andado a falar com algumas pessoas aqui no cruzeiro, a espalhar rumores... sobre nós.

O meu estômago revirou-se. Os boatos poderiam ser apenas o começo de algo maior, e eu sabia que ela não iria parar por aí.

— Rumores? — repeti, tentando entender a gravidade da situação.

— Ela está a contar às pessoas que... que nós temos algo a esconder. Que a nossa relação começou antes... antes de estarmos juntos aqui — explicou ele, a culpa evidente nos seus olhos. — E não vai parar por aí. Ela quer criar um escândalo, virar todos contra nós.

As palavras dele fizeram-me sentir um misto de raiva e medo. A Mila não estava apenas a jogar connosco — ela estava a tentar destruir tudo o que estávamos a construir, a criar uma rede de mentiras que poderia acabar connosco.

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⏰ Última atualização: Aug 17 ⏰

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