old legends never die

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Hongjoong respirou fundo antes de empurrar a pesada porta de metal do necrotério, sentindo o peso do chamado pressionando seus ombros como uma maldição correndo pelas suas veias, lembrando-o que era hora do trabalho ser feito.

O ar estava saturado com o odor penetrante do desinfetante, atingindo seu olfato como uma lâmina afiada e misturado ao leve cheiro de decomposição, parecia como sussurro macabro da presença incessante da morte. As luzes fluorescentes oscilando no teto lançavam um brilho sombrio e gelado sobre os azulejos brancos impecáveis, uma espécie de ironia cruel que contrastava com o propósito sombrio do lugar. Cada lâmpada cintilava com o sopro do vento, como estrelas artificiais num céu estéril, enquanto o corredor se estendia diante dele como um túnel interminável, a única porta presente no fim da luz.

Hongjoong avançou, seus passos ecoando como batidas de um coração de ferro, ressoando pelas paredes nuas e frias. O silêncio sepulcral era absoluto, como um véu pesado que sufocava qualquer vestígio de vida, onde nem mesmo os mortos, esperando ali ousavam quebrar a quietude opressiva. Ele sentiu-se observado por olhos invisíveis enquanto percorria o corredor, espectros de memórias e almas perdidas que espreitavam das sombras, esperando para reclamar o próximo incauto que cruzasse seu caminho.

Ao virar a esquina, ele encontrou o refeitório, onde os corpos recém-chegados eram preparados para autópsia. Uma figura estava parada próximo a uma das mesas de metal, ao lado de um cadáver exposto e pronto para ser examinado. Ele era baixo, quase da mesma altura de Hongjoong, usava um casaco pesado para suportar o frio da cidade e do freezer do necrotério, e apesar da postura firme e defensiva, Hongjoong conhecia muito além do olhar incisivo e sério.

ㅡ Você demorou, ㅡ disse o ele, sua voz baixa.

ㅡ Meu irmão precisou de mim. ㅡ Hongjoong não deu detalhes. O outro homem não precisava questionar.

Hongjoong se proximou da mesa de aço inoxidável onde repousava um corpo coberto por um lençol branco. Um calafrio percorreu sua espinha quando Jongho puxou o lençol, revelando o rosto pálido e imóvel da vítima. A autópsia provavelmente não tinha sido feita já que o cadáver estava intacto e fora do saco preto do necrotério.

ㅡ Este é o quinto caso em dois meses, ㅡ explicou Jongho, apontando para as marcas estranhas no pescoço do cadáver. ㅡ Todos com essas mesmas marcas, mas sem sinais de luta ou ataque animal como a polícia reportou.

ㅡ Outro ataque animal? ㅡ um aceno. ㅡ Onde esse foi encontrado?

ㅡ Perto da fronteira. A alguns quilômetros da onde o outro foi encontrado.

Hongjoong murmurou em concordância e inclinou-se para examinar as marcas mais de perto, o coração batendo descompassado. Ele não estava acostumado com esse tipo de caso onde investigação precisava ser feita. Desde que Jongho havia pedido sua ajuda e eles haviam mergulhado nos relatórios da polícia e laudos médicos, tudo indicava que aquelas mortes estranhas se encaixavam perfeitamente com o tipo de trabalho que eles faziam. Porque as marcas não eram simples contusões de um ataque animal. Hongjoong sabia reconhecer mordidas reais desde o nove anos, mas aquelas cicatrizes, para olhos comuns poderiam ser confundidas por marcas de algum urso ou coiote, mas Hongjoong sabia melhor. Aquelas cicatrizes eram símbolos. Ele reconheceu imediatamente algumas das escrituras  e a familiaridade de alguns escritos de antigos grimórios que havia estudado recentemente. Uma sensação de pavor misturada com uma estranha fascinação tomou conta dele.

ㅡ Não são só marcas, ㅡ Hongjoong murmurou, mais para si mesmo do que para Jongho. ㅡ São runas...

ㅡ Runas? Que tipo de runas?

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