novos ares

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Apenas concordo com a cabeça e murmuro alguns "uhum" enquanto termino de assinar uma papelada da revista e Ana, do meu lado, fala sem parar sobre seu novo "ficante sério", como ela mesma diz.

- E depois, ele me mandou a seguinte mensagem, - Um pequeno sorriso antes de continuar. - O que acha de nos conhecermos melhor, gata? Não é muito romântico?

Meu olhar se encontra com o seu e ironicamente digo:
- Muito romântico mesmo
Com certeza, amanhã ele te pede em namoro, aproveita seu horário de almoço e faz as unhas.

- Ridícula. E, falando em horário de almoço, porque você não aproveita e tira um pouco a cabeça desse lugar? - Sugere pegando a caneta da minha mão. - Você precisa espairecer, precisa de novos ares!!

- Não preciso de nada, não, para de graça. - Tomo minha caneta de volta. - Na verdade, sabe o que eu preciso? Algumas noites bem dormidas.

- Como pode alguém da sua idade se comportar como quem tem o triplo dela? - Exclama fingindo estar chocada.

- O nome disso é responsabilidade.

- Chatice, isso sim. - Retrucou.

- Tudo certo pra amanhã? - Mudo de assunto. Eu, Ana e, eventualmente, algumas outras garotas também da empresa, tínhamos o costume de sair às sextas, as últimas do mês, a fim de recarregar as energias para os próximos 30 dias, mas era comum sermos apenas nós.

- Sobre isso... - Coça a nuca.

- Ahh, não. Você não pode desmarcar assim!!

- Não é isso, mas tem um pequeno problema, desses indiferentes. - Diz apreensiva. - Sabe o Matheus? - Se referindo ao seu possível namorado - Ele queria sair essa semana...

- Vai mesmo me trocar por ele? - Questiono, incrédula.

- Me deixa terminar. Bom, eu disse que só poderia no sábado, mas nossos horários batiam apenas na sexta. Então, achei que não fosse má ideia convidar ele pra ir conosco. - Sorri sugestiva.

- Mas é o nosso dia... - Protesto

- Amiga, vai ser legal, pra dar uma variada. Assim já podem se conhecer, você vai gostar dele.

- Talvez não seja assim tão ruim. - Dou de ombros sabendo que não poderia lutar contra.

- Ahhh, que bom. - Me abraça. - Só tem mais uma coisinha...

- Tenho até medo. O quê?

- Ele tem um amigo...

- Pode parar por aí. - Interrompo.

- Cat, o Matheus disse que ele é gente boa, e imagina só, você vai poder conhecer alguém.

- Quem disse que eu quero conhecer alguém? E por que esse menino precisa ir? Ele é filho do Matheus por acaso?

- É que eu tinha comentado, sabe? De você, que estava sozinha... Você não pode dar pra trás agora, eu já confirmei!!

- Leva outra menina, eu não vou, até porque você não tinha o direito de me expor assim. Eu já disse que não estou procurando ninguém agora, Ana!

- Catarina... - Resmunga. - Desculpa, eu só achei que sair te faria bem. Vamos, por favor, são só algumas horinhas. Você nem precisa conversar muito com ele. Além de tudo, eu vou estar lá com você. Por mim, vamos.

- Ana, não dá...

- Eu te imploro. Duas horas, nada mais. Depois a gente pode até fazer alguma outra coisa, o que você quiser. Por favor. - Sua voz é carregada de desespero, mas eu sabia que era só drama.

- O que você não me pede chorando e eu faço sorrindo?

- Eu sabia que não ia me abandonar. - Outro abraço apertado.

- Você me deve uma, várias, na verdade.

- Isso resolvemos depois, passo pra te pegar às 19h amanhã, vai bonita, Cat. - Diz antes de deixar a sala, agora silenciosa.

- É cada uma... - Murmuro. - Não pode ser tão ruim, né?


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