Lívia acordou com uma forte dor de cabeça, não se lembrava de nada do que havia acontecido no dia anterior e muito menos como tinha parado naquela sala estranha. Parecia uma falsa imitação de uma cabana de madeira, só que extremamente alta, deveria ter no mínimo uns seis metros de altura. Lívia não se recordava de, alguma vez em sua vida, ter ido a um lugar parecido. Como qualquer pessoa normal, a jovem se dirigiu até a porta, mas antes mesmo de tentar a abrir, viu que ela estava fechada por três fechaduras, cada uma diferente da outra e o ponto mais estranho de tudo: a maçaneta da porta se encontrava a uns 6 ou 8 centímetros do chão. Porque aquela porta havia sido construída assim, ela não sabia dizer, mas queria sair o mais rápido possível daquele lugar desconhecido.
Lívia acabou dando um grito de susto quando ouviu um alto som de apito ou de trava se abrindo, ela não soube identificar. Ao fim de desconhecido som, escutou barulhos parecidos com engrenagens e correntes se movendo. Lívia não sabia identificar de onde vinha tal som, mas sabia que algum mecanismo tinha sido ativado. Só alguns segundos depois que percebeu que o teto tinha começado a descer, não tinha a menor ideia de quantos centímetros aquela coisa descia por segundo, nunca fora boa em contas daquele estilo. Como qualquer pessoa naquela situação, imaginou ela, Lívia começou a esmurrar a porta de madeira, buscando alguma resposta do lado de fora para que a tirassem dali.
— Tem alguém aí do outro lado? Abre essa porta, por favor... Me tira daqui... Tem alguém me ouvindo?
A morena deveria ter passado aqueles últimos cinco minutos tentando gritar para alguém do lado de fora, em vão, só depois que então pode perceber que havia desperdiçado seu tempo, o teto devia ter diminuído uns 25 centímetros. Não era fã daquelas coisas, mas Lívia teve uma boa percepção de que era algum tipo de escape room, talvez igual ao de Jogos Mortais? O importante é que ela precisava sair dali. Lívia começou a procurar algo, algum enigma ali e encontrou um com uma facilidade que até pensou que devia ser estúpida por não ter visto antes. Era um quebra-cabeça de empurrar peças até que uma imagem concreta se formasse, provavelmente ela devia ter perdido quase vinte minutos arrumando as peças, sempre foi horrível em enigmas. Em meio à concentração, Lívia se assustava com o som das decorações da casa sendo esmagadas pelo teto, que ainda descia de maneira lenta e ameaçadora. Com o quebra cabeça pronto, uma espécia de chave caiu no chão, para a sorte de Lívia, compatível com a primeira fechadura. 1 de 3, confere.
O próximo enigma não foi tão fácil assim de ser achado, o teto agora deveria estar a 20 centímetros de sua cabeça. Tratava-se de encontrar a ordem correta de um conjunto de livros para destravar uma pequena gaveta. E mais bons minutos foram tomados de Lívia até que ela pudesse concluir tal feito. Nesse ponto, ela já tinha que andar curvada sobre o que tinha sobrado do lugar, vários objetos de decoração jaziam destroçados ao seu redor, tendo se quebrado com a forte pressão do teto quando ele os havia alcançado. Tendo encontrado sua segunda chave, Lívia iniciou a busca pela terceira, procurou em todos os cantos que podia e nada era encontrado. Mexeu, empurrou, tocou em tudo que ainda existia ali e nada, naquele ponto ela já andava engatinhando pela sala, quase sem espaço para se mover.
Quase como uma luz no fim do túnel, Lívia avistou uma pequenina alavanca próxima ao chão, escondida atrás de um criado-mudo, que se encontrava quase todo destruído. Se indignava pelas várias vezes passadas ali sem avistar a pequena peça. Puxando a pequenina alavanca, um pedaço da parede se soltou e lá estava a tão sonhada terceira e última chave para a sua liberdade. A mulher já se arrastava pelo chão, desviando dos pedaços destroçados de móveis e decorações para ir até a porta, mas, para seu desespero, a última fechadura já havia sido completamente engolida pelo teto. Sua última gota de esperança se esvaiu e o desespero lhe tomou, as lágrimas começaram a escorrer de forma rápida por seu rosto. Lívia esmurrava o último restante que ainda existia da porta, gritando com a voz desesperada por ajuda.
— ALGUÉM ME TIRA DAQUI, PELO AMOR DE DEUS... POR FAVOR, SOCORRO.
Seu corpo sequer tinha espaço para chacoalhar em meio a seus soluços, já podia sentir o peso do teto pressionando seu corpo e lhe tomando o pouco oxigênio que possuía nos pulmões. Mas, de forma repentina, sua visão se escureceu por completo.
[...]
Lívia acordou em um pulo, ainda assustada pelo que tinha acontecido consigo. Após se acalmar da pequena crise histérica, ela pode perceber que estava em sua cama, em seu quarto, escuro devido o horário tardio, um riso tomou conta de seus lábios: era tudo um pesadelo. Com um peso a menos no peito, Lívia se levantou para ir até o banheiro, mas a porta estava trancada e sem a chave na porta, algo que já a deixou confusa, mas ela preferiu apenas ignorar aquilo e sair do quarto para usar o banheiro de fora. Quando chegou a porta, Lívia não conseguiu encontrar a maçaneta em lugar nenhum, o que a fez tatear a mão pela parede até o interruptor de luz. Seus olhos se arregalaram imediatamente quando só então, agora com a luz acesa, avistou que a porta possuía a mesmo mecanismo que a porta de seu suposto sonho e, poucos segundos depois, Lívia escutou o alto som de apito e as engrenagens vieram logo em seguida.
— Não, não, não, não, NÃO... ALGUÉM ME TIRA DAQUI.
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Vale dos Esquecidos
HorrorVale dos Esquecidos é um livro de contos de terror, suspense e mistério escritos pela autora independente M. Rios. Histórias curtas carregadas de vários aspectos que abrangem esses temas de uma forma cuidadosa e um tanto lúdica que sairam diretamen...