Visitante noturno

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Já se passavam das duas horas da manhã, Alícia não conseguia pregar os olhos, o coração batia rapidamente contra a caixa torácica, não sabia se era o pavor que lhe dominava ou o efeito da cafeína dos vários copos de café que havia ingerido para não dormir. Os fios de sua nuca se eriçaram com o barulho de batidas em sua porta, batidas contínuas, batidas leves e cuidadosas, só eram ouvidas graças ao silêncio ensurdecedor que se ambientava no pequeno apartamento. Apesar do medo que sentia, criou coragem para mover os músculos das pernas em direção à porta, confirmando pelo olho mágico que seu visitante era o mesmo ser que tem lhe atormentado nas últimas noites, olhos negros e vazios que penetravam no fundo, de sua alma. Alícia se afastou da porta com a respiração ofegante, o peito subindo e descendo rapidamente.

Um grito saiu por seus lábios quando as batidas se tornaram mais fortes e intensas, a ponto de fazer a porta tremer. Afastou-se cuidadosamente da porta, temendo que ela iria ceder à violência que lhe atingia em poucos segundos, mas, repentinamente, as batidas pararam e seu coração se acalentou minimamente. Alícia até acreditou por um momento que o tormento daquela noite havia acabado. Mas, quando menos esperava, as luzes do apartamento se desligaram repentinamente, o que arrancou mais um grito de pavor da jovem adulta.

Sua mente trabalhava de maneira frenética, tentando descobrir uma forma de fugir daquele terror, mas a única coisa que foi capaz de fazer foi tatear em meio à escuridão até chegar a seu quarto, o último lugar "seguro" que foi capaz de encontrar no apartamento. No meio do caminho, pode ouvir o som da porta de entrada sendo aberta, trazendo-lhe ainda mais desespero. Lágrimas silenciosas agora escorriam pelas bochechas de Alícia quando ela finalmente foi capaz de chegar a seu quarto e trancar a porta, onde foi capaz apenas de se encolher em um dos cantos, escondendo o rosto entre os joelhos.

- Isso não é real, isso não é real, isso não é real...

Alícia tentava dizer para sua própria mente, imaginando que fosse capaz de acabar com aquilo se dissesse a si mesma que não passava apenas de um pesadelo. Cada pelo de seu corpo se arrepiou com o rangido da porta de seu quarto sendo aberta de forma lenta, passos leves e quase imperceptíveis se tornando cada vez mais próximos do corpo frágil e encolhido de Alícia. No segundo em que levantou seu rosto, a única coisa que conseguiu fazer foi gritar.

[...]

- Acho que é o suficiente por hoje.

Hugo disse a si próprio, olhando para a tela de seu computador, ainda precisaria revisar aquele capítulo, mas nem mesmo as duas xícaras de café que havia tomado seriam capazes de lhe manter acordado, não era sua culpa se sua criatividade só despertava durante a madrugada. Sabia que seus fãs se chateariam com a morte da personagem, mas Hugo tinha o conhecimento de que aquele era o momento certo para a despedida de Alícia de sua franquia literária. Após desligar o computador e apagar todas as luzes, Hugo fechou a porta de seu escritório, pronto para uma boa noite de sono.

 Após desligar o computador e apagar todas as luzes, Hugo fechou a porta de seu escritório, pronto para uma boa noite de sono

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