MACLA
Mais uma vez, o dia parece ser o mesmo. Há tanto tempo aqui, tornei-me um pequeno fragmento de poeira, cada vez mais diminuto em uma existência infinita e sem propósito.
Que ironia, logo eu que outrora tive tantos propósitos na vida, que lutei por causas que considerava importantes, que me destaquei em meu posto e tantas vidas inspirei. Descobri da pior forma que na vida não há nada de importante, que não há objetivo nosso que realmente cause uma diferença no universo, principalmente diante de um ser cujo poder é infinito, que num estalar de dedos pode transformar toda a nossa existência em nada ou nos torturar por toda a eternidade.
A escuridão tornou-se minha companheira constante, e a vida aqui, embora dura, tornou-se a nova normalidade. As paredes úmidas e frias da caverna são tudo o que conheço agora, e a luz do sol é apenas uma lembrança distante, quase esquecida.
Parei diante de minha tenda, ciente de que o dia seria como qualquer outro, mas, da pior forma possível, eu estava enganada. Algo diferente estava acontecendo. Uma agitação incomum tomou conta do nosso pequeno refúgio. Pessoas estavam se aglomerando perto de alguém, uma pessoa a qual não consegui identificar pois estava entre o paredão de condenados em polvorosos. Os bochichos logo se espalharam pela caverna, deixando-me ainda mais confusa.
Ela olhou para a Luz, ela está livre do controle de El, diziam as vozes daqueles que corriam em sua direção. As pessoas pareciam animadas, mas eu senti um frio na espinha.
Corri e me integrei ao aglomerado, finalmente vendo Hadria de pé sobre uma pedra, ao centro daquele círculo.
— Hadria… — Chamei pelo seu nome, sempre soube que havia algo de errado com aquela garota, desde o primeiro dia. — O que está acontecendo?
Quando cheguei, notei que alguns se afastaram, dando espaço para mim. Ali, tornei-me uma espécie de líder, instintivamente apenas a minha presença influenciava muitos e minha voz se destacava em meio aos condenados. Estar na confiança deles, desenvolvia em mim um sentimento de cuidado, de preocupação com cada um, sem exceção.
— Macla! — Seus olhos brilhavam ao me ver. — Me chame de Ashara, ok? É meu nome verdadeiro, eu lembrei. — Seu sorriso parecia não caber no rosto, mas eu mantinha a feição estática e desconfiada, tentando entender o teor de tudo. — Eu olhei para a luz e lembrei, além disso, algo saiu de mim, olhe. — O objeto estranho estava na palma de sua mão, talvez aquilo tenha sido o principal motivo para tanto alvoroço. — Parece um equipamento metálico, como daquelas coisas estranhas que fabricam no Sul. Será que El usa isso para nos controlar?
Em seu tempo aqui, Hadria, ou Ashara como ela diz se chamar, me contou que veio do Leste, da cidade de Agbara, minha terra natal. Tal fato nos conectou pois não faltavam histórias para compartilharmos. Vivi em Agbara séculos antes dela, como uma pessoa não nobre que alcançou um posto elevado, já Hadria me contava sobre sua vida de princesa do alto de uma torre que em minha época não existia fora dos papéis e dos sonhos de um velho Voss, ao citar seu nome, Hadria disse ser seu antepassado.
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Vale dos Condenados
FantasyThalassar é uma nação próspera e pacífica, tudo graças ao seu governante supremo, um ser cujo rosto desconhecido e poder acima de qualquer compreensão garante que tudo sempre esteja em ordem. Àqueles que seguem lealmente as suas regras, uma vida imp...