CURSED, LOVED & DEAD

CAPÍTULO 04: Entre o medo e o véu

Dias haviam se arrastado com uma lentidão cruel desde o último confronto que mudara o curso de sua vida. Astoria deitava-se em sua cama, seus lençóis amassados ao seu redor, testemunhas silenciosas de sua inquietação. A escuridão da noite envolvia seu quarto como um manto opressor, intensificando o turbilhão de pensamentos que a mantinham acordada.

O frio que emanava da janela entreaberta parecia penentrar seus ossos. Astoria puxou a coberta até o queixo, tentando se proteger do frio que não vinha apenas do clima, mas do vazio e da desesperança que pairavam sobre sua vida. Seu olhar percorria o teto, os olhos sem foco, fixos em um ponto invisível na penumbra. Cada sombra e cada rachadura no teto pareciam ter a forma de seus piores medos, uma sinfonia de incertezas que se repetia incessantemente.

A mente de Astoria estava uma tempestade de angústia e desespero. Voldemort, o próprio epitome do mal, havia triunfado na guerra. Harry Potter, o último bastião de esperança, estava morto. Sua queda haviam soado como um sino fúnebre, marcando o fim de uma era de resistência e, com isso, um novo e sombrio capítulo começara.

Mas o pior não era só isso. Sua casa, seu lar, foi invadida, transformando o refúgio que sempre conhecera em um cenário de terror e traição. Draco Malfoy, alguém que, sob qualquer circunstância, ela esperava que fosse um aliado, havia se revelado um traidor cruel. O fato de que ele havia matado seu pai a deixou em choque. A traição estava escrita em cada canto da mansão agora desolada, e a perda de seu pai se manifestava em um vazio que ecoava em cada sala.

E então, como se o universo não pudesse ser mais cruel, sua irmã, Daphne, desaparecera sem deixar rastros. A ausência dela parecia uma cruel ironia, um toque final na série de desastres que desabaram sobre suas costas. O medo de não saber onde ela estava, o medo de não saber se ela estava segura, envolvia Astoria como uma névoa densa.

Por fim, o pior golpe de todos: o casamento forçado com William, um Comensal da Morte. A ideia de ser obrigada a se unir a alguém com nove anos a mais que ela, alguém cuja lealdade ao Lorde das Trevas era estampada com uma marca infamante em seu braço, era quase insuportável. A perspectiva de passar o resto de sua vida com alguém que, à primeira vista, parecia um predador dissimulado, era uma visão aterradora. William, que havia desaparecido por quase uma semana, retornou com uma aura de predador, seus olhos brilhando com uma fome que fazia o sangue de Astoria gelar.

O comportamento de William durante seu retorno era inquietante. Ele falava com uma frieza calculada, seus olhos não refletindo nada além de um desejo insaciável e uma estranha satisfação. Suas palavras eram desconcertantes, porém longas, mergulhando em temas que pareciam ser de um mundo à parte, um mundo de intrigas e crueldades que Astoria não conseguia compreender completamente. Ele mencionava atividades e reuniões com um tom casual que só aumentava seu desconforto.

O único ponto que parecia um sopro de normalidade em meio a tudo isso era a menção de sua irmã mais nova, Alene. William havia dito que sentia falta dela e que planejava visitá-la antes do casamento. A menção de Alene, embora vagamente reconfortante, também trazia um novo nível de ansiedade. Quem seria ela? Ela seria uma pessoa tão horrível quanto Willam?

Astoria fechou os olhos com força, tentando afastar os pensamentos que a assombravam. A noite parecia interminável, uma linha de demarcação entre a normalidade perdida e um futuro que se tornava cada vez mais sombrio. Ela girava na cama, tentando encontrar uma posição confortável, mas o desconforto era implacável.

A mente de Astoria estava uma arena de batalhas internas, um lugar onde o medo e a raiva lutavam incessantemente. Cada pequena coisa, desde o som distante dos ventos lá fora até o estalo ocasional da casa, parecia amplificar a sua angústia. O peso da situação era tão opressivo que parecia que o ar ao seu redor estava se tornando cada vez mais difícil de respirar.