estranhos

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- Quer me dizer o que está acontecendo? - Ana analisa seu reflexo no espelho enquanto pergunta. 

- Não tem nada acontecendo.

- "Não tem nada acontecendo?" - Era possível sentir a ironia em sua fala. - Desde que chegamos você não trocou mais de 10 palavras comigo, com os meninos então... - Ela esperou por uma resposta. - Não vai dizer nada?

- Não há nada a ser dito, Ana. Acredita em mim. - Minto torcendo para que ela não perceba.

- Não acredito. Anda, fala.

- Bom... - Dou-me por vencida. - Nós temos... Digamos que... Um passado juntos.

- Vocês namoravam? - Seus olhos dispararam.

- Não exatamente. - Passo os dedos pelo nariz, típico sinal de nervosismo.

- Ah... - O único som presente no banheiro era a música abafada vindo de fora. - Talvez devessem conversar, não? Parecem precisar.

- Não sei. - Respondo. - É complicado.

Ela me abraçou e combinamos que eu seria mais flexível, afinal, daqui a pouco iríamos embora e esse pesadelo teria fim. Em poucos instantes, estávamos de volta àquele ambiente quente e barulhento. Eu e ele nos entreolhamos, senti o ar desaparecer de meus pulmões, o corpo fraquejar, os dedos formarem nós na tentativa - frustrada - de me concentrar em algo alternativo ao homem à minha frente.

- Vocês demoraram. - Matheus tenta quebrar o silêncio existente apenas ali.

- Mulheres gostam de conversar, vocês não entenderiam. - Brinco.

- Vocês são impossíveis de entender. - Sua fala acompanhada de uma risada foi direcionada, especificamente, a mim, fazendo com que seu amigo risse. 

Dessa vez, Ana me olhou e Matheus novamente tomou a frente:

- Se não se incomodam, eu queria levar a Ana em um outro lugar depois daqui. - Ele sorriu animado com a ideia. - Você pode ir com o Chico, Catarina? Ele está de carro. - Sugeriu.

- Não precisa se dar ao trabalho, eu peço um carro. - Digo rápida sem cogitar a possibilidade de estar dentro do mesmo carro que ele.

- Imagina, Cat. - Ainda que ele tivesse continuado, minha mente só foi capaz de gravar essa parte. Cat, Cat, Cat. Sua voz ecoava dentro de mim.

- Catarina? - Amigavelmente, Matheus me traz de volta à realidade.

- Perdão? Eu me distraí. De qualquer forma, - Me adianto. - não há necessidade, já estou acostumada com carros de aplicativo. 

- Façam como preferirem. - Matheus dá de ombros, indiferente. 

Levantamos todos e nos dirigimos ao caixa a fim de acertar nossas contas. O processo foi rápido, pois, devido ao horário, as pessoas ainda preferiam aproveitar a noite. À medida que caminhávamos em direção ao exterior, meus batimentos eram proporcionais à batida da música, rápidos, intensos. O casal se despediu de mim, posteriormente, de Francisco. Ana me desejou boa sorte e sumiu no meio dos infinitos carros presentes. E agora, éramos apenas dois estranhos tensionados.  

- Faz muito tempo, não? Desde a última vez que nos vimos. - Ele tenta puxar assunto.

- Faz muito tempo que eu te vi, você só viu a si mesmo. - Respondo secamente. 

Ele me olhou e se voltou para frente.

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⏰ Última atualização: Aug 19 ⏰

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