Narrador - 2035
Crescer num mundo normal já não é a coisa mais fácil que existe na vida, mas crescer em um mundo onde mentiras estampam as manchetes, fleshes são usados como tiros contra você e todos podem criar uma nova versão dos fatos é ainda pior.
Peter e Marjorie sabiam melhor que ninguém como é viver nesse mundo. As manchetes ainda não eram um problema muito grande visto que o garoto tinha acabado de ganhar o primeiro celular agora aos doze anos, e a garotinha de dez anos sequer tinha um celular ou tablet que pudesse ser a fonte de todas as informações catastróficas e irreais sobre sua família. Mas tem uma coisa da qual não podemos fugir mesmo que seja essa a maior vontade do ser humano, é a escola. Peter já lidava com muitos comentários maldosos por causa das matérias irreais que a mídia liberava sobre sua família, e mesmo que tenha sido instruído a não dar ouvidos ao que falassem as vezes era impossível não relembrar as palavras ditas.
O menino estava há dias mais retraído no seu canto sempre que chega da escola, mas os pais só começaram a realmente se preocupar quando ele passou a deixar de ter boa parte das interações cotidianas com a família. Marjorie começou a reclamar que o irmão mais velho não estava mais brincando com ela durante a tarde quando chegava em casa. Travis notou a distância do garoto nas atividades que os dois tinham o costume de fazer juntos. Mas Taylor não notou isso, ela notou a forma que o filho não estava contando o que acontecia no seu dia a dia, a forma como ele não buscava ela para perguntar as coisas, mas para pedir colo... Todos entenderam que tinha algo errado o incomodando.
Passava um pouco das duas da tarde, era o horário em que os quatro se juntavam para uma maratona de filmes ou uma atividade qualquer que pudessem fazer em grupo, mas Peter tinha ido para seu quarto depois do almoço e não tinha saído de lá desde então. Aquele tipo de comportamento começava a se tornar comum e o casal já começava a se questionar quanto ao que fazer para confrontar o filho mais velho.
— Princesa, o que acha de ir escolhendo um filme com o papai enquanto a mamãe vai buscar o Pet?- a cantora questionou a filha mais nova enquanto se levantava, recebendo um aceno em concordância da pequena que já não era mais tão pequena assim. — Tá bom, eu já volto.
A cantora subiu as escadas com calma, pensando em como iria questionar o comportamento do filho pré adolescente que parecia querer se distanciar da família pouco a pouco. Bateu na porta e em menos de dois segundos recebeu permissão para entrar.
— Ei, podemos conversar?- o menino assentiu timidamente enquanto a mãe adentrava seu espaço. — Quer me dizer o que aconteceu pra você ficar assim?- a mansidão na voz da mãe enquanto ela se sentava na cama do filho fez com que ele buscasse refúgio nos braços dela.
— Pessoas são idiotas.- Peter soltou em um suspiro.
— Elas estão incomodando você?
— As vezes...- murmurou.
— Quer que eu resolva isso?- os olhos azuis do mais novo buscaram refúgio nos azuis da mais velha, ele ficou em silêncio. Pensando.
— Não quero que eles falem de você por fazer isso por mim...- escondeu o rosto no pescoço da mãe, como fazia quando era pequeno. — Não quero ter que explicar...
— Tudo bem.- beijou a cabeça dele enquanto o acolhia num abraço. — Que tal uma zona livre pra extravasar? Posso te levar pra algum lugar amanhã pra você gritar ou, sei lá, xingar o vento.
— Você e o papai tem uma política family friendly sobre não xingar.
— Mas nós xingamos quando tudo fica demais, não na sua frente ou na frente da sua irmã, mas em lugares isolados onde podemos extravasar.- a loira pontuou para o menino. — E se você não contar pro seu pai, eu também não conto.
O garoto riu, escondendo o rosto contra a pele da mãe antes de se permitir voltar a olhar para ela. Um aceno com a cabeça confirmou que aqueles dois tinham planos para o dia seguinte.
— Agora vamos lá embaixo antes que sejamos obrigados a assistir 'Dois Homens e Meio' pela décima quinta vez.
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Aos que queriam, aqui está
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Not Secret Anymore - Tayvis short fic
FanfictionNem sempre o que queremos que fique enterrado, realmente fica. Muitas das vezes a sujeira só está guardada embaixo do tapete esperando para causar o caos.