SÓ UMA BRINCADEIRA
— Céus, é impressão minha ou essa viagem está demorando um século? — questionou, jogando a cabeça para trás e encostando-a na poltrona.
— Bom, ao menos alguém está aproveitando — comentou Scott, olhando para Nicolas, que dormia roncando alto.
O avião seguia para o seu destino: Havaí, estado conhecido mundialmente por suas ilhas, com paisagens compostas de penhascos, cachoeiras, florestas tropicais e praias de areia dourada, vermelha, preta e até mesmo verde.
Aloha!
Scott estava sentado perto da janela, com Scarlett ao seu lado. À sua frente, também ao lado da janela, estava Nicolas, com Hannah ao seu lado. Os assentos eram dispostos frente a frente, em um voo exclusivo num avião elegante, mas não muito grande, e extremamente caro. Talvez, um desses pudesse comprar algumas dezenas de outros aviões maiores.
— O Miller seco está fazendo o melhor possível. Afinal, mesmo sendo uma viagem de um estado para outro, é demorada. Já até anoiteceu. Bom, vocês que lutem, vou tentar dormir um pouco também — concluiu Scarlett, colocando sua máscara de dormir rosa, decorada com olhos de gatinhos.
E o silêncio reinou, agora que os dois que mais falavam haviam adormecido. Não demorou muito para a loira pegar no sono. Scott continuou olhando pela janela, pouco interessado em tentar iniciar um diálogo com Hannah, que, de tempos em tempos, o fitava, curiosa. Seguiram naquele silêncio por longos minutos; nenhum dos dois parecia estar com sono ou vontade de conversar. Aquela quietude não incomodava Scott; muito pelo contrário, ele preferia assim. Já Hannah sentia-se um pouco desconfortável. Sempre esteve cercada por pessoas que falavam muito: seu pai, sua irmã e, agora, seu marido. Estar em silêncio com Scott era diferente para ela.
— S-Sem sono, Scott? — perguntou ela, após mais de trinta minutos, quebrando o gelo.
— Você é sempre assim? Ou melhor — ele virou o rosto em direção a ela —, desde quando?
— Eu não... e-entendi... — Desviou o olhar, envergonhada.
— Assim, estranha. Vive gaguejando no início de cada frase, fica sem graça por qualquer coisa boba — ela tentou se explicar, mas ele a interrompeu: — Já sei. Insegurança, medo, desconforto, e outras coisas, talvez.
— Por q-que eu...?
— Insegurança, não sabe se deve falar ou não, hesita, e isso afeta diretamente o início da fala. Desconforto, talvez não goste de estar perto de algumas pessoas, ou queira estar a sós só com uma delas. Medo, de não ser aceita, de ser odiada pelo que você é, ou pelo que diz. Medo de ser sempre a inútil na empresa do papai, de se apegar a alguém...
— Chega — disse ela, repentinamente, deixando de gaguejar. Sua voz estava séria ao interromper Scott. Ela fechou os olhos e abaixou a cabeça. — Vou lhe dizer uma coisa. Eu esperei muito tempo por este momento, e quero que seja muito especial. Não vai ser você, nem ninguém, que vai estragá-lo.
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Nosso Segredinho
Ficción GeneralNew Bordeaux, Estados Unidos, 2012. A história envolve Nicolas Miller e Scott Collins, o CEO de suas respectivas companhias, rivais há décadas, que acabam descobrindo um sentimento singular um pelo outro. Apesar de tentarem evitar, fugir ou correr...