O sol estava escaldante naquela tarde em Nova Primavera, e a pequena propriedade rural estava em plena atividade. Os poucos trabalhadores corriam de um lado para o outro, enquanto o calor ondulava sobre as plantações de soja. No meio do caos organizado, Irene se destacava como uma força da natureza, comandando os empregados com a autoridade de quem conhece cada palmo de terra. Vestida em calças jeans justas, uma blusa branca e um lenço de seda vermelho amarrado no pescoço que contrastava com sua pele dourada pelo sol, ela era uma visão poderosa e inconfundível.
Os olhos da mulher passeavam pela modesta plantação de soja que ela e o marido mantinham com muito esforço. Com as duas mãos na cintura, suspirou ao se lembrar de seu casamento com Ademir La Selva.
Fechou os olhos momentaneamente e se perguntou até quando iria aceitar permanecer em um matrimônio falido como o seu. Seu corpo inteiro queimava, implorando para ser amada, entretanto, dia após dia era rejeitada pelo marido.
Buscava descarregar a enorme energia acumulada se envolvendo com as plantações e negócios da propriedade. Abriu os olhos novamente e se deparou com uma figura masculina conhecida.
A imagem a fez revirar os olhos, ele era a última pessoa que gostaria de ver naquele momento.
Virou-se de costas e tratou de ignorar a presença do cunhado. Algo lhe dizia que os olhos dele seguiam cada passo seu.
⁃ Vai mesmo fingir que não me viu? - A voz dura ecoou pelos pés de soja.
Ela cessou seu andar ao escutar o questionamento. Um sorriso de escárnio se formou em seus lábios ao prever o que estava por vir. Virou-se e o encarou com olhos desafiantes.
⁃ Vou. - Soltou, com a postura irretocável, as mãos na cintura e o queixo erguido.
⁃ Você acha mesmo que pode interferir nos meus negócios e sair ilesa? - Questionou se aproximando ameaçadoramente, uma mão nervosa sob o bigode branco.
Algo dentro dela estremeceu com a proximidade imponente dele.
⁃ Ah, é? Vai fazer o que? Mandar me matar? Que nem você faz com todo mundo que atravessa seu caminho? - Perguntou com desdém.
⁃ Vontade não me falta. Seria menos uma messalina na terra. - Declarou, encarando como as malditas covinhas surgiam em meio ao sorriso desconsiderado dela.
⁃ Aí, aí, Antônio La Selva. - Ela riu levantando uma das mãos com incredulidade diante da declaração de ódio dele. - Você e esse seu costume de tentar me atingir usando o meu passado. Nunca funcionou e não vai ser agora, querido. - Retrucou, farta do desprezo dele que a atormentava durante os últimos 15 anos.
De pronto, seus pensamentos divagaram sobre todos os desafios que havia enfrentado até os dias atuais. A morte da mãe, o desprezo do pai que a vendeu aos 17 anos para um homem qualquer para pagar dívidas de bebida. Sua fulga e como havia ido parar no bar da Cândida, as noites asquerosas satisfazendo homens em troca de migalhas para quem sabe um dia, conseguir sair daquele lugar e recomeçar sua vida.
Irene não havia se casado por amor. Se casou por Daniel, por uma vida melhor. Seus encontros com Ademir lhe renderam inesperadamente uma gravidez. O homem prontamente fez questão de lhe jogar na cara que aquele filho não era dele.
Ela passou os primeiros três meses de gravidez angustiada, mas com a certeza de que aquela criança viria ao mundo e que juntos, prosseguiriam.
Naqueles dias, em uma noite que ela nunca esqueceria, Ademir invadiu seu quarto alcoolizado exigindo que ela abortasse o bebê. A discussão foi calorosa, ela se negou veementemente. Ele a pegou com firmeza pelos braços e a sacudiu, soltando-a em seguida bruscamente.
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O idiota do meu cunhado
RomanceE se tudo tivesse acontecido diferente? Irene casou-se com Ademir, melhorou de vida, teve seu amado filho e ganhou de presente uma pedra em seu sapato. Seu cunhado, Antônio La Selva. Entre a raiva e o ódio, há um desejo proibido. Teria ela se casad...