fate

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A primeira coisa que San notou quando pisou na floresta foi o cheiro de dentes de leão. Não foi do sangue que cercava o ar nos últimos quilômetros percorridos ou cheiro ocre de morte ou a sensação estranha de que algo muito sombrio tinha tocado as árvores e queimado o chão com seu rastro. E ele não sabia que dentes de leão tinham um cheiro próprio, flores quase nunca chamavam sua atenção mas havia algo na presença daquela espécie que fisgava sua mente envelhecida. San ignorou a sensação e tentou focar no real problema ali.

Havia um corpo na floresta completamente dilacerado e drenado.

O pequeno grupo que se reuniu para averiguar se juntou ao redor da cena horripilante e San se uniu a eles, seu rosto se torcendo em desprazer. Nem mesmo os monstros que ele conhecia que andavam pela terra eram capazes de deixar alguém daquela forma. Seonghwa, que liderava o grupo, se abaixou até alcançar o rosto ensanguentado da mulher e com uma delicadeza reverente retirou os fios enroscados no sangue do rosto dela. No lugar dos olhos, orbes negras os encararam com buracos profundos. Sua boca pairava aberta e congelada em um grito silencioso. Seu corpo estava frio, assim como o ar ao redor deles. Frio e quieto.

ㅡ Está muito quieto. ㅡ Yeosang observou. San ergueu o olhar para o bruxo, que se manteve de pé olhando ao redor. Ele se inclinou até tocar o casco de uma árvore. ㅡ Não sinto nada.

ㅡ O que isso significa?

ㅡ Eu não sei. ㅡ ele respondeu, baixinho. Uma expressão de preocupação estava congelada no olhar do bruxo e ele praguejou quando recuou do grupo para observar se havia algo a mais fora do lugar. San olhou para o senhor Song que entendeu o pedido e seguiu o bruxo. Não era seguro andar pela floresta sozinho se havia algo drenando vidas à solta.

ㅡ O que você acha, Seonghwa? ㅡ Yunho perguntou depois que os três ficaram sozinhos.

ㅡ Yeosang tem razão. ㅡ o vampiro replicou, se levantando depois de dar uma boa olhada no cadáver. ㅡ Se essa lenda for verdadeira, essa coisa está reunindo sacrifícios para um ritual. Humanos, Vampiros e Lobos. Nós formamos uma tríade entre sobrenatural e humanidade, como uma evolução e essa coisa está um passo à frente. Precisamos detê-la antes que mais alguém se machuque.

ㅡ Mas… Como?

ㅡ Ainda não sei. Precisamos esperar até que Yeosang possa se comunicar com o outro bruxo, até lá vamos tomar cuidado. Vou conservar com o xerife, pedir que ele aconselhe a todos a ficarem longe da floresta por enquanto. 

ㅡ Ficar longe da floresta? ㅡ San indagou, sua mente correndo com pensamentos.

ㅡ É, todas as mortes foram dentro dela ou nas proximidades. Essa coisa está aqui.

ㅡ Mas, ㅡ Yunho olhou para Seonghwa com o cenho franzido. ㅡ os lobos vivem com seus quintais na floresta.

ㅡ Eles vão precisar sair. ㅡ Seonghwa devolveu, sem hesitar.

ㅡ Mingi não vai gostar disso. ㅡ Yunho retrucou, sério.

ㅡ Ele não precisa gostar. E não temos outra escolha. Não sabemos o que é isso e nem como nos defender.

Yunho estava prestes a retrucar quando Yeosang e o Song voltaram, ambos com os semblantes sérios e pálidos. San observou as duas criaturas que tinham mais conexão com a natureza do que os três imortais de pé ali. Seonghwa e Yunho eram anti-naturais e provavelmente não sentiam os espíritos selvagens como Yeosang e o senhor Kahee, por isso eles pareciam tão abatidos com aquele vazio entre as árvores e o vento.

ㅡ Kahee ligou para o xerife, eles estão a caminho. ㅡ Yeosang avisou, abraçando seu corpo quando uma brisa fria correu entre eles. E, para provar que nenhum sussurro das árvores era ouvido, nem as folhas mortas ao redor da área onde estavam ousou se mover.

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