O2 | Uma casa de bonecas (não olhe pelas cortinas).

141 21 37
                                    

Kim Sunoo.

Já havia perdido as contas de quantas vezes eu me revirei em minha cama, no emaranhado casulo de cobertores que acabei montando, mas minha inquietação me deixava quase sem paciência. Não consegui dormir bem, e sem meus remédios então? Só um dia que os esqueci e sofria em triplo as dificuldades que já estavam presentes ali.

Esfreguei o rosto com as mãos e me olhava no espelho do banheiro, que acabei levantando já que não iria dormir mais de qualquer jeito, suspirando com a visão que eu possuía. Nada me agradava no que via. Engoli em seco e lavei o rosto para sair logo dali, depois de fazer minha rotina de higiene matinal de todos os dias. Meu corpo gritava sinais de cansaço, mas eu não podia fazer muita coisa a respeito, apenas seguir em frente com o dia.

── Bom dia também, Sr. Bibo, deve ter tido um ótimo sono. ── Disse olhando para a pelúcia largada na minha cama, a pegando com cautela para guardá-la no guarda-roupa com as outras.

Durante a parte da manhã e da noite, eu tinha bastante tempo livre, por ter as minhas aulas na parte da tarde apenas. Às vezes eram aulas online, por outras vezes íamos na universidade presencial. Mas a alguns meses que evito sair muito de casa por muito tempo, então fazia minhas aulas em casa mesmo, através do computador.

Me vesti com um moletom mais largo e quentinho, o clima era de um outono, prometia um inverno bem frio. Pus os pés em minhas pantufas fofinhas de tubarão, e caminhei tomando coragem para enfrentar mais um dia com meus pais ali, só saíam para trabalhar durante a tarde e voltavam tarde da noite, muitas vezes quase ao amanhecer.

── Finalmente levantou Sunoo, estava quase indo te chamar! São horas? ── Meu pai me “cumprimentou”, de um modo tão gentil.

── São só nove da manhã, pai, e eu já estava acordado. ── Murmurei num tom mais audível enquanto ia até os armários procurando alguma coisa pra comer ou preparar, depois de fuçar a geladeira encontrei ingredientes para uma panqueca.

Ponderei bastante sobre o café da manhã mas, mais uma vez, aceitei comigo mesmo a chance de preparar alguma coisa para tentar comer. Já não comia quase nada mesmo. Meu pai não implicou mais, estava no celular assistindo algum conteúdo de humor extremamente questionável para os direitos humanos.

Preparei com calma as panquecas e enquanto ficavam prontas, servi um suco que ainda restou na jarra em cima da mesa da cozinha, o que deu meio copo pra mim. Estava bom, numa quantidade suficiente. Tirei as panquecas da frigideira e as coloquei em um pratinho bonitinho, depois me sentei numa cadeira na outra ponta da mesa, inverso ao lado que meu pai estava.

Peguei o celular também e antes de começar a comer fui pesquisar algo para assistir, era um dos meios que me ajudava na hora de tentar me alimentar. Minha mente estava em branco até que me lembrei de algo: do desenho que assisti com Riki, Moranguinho, e então por ter pegado gosto e ser algo que ele também gostava, coloquei para assistir com um dos fones no ouvido.

Não tive mais contato com meu pai naquele café da manhã por um tempo considerável, já que ambos estávamos mais focados em comer e assistir alguma coisa. O aroma forte do seu café que eu não gostava era inebriante às minhas narinas, colocando uma garfada das panquecas na boca quando senti, para afastar o cheiro. Curiosamente o desenho me manteve bem distraído, a ponto de conseguir comer um pouco mais em cada garfada e gole de suco, apesar de demorar consideravelmente entre cada uma delas.

Estava em um desses intervalos quando ouvi o barulho da porta da sala abrindo e logo em seguida fechando, noticiando a chegada de minha mãe, que nestas horas deve ter saído para repor parte da compra das comidas, ela trabalhava junto de meu pai como empresários e chefes de uma agência famosa de modelos, por vezes passavam noites fora cuidando de muita burocracia e treinamentos.

Almas Em Conexão | SunKiOnde histórias criam vida. Descubra agora