- Por favor, deixe-me a sós - ordenei ao criado que caminhava a alguns metros de mim, segurando um guarda-sol sobre minha cabeça.
Eu percorria os jardins, logo após o término do chá, enquanto conversava com minhas damas de companhia.
- Sua Majestade tem a sorte de ter o Rei Philip como esposo. Ele é um excelente monarca, imagino como deve ser o relacionamento entre vocês - comentou lady Milla, sorrindo.
- De fato. Sou grata por tê-lo ao meu lado - respondi, ainda que não fosse uma afirmação totalmente verídica. Philip raramente se lembrava de sua condição de marido. No entanto, eu o amava e encontrava felicidade em tê-lo ao meu lado.
- Qual foi a melhor ação que ele já realizou por você, Majestade? - perguntou ela. Eu sorri, refletindo em minha mente se alguma vez ele havia feito algo por mim. Não consegui encontrar nada.
- Foram tantas que nem sei por onde começar - respondi, sentindo-me saturada com a conversa.
Ela sorriu sem graça, percebendo minha relutância em continuar.
- Em todos os meus aniversários, meu marido enfeita nossa casa com as flores que mais aprecio - comentou a mesma.
- Meu esposo me elogia constantemente, mesmo quando acabo de acordar e não estou arrumada. Ele sempre demonstra o cuidado e a atenção que tem por mim. Acredito que todas nós somos gratas por termos nossos maridos em nossas vidas - acrescentou outra.
- Senhoras, peço licença para me retirar. Perdoem-me - disse ao levantar-me e dirigir-me ao jardim, onde um criado prontamente se aproximou com um guarda-chuva. No entanto, a conversa havia me deixado sufocada de certa forma; eu precisava de espaço.
Após dispensá-lo, continuei a caminhar em direção ao bosque. Normalmente, Ross me acompanhava nessas horas de caminhada, mas naquele momento eu só queria andar sem rumo e perder-me em algum recanto do reino.
Ao chegar à margem do riacho no bosque, sentei-me.
Comecei a refletir sobre onde eu havia errado. Eu amava Philip intensamente, então por que ele não correspondia ao meu amor? Eu me esforçava diariamente por ele, por nós. Buscava ser uma rainha exemplar, uma esposa dedicada. Então, o que estaria errado?
Ele sempre alegava que era por causa de seu pai, mas eu já havia expressado inúmeras vezes que o que verdadeiramente importava era o nosso amor.
Deslizei meus pés na água, em seguida minhas pernas até a cintura, até estar completamente imersa na água gelada que arrefecia meu corpo e minha circulação sanguínea. Minha respiração tornou-se escassa e os tremores pelo meu corpo começaram a se tornar evidentes. Aquela sensação me agradou.
Olhei para o céu azul entre as copas das árvores. Mergulhei minha cabeça sob a água, até estar completamente submersa.
- O que diabos você está fazendo? - Uma voz interpelou, depois de eu ter passado alguns... segundos? Minutos? Sob a água. Emergi rapidamente.
Para minha surpresa, era o pedra no sapato, olhando-me de forma perplexa. Será que eu não podia ter um momento de paz neste reino? E ele era a última pessoa que eu queria encontrar.
- O que faz aqui? - perguntei, enxugando o excesso de água do rosto.
- E você, o que está fazendo aí?
- Não é da sua conta. - retruquei.
- Vossa Majestade possui práticas peculiares. Nadar no frio é uma espécie de aventura para ti? - ironizou ele.
Revirei os olhos, virando-lhe as costas ainda dentro d'água. Ele era insuportável, e minha aversão por ele era profunda. Sempre encontrava maneiras de me provocar ou irritar. Talvez fosse porque era o único que não seguia minhas ordens ou me bajulava.
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O coração da coroa
RomanceQuando te vi, desejei amar-te profundamente, juntos para sempre, eternamente, incessantemente, até o último suspiro, até virarmos pó. Jamais pensei que meu amor seria minha própria agonia, meu próprio algoz, a causa de minha destruição.